Odir Cunha, do Centro de Memória
Quando o time começou a fraquejar em campo, das arquibancadas veio um grito que encheu o santista de orgulho e de força para superar os tempos difíceis. Fundada em 26 de setembro de 1969, no bairro do Brás, em São Paulo, a Torcida Jovem, primeira das organizadas do Santos e uma das maiores do Brasil, surgiu do sonho e da paixão de um grupo de garotos em que se destacavam Cosmo Damião, Almir, Alemão, China, Chacrinha, Mestre Pedrão, Magrão, Celso Jatene, Zuca, entre outros.
Uma pesquisa do IBGE em 1968 revelou que o Santos tinha a maior torcida do Brasil. Por incrível que hoje possa parecer, o contingente de brasileiros que preferiam o Peixe era superior ao dobro da soma das torcidas de Flamengo e Corinthians. Considerado o melhor time do mundo durante a década de 1960, time de Pelé de tantos astros, o Santos era a imagem de equipe vencedora e universal que atrai o amante do futebol.
Mesmo com origem na cidade de Santos, seus aficionados se espalhavam por todo o Brasil, principalmente na Grande São Paulo. Dessa forma, o surgimento da Torcida Jovem em uma cidade que não era a sede do clube não chegou a ser uma grande surpresa. A capital tinha, aproximadamente, um milhão de santistas.
Dia 28 de setembro de 1969, dois dias depois de fundada, a Jovem já comparecia ao seu primeiro jogo, um Santos e Grêmio, no Parque Antárctica, válido pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa. A primeira caravana, organizada para ver o Milésimo de Pelé, no Maracanã, em 19 de novembro daquele ano, não conseguiu lotar um ônibus. Mas Adalberto, o “Alemão”, entrou com uma bandeira enorme que chamou a atenção do público e da imprensa no maior estádio do mundo.
A ousadia daqueles garotos e a determinação de acompanhar o Santos, “onde e como” estivesse, marcaram um longo período de arquibancadas lotadas de santistas. Até o início dos anos 1980 o Alvinegro Praiano foi considerado o dono da segunda maior torcida do Estado. De um time que dez anos atrás decidia campeonatos apoiado por torcedores que mal ocupavam um cantinho do Pacaembu, os santistas passaram a superar as torcidas de São Paulo e Palmeiras, em um caso único na história do futebol.
As primazias dos torcedores santistas, liderados pela Jovem, permanecem até hoje. Nenhum outro clássico paulistano ultrapassou tantas vezes – sete – a marca de 100 mil espectadores. Os sete maiores públicos do futebol paulista ocorreram entre 1974 e 1980, e destes a torcida santista aparece cinco vezes.
O clássico paulista de maior público foi jogado em 15 de outubro de 1978, entre Santos e Palmeiras, pelo Campeonato Paulista. Naquele domingo o Morumbi recebeu 127 423 torcedores (o Santos perdeu por 2 a 0, mas no final seria o campeão paulista).
Em 16 de novembro de 1980 ocorreu o maior público da história do São Paulo. Exatos 122 535 torcedores, a maioria santistas, foram ver a partida com São Paulo 1 x 0 Santos, pela final do Campeonato Paulista de 1980.
O maior público da história da Portuguesa de Desportos também foi contra o Santos, e com 80% de santistas no estádio. Em 26 de agosto de 1973 os times empataram em 0 a 0 pela disputa do título paulista (aquele que Armando Marques errou na contagem dos pênaltis), diante de 116 568 espectadores.
Em outra marca histórica e devidamente comprovada, o recorde de público do Pacaembu foi estabelecido em 11 de dezembro de 1977, no empate de 1 a 1 entre Santos e Palmeiras, pelo Campeonato Paulista. Naquele domingo, com maioria de santistas, o velho estádio paulistano recebeu 73 532 torcedores.
Com um entusiasmo e uma capacidade de mobilização exemplares, a Torcida Jovem, à época presidida por Cosmo Damião Freitas Cid, era a certeza de um apoio essencial a cada jogo do Alvinegro Praiano. Se o peso da camisa de um time depende de sua História e de sua massa de aficionados, a Torcida Jovem, hoje também uma Escola de Samba, teve e tem um papel importante na popularização da marca Santos.