Raul Estevan, do Centro de Memória
No dia 8 de maio de 2016, numa Vila Belmiro pulsante, o Santos Futebol Clube vencia o Campeonato Paulista e incendiava os corações alvinegros. No vigésimo segundo título de sua história, o clube praiano já se destacava como certo de vitória, sob a liderança de Ricardo Oliveira, experiência de Renato e a ousadia da juventude de Gabriel Barbosa. Um roteiro clássico das histórias alvinegras.
Nos anos anteriores, o Santos havia vencido sete de onze títulos disputados no estadual. Com uma hegemonia dessas, era comum as pessoas esperarem pelo favorito na disputa, como uma marca registrada de nosso estadual. Para alguns, a “quarta força”; mas o fato era um só: batia ano após ano em todos os times da capital até os últimos minutos de campeonato. Dominante e independente, o time do litoral estava lá de novo.
Com a melhor campanha na fase de grupos, o Santos chegava para a segunda fase do campeonato de cabeça bem erguida. Foram nove vitórias, cinco empates e apenas uma derrota nos 15 jogos da primeira fase, somando um total de 32 pontos. Já nas quartas, o clube praiano precisava vencer o segundo colocado de seu grupo, o São Bento. O confronto aconteceu dois dias depois de nosso aniversário, na Vila Belmiro. Não deu outra, 2 a 0 para o campeão.
A semifinal também aconteceu em solo santista, mas o enredo foi outro. O Santos não havia perdido nenhum clássico até o momento, e então enfrentava o rival Palmeiras para chegar à final. Antes do término do primeiro tempo, o placar era alvinegro, com um gol de Gabriel Barbosa. Tudo se encaminhava para um resultado garantido com o segundo gol da ‘cria’ da casa, e ainda zero para o time de verde. Foi somente no final da segunda etapa, com dois gols de Rafael Marques, que a maré mudaria.
Com o empate, os dois times disputariam nos pênaltis a decisão. À época, todo santista sofria com a tenebrosa final na Copa do Brasil, amargando um vice-campeonato nos pênaltis contra o Palmeiras. E poucos meses depois, lá estávamos nós novamente. Dessa vez havia de ser diferente — e assim foi. Começamos atrás nas cobranças, mas logo buscamos. Marcamos todos na sequência, enquanto três cobranças foram desperdiçadas do outro lado. Com uma bola isolada na cobrança do goleiro palmeirense, a vingança alvinegra então estava concretizada.
Enquanto isso, do outro lado da chave, nosso adversário finalista Grêmio Osasco Audax embalava vitórias grandes. Nas quartas goleou o São Paulo, pelo placar de 4 a 1. Enfrentou em sequência o Corinthians, e venceu nos pênaltis. Se engana quem pensa que o time de Fernando Diniz não era páreo à altura do Peixe; o jovem e excêntrico treinador construiu, em pouco tempo, um adversário forte e candidato ao título paulista.
No domingo de final, entraram os jogadores santistas em campo com as camisetas estampando os nomes de suas mães. Após um empate por 1 a 1 em Osasco, os dois times se encontraram no alçapão para a decisão. Ao apitar do árbitro Raphael Claus, o confronto se iniciava. As 16.018 pessoas presentes marcavam o recorde de público nos últimos anos, e os cantos eram fortes como nunca. O início da partida foi com tensão, com o time da capital dominando a maior parte do primeiro tempo. Porém, no final da etapa, uma estrela brilhou.
Ricardo Oliveira, em um chute por baixo das pernas de Sidão, arrematava a bola no gol da arquibancada José de Alencar. Havia algo de predestinado nos passos do artilheiro. Era ato dos céus, ou talento de craque. O pastor talvez acredite na primeira — os céticos, na segunda. Para o santista, tanto faz. Na tarde do camisa nove, nada poderia pará-lo. Marcou, foi para os braços das dezesseis mil pessoas, se ajoelhou e agradeceu aos céus. Aos 44 minutos do primeiro tempo, a Vila Belmiro retumbava mais uma vez.
Com tudo resolvido, o Santos levantava seu vigésimo segundo paulista e último título. Oito anos após a conquista, as boas memórias ainda ficam. Hoje, esse triunfo tem sabor melancólico, com os anos parecendo passar cada vez mais rápido. Mas o tempo nos faz forte. Sempre fez. E ao ressurgir de nosso time, 2016 será só mais um título. Até lá, seguimos pela reconstrução. Buscando o futuro, celebrando o passado e lutando pelo presente.