Por Guilherme Guarche e Gabriel Santana, do Centro de Memória
Esta seção de Memórias costuma lembrar um caso por dia, mas o Santos, todos sabemos é um clube tão rico em históricas de sucesso que neste 2 de fevereiro vamos recordar uma excursão inédita e invicta do Alvinegro Praiano para o Norte-Nordeste do Brasil em 1946-47; um importante título no Chile em 1965 e uma conquista pouco lembrada do Campeonato Paulista dos Segundos Quadros de 1935, mesmo ano, aliás, em que o time principal do Santos levantou pela primeira vez a taça de campeão estadual.
Comecemos pela ousada excursão liderada pelo indômito presidente santista Athiê Jorge Cury ao Norte-Nordeste do País. Exatamente em 2 de fevereiro de 1947, um domingo, o Santos vencia o Remo por 3 a 2, na última partida de uma longa viagem que deixaria o invejável retrospecto de 15 jogos, 12 vitórias e três empates, 52 gols a favor e apenas 17 contra.
O Remo foi batido com gols de Caxambu, Adolfrises e Ruy, por um time escalado assim pelo técnico Abel Picabéa: Osni, Artigas e Expedito; Nenê, Dacunto e Ayala; Zeferino, Leonaldo (Maracaí), Caxambu, Adolfrises (Canhoto) e Ruy.
Nessa epopeia, que começou em 29 de novembro de 1946, com uma vitória sobre o Am´rica, em Recife, por 3 a 1, os artilheiros santistas foram Caxambu (19 gols), Adolfrises (18), Ruy (5), Zeferino (3), Leonaldo (3), Maracai (3), Pirombá (1) e Juju, que marcou contra (1).
Muito comemorada pelos torcedores, a façanha conquistou também a imprensa esportiva, que deu ao time o epíteto de “Campeão do Norte”. Vários cronistas de Santos enalteceram o feito, entre eles o então radialista Vicente Cascione, da Rádio Clube de Santos, que assim o descreveu:
Salve, Pavilhão Alvinegro
Do Sul, deste recanto maravilhoso do Atlântico, partiu para o Norte a luzida embaixada Alvinegra com o cargo de responsabilidade de defender lá nas plagas do Norte do País o nome do futebol santista, e… por que não? Paulista! Com essa incumbência, saiu o Santos FC da nossa Santópolis com destino ao extremo norte deste imenso Brasil.
Uma vez lá, o Clube de Urbano Caldeira logo se pôs a campo para se desobrigar dos compromissos assumidos. Veio a primeira partida e com ela surgiu o primeiro triunfo. Apenas estava cumprida a primeira etapa da longa e árdua jornada que se deparava ante o gigantesco programa a ser levado a efeito. Vieram outros compromissos, outros mais, e assim sucessivamente e, o clube do “Gigante da Vila Belmiro” a tudo e a todos levou de vencido, diante da estupefação de todos, onde quer que fosse a notícia, a cada sucesso da brava rapaziada Alvinegra, que não teve o dissabor de conhecer nessa longa digressão, uma derrota sequer!
Feito notável, esse, que certamente, ficará para sempre gravado na memória de todos, mesmo daqueles que não acreditavam no êxito dessa ousada “tournée” do clube da “técnica e da disciplina”, agora sob o comando de um homem da envergadura de Athié Jorge Coury.
Salve, pois, o pavilhão Alvinegro!”.
Nunca se viu futebol assim
Dezoito anos depois, em 2 de fevereiro de l965, uma terça-feira à noite, o Santos Futebol Clube se sagrava Campeão do Torneio Hexagonal do Chile, ao vencer por 3 a 0 a Universidad do Chile, no Estádio Nacional de Santiago, com gols de Dorval, Pelé e Zito.
O time campeão jogou assim, escalado pelo técnico Lula: Laércio, Lima, Joel Camargo e Geraldino; Haroldo e Zito; Dorval (Peixinho), Mengálvio, Toninho, Pelé e Pepe (Ismael).
Para chegar a este importante título internacional o Santos venceu a Universidad Católica por 2 a 1, a Seleção da Tchecoslováquia por 6 a 4, o Colo-Colo por 3 a 2, perdeu para o River Plate por 3 a 2 e, por fim, venceu a Universidad do Chile, marcando no total 16 gols e sofrendo 10. Pelé, com seis, seguido de Dorval, com quatro, e Toninho Guerreiro, com três, foram os artilheiros santistas.
Um detalhe importante deste torneio é que o jogo contra a Seleção da Tchecoslováquia é, ainda hoje, considerado pelos cronistas chilenos como a melhor e mais espetacular partida de futebol já disputada no país. Após muitas alternativas, o jogo estava empatado em 4 a 4 aos 40 minutos do segundo, quando Pelé, em duas de suas jogadas inacreditáveis, marcou os dois últimos gols do espetáculo. No dia seguinte, um importante jornal chileno anunciava: “Em nenhum lugar do mundo se viu um futebol assim”.
Barba e cabelo em 1935
Numa época em que os segundos quadros eram quase tão importantes quanto os primeiros, em um domingo, 2 de fevereiro de 1936, o Santos venceu o Palestra Itália, atual Palmeiras, em pleno campo do Parque Antártica, na capital paulista, e se sagrou campeão do Campeonato Paulista dos Segundos Quadros de 1935 (mesmo jogado em 1936, a partida valia pelo campeonato do ano anterior).
Nesse confronto decisivo, Santos, escalado pelo técnico Salu da Bandinha, entrou em campo com Magalhães, Bompeixe e Agostinho; Figueira, Dino e Silva; Grache, Biruta, Raul, Franco II e Wilson. Biruta e Franco II marcaram para o Santos. Na primeira partida da decisão, jogada na Vila Belmiro, o Alvinegro Praiano havia vencido por 4 a 0, com dois gols de Franco, um de Biruta e um de Wilson.
Como em 1935 o Santos conquistou os títulos estaduais tanto com o primeiro, como com o segundo quadro, para seu torcedor o Alvinegro Praiano fez “barba e cabelo” naquela temporada.