Por Gabriel Pierin, do Centro de Memória
Na década de 1960 os campeonatos estaduais eram as competições mais cobiçadas pelos times brasileiros. Era a chave de acesso para a Taça Brasil. Somente o campeão de cada estado podia disputar e concorrer ao título brasileiro. O Santos, campeão da Taça Brasil em 1961 e 1964, também conseguiu o título paulista nesses dois anos, ambos obtidos no mesmo dia 13 de dezembro. Uma data histórica que traz grandes lembranças para a Vila Belmiro.
Quando o Santos assumiu a ponta e terminou o primeiro turno do Campeonato Paulista de 1961 na frente, foi perseguido de perto pelo Alviverde. O título só foi ligeiramente ameaçado com a derrota para o rival, por 3 a 2, em 29 de novembro, noite de quarta-feira em que o Pacaembu recebeu 60 801 torcedores. Mas foi só um susto.
Em seguida, em dois jogos na Vila Belmiro, o Santos empatou com o Corinthians por 1 a 1 e venceu o Noroeste por 4 a 2. Depois foi à Piracicaba e goleou o XV por 7 a 2, com quatro gols de Pelé, dois de Coutinho e um de Tite. Com três pontos e três vitórias de vantagem sobre o Palmeiras, bastaria um empate contra a Ferroviária, na Vila Belmiro, para assegurar o sexto título paulista.
Naquela noite de festa, 13 dezembro de 1961, o técnico Lula escalou o time para a final antecipada com Laércio, Lima, Mauro e Dalmo; Calvet e Zito; Dorval, Tite, Coutinho (Pagão), Pelé e Pepe. A boa equipe da Ferroviária, treinada por José Agnelli, jogou com Toninho, Ismael, Antoninho e Jurandir; Dudu e Rodrigues; Peixinho, Laerte, Parada (Melão), Bazzani e Beni.
O Santos criou várias oportunidades de marcar no primeiro tempo. Aos 11 minutos Pelé não desperdiçou. Depois de tabelar com Coutinho, o artilheiro recebeu a bola para chutar e vencer o goleiro Toninho. No segundo gol a dupla voltou a trocar passes até alcançar Tite livre no ataque. O ponta-esquerda aproveitou e fez Santos 2 a 0.
Na etapa complementar, Pagão fez 3 a 0 aos cinco minutos, Beni diminuiu aos 12, Pelé fez 4 a 1 aos 19, Pepe elevou para 6 a 1 aos 21 e 34 minutos e Peixinho marcou o segundo da Ferroviária aos 43 minutos.
O árbitro Stefan Valter Glans apitou o final da partida que garantiu o bicampeonato paulista para o Peixe, o sexto da sua história. O público de 23 319 torcedores compareceu ao Urbano Caldeira e proporcionou o recorde de arrecadação do estádio na época, com 2.267.850 cruzeiros.
O Santos ainda goleou o São Paulo na última rodada por 4 a 1. Assim, o campeão chegou a 53 pontos (três a mais do que o Palmeiras), marcou 113 gols e tomou 33. Pelé foi o artilheiro da equipe e da competição, com 47 gols.
A vitoriosa campanha confirmava a superioridade do Santos. O ataque do Peixe com Pelé demonstrava todo o seu poderio e fez grandes exibições. As equipes do São Paulo, Corinthians e Portuguesa de Desportos foram sempre irregulares na competição. Já o Palmeiras era a principal ameaça santista, na época.
Em 1964, o título retorna à Vila
Nessa mesma data, 13 de dezembro, três anos depois, o Santos foi, mais uma vez, Campeão Paulista. Era um domingo chuvoso, e 17 197 torcedores compareceram ao Urbano Caldeira para assistir ao jogo contra a Portuguesa, na última rodada do torneio estadual.
O técnico Lula escalou o Peixe com Gylmar, Ismael, Modesto e Lima; Zito e Haroldo; Toninho, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Aymoré Moreira dirigiu a Portuguesa de Desportos com Orlando, Jair Marinho, Ditão e Edilson; Pampolini e Wilson Silva; Almir, Dida, Henrique, Nair e Ivair.
O ano de glórias começou em janeiro. O Santos ganhou a Taça Brasil de 1963 e tornou-se Tricampeão Brasileiro. Em maio conquistou o seu terceiro Torneio Rio-São Paulo e em julho, o time Bicampeão Mundial e da Libertadores, desfalcado de suas maiores estrelas, despediu-se nas semifinais da competição continental ao ser eliminado num confronto polêmico contra o Independiente. O time argentino, disputou a final contra o Nacional e sagrou-se campeão da competição, acabando com a hegemonia brasileira e uruguaia.
Com tudo isso, o Santos se empenhou no Campeonato Paulista, certame que durou toda a segunda metade do ano, e chegou à última rodada precisando apenas de um empate para ser campeão.
A disputa do campeonato ficou entre os dois alvinegros, Santos e Corinthians. Começou no primeiro turno e prosseguiu no segundo. Em novembro, quando o campeonato caminhava para o fim, o Alvinegro Praiano chegou a ficar para trás: perdeu para o Palmeiras por 3 a 2, no Pacaembu; empatou com a Ferroviária em 0 a 0, em Araraquara e foi goleado pelo Guarani, em Campinas, por 5 a 1.
O alvinegro paulistano não aproveitou a chance e acabou perdendo dois jogos seguidos: 4 a 2 para a Portuguesa e 4 a 1 para o Palmeiras. O Santos se recuperou e descontou no Botafogo de Ribeirão Preto, massacrando o time do interior por 11 a 0. A lendária goleada contou com oito gols de Pelé. Na antepenúltima rodada Santos e Corinthians se encontraram no Pacaembu empatados na liderança. Embalado o Peixe goleou o rival por 7 a 4, com quatro gols de Pelé e três de Coutinho.
Na rodada seguinte, o Santos goleou o São Bento por 6 a 0, na Vila Belmiro, e ficou dependendo de ao menos um empate na última partida, contra a Portuguesa, também na Vila, para comemorar seu oitavo título paulista. Uma derrota e os dois times ficariam com o mesmo número de pontos, o que forçaria a realização de um jogo desempate.
Na arbitragem estava o árbitro carioca Armando Marques. Ele apitou um primeiro tempo bastante equilibrado, que terminou 0 a 0 no marcador, mas com as equipes procurando o ataque. Todos os gols ocorreram na etapa complementar.
Logo aos 8 minutos, Pepe acertou uma bomba e soltou o grito preso na garganta do torcedor. Toninho Guerreiro ampliou aos 23 e alguns santistas já começaram a comemorar. Mas a Portuguesa reagiu, e inacreditavelmente, empatou em dois minutos: aos 31 com o zagueiro Ditão e aos 32 com um gol contra de cabeça de Ismael. O time não desistiu e Pepe acertou outra pancada em cobrança de falta, fazendo o gol da vitória santista por 3 a 2.
O Santos sagrou-se campeão com 44 pontos ganhos, 20 vitórias, 95 gols a favor e saldo de 48 gols. Pelé, com 34 gols, foi o artilheiro do Paulista pela oitava vez consecutiva. Ao perder na última rodada, a Portuguesa terminou com 40 pontos, na terceira posição, pois foi superada pelo Palmeiras, com 41. O Corinthians ficou em quarto, com os mesmos 40 pontos, mas saldo de gols inferior ao da Portuguesa.ResponderEncaminhar
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