Zito, mais que um gerente, o comandante de um exército de vencedores 

José Ely Miranda, o Zito nasceu numa segunda-feira, dia 8 de agosto de 1932, época em que a Revolução Constitucionalista de São Paulo, vivia o seu esplendor em terras próximas ao Vale do Paraíba.  

E foi em Roseira que era na ocasião um distrito pertencente à cidade de Aparecida, no interior paulista, que ele veio ao mundo, filho de Joaquim Miranda e de dona Jandira Miranda. 

Na infância era chamado de “Joselito”, por amigos e familiares, com o passar dos anos recebeu o apelido de Zito, período em que trabalhava com seu pai no armazém da família. Jogando nas equipes amadoras da região do Vale do Paraíba, com apenas 15 anos, Zito já fazia sucesso nas equipes do Esporte Clube Roseiro e do Estudiantes de Pindamonhangaba. 

Em Pinda ele formou antes de ser contratado pelo Taubaté, na equipe do São Paulo em 1950. No popular “Burro da Central” sua fama de médio-volante e também como zagueiro ia aos poucos ganhando adeptos e simpatizantes entre os torcedores locais. 

Segundo alguns antigos jornalistas que faziam a cobertura do Santos na época, o clube praiano tinha interesse no meio-campista Hugo, no entanto a diretoria do Taubaté só aceitava negociar o seu jogador se o time da Baixada Santista aceitasse incluir na negociação o seu atleta Zito. 

Outros jornalistas comentam que Zito chegou à icônica Vila Belmiro por indicação de um delegado de Policia de Taubaté, que admirava o seu futebol e o indicou para o Santos, seu apelido Manecão. 

Em junho de 1952, os dois jogadores deixaram o Vale do Paraíba e chegaram ao Santos, Hugo estreou primeiro na vitória diante do São Paulo, no Pacaembu por 1 a 0, com gol de Alemão, o técnico interino nessa partida foi Luiz Alonso Perez, o Lula que substituía Aymoré Moreira. 

Já seu ex-colega de time no interior, Zito fazia sua primeira apresentação com a camisa do Alvinegro no dia 29 de junho daquele remoto ano, diante do Madureira, na Vila Belmiro, em um amistoso vencido pelo Peixe pelo placar de 3 a 1, com gols de Hugo (2) e Tite. 

O Peixe dirigido por Aymoré Moreira que nas duas partidas anteriores esteve ausente, pois servia a Seleção Paulista formou com: Manga; Hélvio e Pascoal; Nenê, Formiga e Zito; Cento e Nove, Antoninho, Nicácio, Hugo (Alemão) Tite. 

Era o começo de uma das mais lindas histórias no futebol brasileiro, Zito que pelo seu empenho dentro das quatro linhas se tornaria o capitão da equipe e ganharia o apelido de “Gerente da Vila”, um líder nato que não gostava de perder em nada, nem em partidas de “palitinhos” diziam os amigos. 

E foi com o craque que despontava na jovem equipe praiana que o “Campeão da Técnica e da Disciplina”, venceu após 20 anos o seu segundo Campeonato Paulista em 1955, era o nascer de um time que na década seguinte haveria de dominar o futebol brasileiro e mundial. 

Ganhar a partida não era só o seu único objetivo, ele queria que o time goleasse e também não admitia brincadeiras mesmo quando o placar já estava bem dilatado a favor do Alvinegro. Com o bicampeonato de 1956 e a chegada do garoto Pelé na icônica Vila Belmiro Zito que os colegas de equipe apelidaram de “Chulé” sentiu que o grande momento do time estava prestes a acontecer e decidiu gerenciar o grupo dando broncas até em jogadores mais experientes como Jair Rosa Pinto.  

Alguém nesse grupo dos santistas que não respondia aos gritos do capitão Zito era Pelé que escutava calado as broncas do “Gerente”. O exigente médio-volante que se consagrou vestindo a camisa 5 do Alvinegro, gritava como incentivo ao companheiro de equipe, o camisa 10 mais famoso do mundo: “Chega de palhaçadas criolo. Vamos jogar sério esse negócio aqui. Não quero saber de quanto estamos ganhando!”. 

Zito, foi quem ajudou o Santos a conquistar o mundo e se tornar um dos melhores times de futebol em todo o Planeta Terra, na Seleção Brasileira ganhou as Copas do Mundo, em 1958 e 1962, esteve também na Copa do Mundo na Inglaterra. 

Com o correr dos anos e já sentindo o peso da idade, o grande capitão decidiu encerrar a carreira e se despediu no dia 7 de novembro de 1967, na goleada no Ceará frente a um combinado Ferroviário/Fortaleza, na vitória pelo placar de5 a 0. 

Nessa jornada de despedida Zito foi substituído por Negreiros, mas quem o sucedeu em definitivo honrando a posição de guardião da defesa santista foi o seu herdeiro não só no Santos como também na Seleção Brasileira, o jovem Clodoaldo Tavares Santana. 

Entre os anos de 1952 e 1967, Zito jogou pelo Peixe 733 partidas e marcou 57 gols, é o 3º jogador que mais vezes vestiu o uniforme do Alvinegro em toda sua centenária história. Pela Seleção jogou 50 partidas e marcou 3 gols. 

No Alvinegro Praiano, o grande líder e capitão conquistou os seguintes títulos:
Campeão Mundial nos anos de 1962/1963
Campeão Sul-americano nos ano de 1962/1963
Campeão Brasileiro nos anos de 1961 a 1965
Campeão do Torneio Rio-São Paulo nos anos de 1959/1963/1964 e 1966
Campeão Paulista nos anos de 1955/1956/1960/1961/1962/1964/1965 e 1967 

O brilhante jornalista De Vaney, o Pena de Ouro da Literatura Esportiva Brasileira, escreveu que: “Zito, não existe agora e ninguém sabe quando aparecerá um estimulador de time, um transmissor de ânimo, um orientador tão hábil e tão energético, um comunicador de tão absoluto equilíbrio”. 

Fora dos gramados participou ativamente da diretoria presidida por Rubens Quintas Ovalle, no cargo de vice-presidente de futebol e foi ele com na administração que o Santos voltou ao topo do futebol paulista vencendo o torneio regional de 1978, com o famoso time dos “Meninos da Vila”. 

Nas gestões do presidente Marcelo Teixeira durante os anos de 2000 a 2009, ele foi um dos responsáveis pela vinda do garoto Neymar para o Santos quando o futuro craque tinha apenas 11 anos de idade e jogava futebol de campo na Portuguesa Santista e futsal no Gremetal. Zito criou a categoria sub-11 que não existia no clube para poder ter o garoto na Vila Belmiro. 

Uma das homenagens que muito o emocionou foi ter recebido da prefeitura de Pindamonhangaba, cidade vizinha a sua Roseira, no Vale do Paraíba, a honra de se perpetuar na história local com seu nome no Centro Esportivo José Ely de Miranda Homenagem justa e merecida ao grande jogador que é eterno na lembrança dos torcedores do Alvinegro da Vila Belmiro. 

Zito, o Deus da Raça Santista que na camisa santista tem hoje a braçadeira de capitão com a letra Z foi a óbito em um domingo dia 14 de junho de 2015, em Santos vítima de um acidente vascular cerebral, o eterno ídolo santista estava com 82 anos. 

O velório realizado no Memorial Necrópole Ecumênica, no bairro do Marapé, em Santos recebeu a presença de muitos admiradores, bem como ex-dirigentes e ex-jogadores não só de sua época como de períodos recentes.  

Após o velório o corpo seguiu para Roseira, onde foi sepultado. O clube em sua homenagem decretou luto por 7 dias. 

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