Um Tite que era mestre em futebol

Por Guilherme Guarche e Odir Cunha, do Centro de Memória
Foi numa quarta-feira, mais precisamente em 4 de junho de 1930, que nasceu na cidade de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, Augusto Vieira de Oliveira, o versátil atacante conhecido por Tite.
Ágil, técnico, Tite podia jogar tanto na ponta-esquerda, sua posição principal, como na extrema direita ou em outras posições do ataque. No Rio ele começou no Goitacaz e depois se transferiu para o Fluminense. Contratado pelo Santos em 1951, foi essencial para formar a base do time que seria bicampeão paulista em 1955/56.
O jogo de sua estreia no Santos, em 20 de maio de 1951, não foi dos mais felizes para o Alvinegro Praiano. Naquele domingo o time escalado pelo técnico Niginho foi goleado pelo Palmeiras por 6 a 2. Jogaram pelo Peixe: Robertinho, Hélvio e Expedito; Nenê, Pascoal e Ivan; Cento e Nove, Antoninho, Cilas, Odair e Tite. Os gols santistas foram de Ivan e Cilas.
Cinco dias antes desse jogo, Tite havia jogado pelo Fluminense contra o Santos, em um amistoso no Estádio de Laranjeiras, e marcado um dos gols na vitória do time carioca por 3 a 0. Na verdade, Tite era um ponta fazedor de gols e não demorou a mostrar essa característica no Santos.
Em sua quarta partida no Alvinegro, na Vila Belmiro, pelo Campeonato Paulista, ele já deixou sua marca. Fez dois gols na goleada de 5 a 1 sobre o Radium, de Mococa (os outros três foram do artilheiro Odair)
Com a camisa do Alvinegro mais famoso do mundo Tite jogou 475 partidas e marcou 151 gols nos períodos de 1951 a 1957 e de 1960 a 1963 (em 1958 e 1959 ele defendeu o Corinthians). É o décimo artilheiro na história do Santos.
A última vez em que entrou em campo para jogar pelo Peixe foi em 22 de agosto de 1963, no empate de 1 a 1 diante do Botafogo carioca, no Pacaembu, pela Copa Libertadores da América. O time jogou com Gylmar, Dalmo, Mauro, Calvet e Geraldino; Zito e Lima; Dorval, Coutinho, Pelé e Tite (depois Toninho Guerreiro).
Títulos de Tite no Santos
1955 – Campeonato Paulista.
1956 – Campeonato Paulista, Torneio Internacional da FPF, Taça San-São. e Taça dos Invictos
1960 – Campeonato Paulista, Torneio de Paris e Troféu Giallorosso.
1961 – Taça Brasil, Campeonato Paulista, Torneio Itália, Torneio de Paris, Triangular da Costa Rica e Pentagonal de Guadalajara.
1962 – Taça Libertadores da América, Mundial Interclubes, Taça Brasil e Campeonato Paulista.
1963 – Taça Libertadores da América, Mundial Interclubes, Taça Brasil e Torneio Rio-São Paulo.
Amizade com Pelé
Um dos mentores de Pelé, Tite ajudou o jovem craque dentro e fora de campo. Ele costumava formar a ala esquerda com Pelé no Santos e também estava ao seu lado no dia da estreia do futuro melhor jogador do mundo na Seleção Brasileira.
Quando Pelé substituiu o santista Del Vecchio no jogo contra a Argentina, pela Copa Rocca, em 7 de julho de 1957, no Maracanã, lá estava Tite como titular da ponta-esquerda, além de outro santista, Zito, no meio de campo. Naquele jogo o Brasil perdeu por 2 a 1, com gol de Pelé, mas no confronto seguinte com os argentinos, no Pacaembu, venceu por 2 a 0, com mais um gol de Pelé, e ganhou a taça.
Pode-se dizer que Tite, assim como Zito, deu o suporte para o Rei do Futebol nos seus primeiros tempos de Seleção Brasileira. O ponta, por sua vez, jogou três partidas e marcou um gol pela Seleção no período em que atuava no Santos.
Bem falante, com dotes musicais, foi ele quem ensinou Pelé a tocar violão. Cantor e compositor, ao encerrar a carreira nos campos Tite fez muitos shows em bares de Santos e no seu restaurante, em São Vicente.
Tio de Léo Bastos
Responsável pelo departamento de veteranos, Tite trabalhava no Santos quando o time foi campeão brasileiro de 2002. Vibrou com a campanha da equipe e, principalmente, com as jogadas da grande final, em que um dos destaques foi o incansável lateral-esquerdo Léo Bastos. Só depois, entretanto, soube que Léo era seu sobrinho:
“Eu nem sabia que ele era meu parente. Quem me avisou foi o Robert. Na verdade, a mãe do Léo contou que uma pessoa que trabalhava no Santos era tio dele, então ele entrou em contato com os jogadores e o Robert veio me avisar”, explicou Tite em uma entrevista.
Algumas pessoas comentaram que bela ala esquerda não fariam o velho craque e seu sobrinho, caso pudessem jogar no mesmo Santos. Mas o tempo, e a vida, têm os seus caprichos.
Tite, que os amigos próximos chamavam Titoca, faleceu em 26 de agosto de 2004, quatro meses antes de ver seu sobrinho ganhar mais um título brasileiro.

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