Urbano Villela Caldeira Filho, ilustre filho santista

Por Guilherme Guarche, Centro de Memória 

Florianópolis, “cidade de Floriano”, que até 1894 se chamava Desterro, foi o berço natal do maior abnegado que teve o Santos até os dias atuais. Urbano Villela Caldeira Filho nascido na capital de Santa Catarina, no dia 6 de setembro de 1890, era filho de Celina Faria Caldeira e Urbano Villela Caldeira.

Sua ligação com o Alvinegro Praiano teve início no dia 27 de janeiro de 1913 quando então se filiou ao clube pelo qual daria o seu amor e toda sua história pela equipe do bairro da Vila Belmiro.

Aos 21 anos de idade foi aprovado em um concurso público na capital paulista onde residia com seus pais e foi transferido para trabalhar na Alfândega de Santos no cargo de Escriturário. Por gostar muito de futebol, quando morava em São Paulo, Urbano defendeu algumas equipes da cidade, como o Vila Buarque, o Ypiranga e o Germânia (atual Pinheiros). 

E foi conversando com alguns jogadores que atuavam no novato time do Santos Foot-Ball Club que ele ficou sabendo da existência do time fundado no ano de 1912 e que ainda engatinhava no mundo da bola e que até a data de sua filiação ao neófito clube só tinha disputado duas partidas. 

Foi amor à primeira vista, pois o jovem catarinense, além de jogar no time praiano, também se tornou seu treinador e passou a fazer parte da diretoria então presidida por Sizino Patusca, pai de Ary e Araken Patusca e tio de Arnaldo Silveira, o “miúdo”. 

Seu cargo inicial foi o de primeiro secretário depois no decorrer dos anos chegou até a ocupar o cargo de vice-presidente. Seu melhor desempenho como técnico foi quando dirigiu a equipe que ficou conhecida em 1927 como o “time do ataque dos 100 gols” que ficou com o vice-campeonato paulista desse remoto ano.

Graças a ele o Santos não se dissolveu no ano de 1914, quando por problemas políticos entre os diretores e alguns atletas, entre eles Raymundo Marques, um dos principais fundadores do clube, deixaram a entidade e fundaram a Associação Atlética Americana. 

Urbano se empenhou na manutenção do clube aliando-se ao presidente Agnello Cícero de Oliveira e juntos estabeleceram a paz no time que já tinha o título de campeão santista de 1913. Resultado dessa união é que no ano de 1916, por indicação de Urbano Caldeira, o clube comprou o terreno no bairro da Vila Belmiro e lá construiu sua Praça de Esportes, que no ano de 1933 receberia o seu nome como uma homenagem sincera e merecida, dias após sua morte e um dia após a implantação do profissionalismo no futebol brasileiro. 

Era um dos seus hábitos prediletos aparar a grama do campo antes do Sol raiar, ao lado de vários carneiros que faziam o papel de jardineiros, mantendo a grama forte e viçosa. 

Urbano era um sujeito alto que pisava firme por onde passava, fazia da bengala e do chapéu de palheta seus parceiros inseparáveis no dia a dia. Tinha preferência pela cor branca, usava ternos de linho e sapatos também dessa cor, era uma pessoa de hábitos simples, de gestos e atitudes nobres, seu prato predileto era o popular viradinho à paulista, acompanhado de uma cerveja bem gelada. 

Solteiro e boêmio assumido, era um amante da vida noturna gostava de tocar violão ao lado dos amigos no Largo do Rosário, hoje Praça Rui Barbosa, no centro histórico de Santos. Diziam os amigos mais íntimos que o time de Vila Belmiro era sua namorada favorita. 

Folião inveterado, foi um dos fundadores do Bloco Carnavalesco Flor do Ambiente, que em decorrência de sua morte deixou de existir. Dois anos depois seus parceiros fundaram o Bloco da Bola Alvinegra e para que o Flor do Ambiente não fosse esquecido, incluíram o nome da agremiação na letra do hino do novo bloco. 

Urbano jogou como atacante e na sequência passou a jogar na zaga do Alvinegro, entre os anos de 1913 e 1918, vestindo a camisa santista em 44 ocasiões marcando apenas dois gols. 

Em solidariedade ao presidente Guilherme Gonçalves de quem era muito amigo e fiel servidor, renunciou ao cargo que ocupava na diretoria santista e foi residir na Rua João Ramalho, na praia do Gonzaguinha em São Vicente, onde veio a óbito no dia 13 de março de 1933.  

No dia 9 de janeiro de 1938 a diretoria do Peixe, presidida por José Martins, inaugurou o busto de seu primeiro patrono e determinou que esse dia fosse considerado como o “Dia de Urbano Caldeira”. Além dele, o Santos tem como patronos o eterno Rei Pelé e Modesto Roma. 

Na Estância Balneária de Praia Grande, no litoral da Baixada Santista, a prefeitura batizou de Urbano Caldeira, uma rua no bairro de Tude Bastos, justa e merecida homenagem ao maior abnegado que o Alvinegro teve até hoje. 

Na data da inauguração do busto, Araken Patusca emocionado leu o discurso abaixo: 

“Urbano!Giba! – Hoje, no teu Clube, no teu Estádio, inaugara-se a tua herma, homenagem justa e merecida pela tua obra, criando no esporte santista, paulista e brasileiro e, mesmo, sul-americano, o Campeão da Técnica e da Disciplina. 

Teu companheiro desde os mais ingratos aos mais auspiciosos momentos, sou uma prova viva das tuas atividades no seio da família Alvinegra. 

Urbano, nasci para o esporte das tuas mãos experientes e sábias; tu fizeste do menino, aos 15 anos, um esforçado entusiasta defensor das cores preto e branca. 

Orgulho-me de ter sido nas tuas mãos, na tua vida esportiva, um instrumento de algum proveito, de alguma utilidade. 

Urbano, tu me deste um nome no esporte do mundo: ARAKEN! 

Juntos, lutamos para a tua aspiração máxima “Dar a César o que é de César” se por ti nos deram o título de Campeões Paulistas de Futebol, o teu grande sonho. 

Nossos esforços variam várias vezes quase premiados, por diversos fatores independentes das nossas vontades, iguais a tua, não foram em tua vida satisfeitos. 

Mas… Urbano, o teu aluno, o teu meia esquerda, aquele a quem iniciaste no esporte, tem uma satisfação imensa, a máxima de sua vida esportiva. Aquilo que tanto almejaste em vida, foi, após tantos anos, conseguido, o teu Santos Football Club é o Campeão Paulista de 1935!

No quadro que vestia a camiseta bi-color, um único remanescente de teu futebol figurou: EU! 

Consegui para o Santos, para mim, para nós, aquilo que desde 1922 procurávamos. 

E hoje, como sempre, o mesmo Santos de Urbano, Ary, Millon, Alfredo e outros, vive no meu coração. 

Como único remanescente do esporte pátrio dos teus tempos, julgo-me no direito de transformar os planos do Santos FC na cerimônia de hoje. 

Peço-te, Urbano, com o coração transbordando de alegria, que aceites esta medalha: a medalha de Campeão Paulista de 1935, pelo Santos FC. 

É o menino que em 1922 iniciaste que tem o orgulho de oferece-la, ganha em 1935, quando já era veterano e quase afastado das lides esportivas… 

Salve Urbano! Caro Urbano! Grande Campeão!” 

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