Tite o craque que cantava e encantava os torcedores do Santos

Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória 

Foi em Campos dos Goytacazes, cidade próspera localizada na região norte do Estado do Rio de Janeiro, com população de pouco mais de 500 mil habitantes, conhecida como a Capital Nacional do Petróleo e do Açúcar, que nasceu numa quarta-feira, 4 de junho de 1930, o menino que recebeu o nome de Augusto Vieira de Oliveira. 

Esse garoto geminiano se consagraria anos mais tarde no mundo do futebol com o apelido de Tite. Sua carreira teve início no estado fluminense jogando na base do Goytacazes FC. Era um ponta-esquerda muito hábil de dribles rápidos e desconcertantes e que marcava muitos gols. 

Seu desempenho e força de vontade o recomendaram ao Fluminense, onde chegou em 1947. No entanto com o passar do tempo percebeu que nas Laranjeiras não teria chances na equipe titular já que Telê Santana tinha muito prestígio no clube carioca na ponta direita, e na esquerda tinha Quintas, titular absoluto da camisa onze. 

Então, sem qualquer possibilidade na direita ou mesmo na esquerda, Tite foi aos poucos desanimando, até aparecer uma proposta salvadora do Santos maio de 1951. Sua estreia ocorreu num domingo, 20 de maio de 1951, no Pacaembu na goleada sofrida pelo Peixe pelo placar de 6 a 2. Ivan e Cilas marcaram para o Alvinegro, nessa partida válida pela Taça São Paulo. O técnico Niginho mandou à campo a seguinte formação: Robertinho, Hélvio e Expedito; Nenê, Pascoal e Ivan; Cento e Nove, Antoninho, Cilas, Odair e Tite. Curiosamente, cinco dias antes, Tite jogou pelo Fluminense no amistoso disputado no Estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, diante do Peixe que foi derrotado pelo clube carioca por 3 a 0.

Tite era um craque que tinha um ótimo toque de bola, usava mais a perna direita mesmo jogando pelo lado esquerdo, mas sempre que solicitado pelos técnicos, atuava também pela ponta-direita, sendo um jogador versátil.  

Sua forma de jogar encantou os torcedores santistas, por ser um jogador também colaborativo, ajudando na armação das jogadas como um dos primeiros pontas falsos do futebol brasileiro.  

Tite teve duas passagens pelo Santos, a primeira de 1951 a 1957, e a segunda de 1960 a 1963. Na primeira ele foi uma peça fundamental na conquista do bicampeonato paulista de 1955/56. Ganhou também os títulos do Torneio Internacional de FPF, Taça Sansão e a Taça dos Invictos de 1956. 

Sempre era convocado para defender o Selecionado Paulista e jogou na Seleção Brasileira, na Copa Roca de 1957. Nessa Copa foi testemunha ocular do primeiro gol marcado por Pelé, com a camisa da Seleção Brasileira, em 7 de julho de 1957, na derrota brasileira diante da Argentina, por 2 a 1. Enquanto atuou pelo Santos, defendeu a Seleção Brasileira em três ocasiões marcando um gol.   

Sua saída da Vila Belmiro irritou os torcedores que não o queriam de volta 

Deixou o Peixe indo jogar no arquirrival da capital paulista, irritando os torcedores santistas, que em 1960, não queriam sua volta à Vila Belmiro, mas mesmo sob protestos retornou ao Peixe.  

Sua reestreia no Alvinegro Praiano deu-se num domingo, 6 de março de 1960, no amistoso contra o Deportivo Independiente, no Estádio Atanásio Girardot, em Medelin, na Colômbia. Pelé e Urubatão fizeram os gols na vitória santista por 2 a 1. 

Nessa partida o time escalado pelo técnico Luiz Alonso Perez, o Lula, formou com Laércio, Dalmo e Getúlio; Fioti (Feijó); Urubatão e Zito; Dorval, Mário (Afonsinho), Pagão (Ney), Pelé e Pepe (Tite). 

Tite vestiu a camisa do Alvinegro nos períodos de 1951 a 1957 e de 1960 a 1963 em 472 partidas marcando 151 gols, é o décimo maior artilheiro do Peixe. 

Sua despedida pelo clube que tanto amou foi numa quinta-feira, 22 de agosto de 1963, no empate diante do Botafogo carioca em 1 a 1, no Pacaembu, pela Taça Libertadores da América. 

Além das conquistas já citadas anteriormente, Tite ganhou também os seguintes títulos: 

1960 – Campeonato Paulista, Torneio de Paris e Troféu Giallorosso. 

1961 – Campeonato Brasileiro, Campeonato Paulista, Torneio da Itália, Torneio de Paris, Triangular da Costa Rica e Pentagonal de Guadalajara.  

1962 – Taça Libertadores da América, Mundial Interclubes, Campeonato Brasileiro e Campeonato Paulista.  

1963 – Taça Libertadores da América, Mundial lnterclubes, Campeonato Brasileiro e Torneio Rio-São Paulo.  

A casa noturna em São Vicente. 

Tite, ou Titoca como era também chamado pelos amigos mais íntimos, gostava de cantar e tocar violão, nos bares da Baixada Santista. Foi ele quem ensinou nos primeiros acordes ao Rei Pelé. Na vizinha São Vicente ele foi o proprietário da casa noturna chamada de Pub, nas proximidades da Ponte Pênsil.  

Tite chegou a publicar um livro de memórias intitulado Futebol x Música. Trabalhou durante alguns anos como diretor de patrimônio do Santos e foi o responsável pela sala dos veteranos praianos situada no quarto andar do Estádio Urbano Caldeira na Vila mais famosa do mundo. 

Quando o Santos conquistou o seu oitavo título de campeão brasileiro em 2002, ele vibrou muito principalmente quando o seu sobrinho-neto, Léo Bastos marcou o terceiro gol na partida final do campeonato. O Santos foi o responsável pela aproximação dos dois parentes. 

– Eu nem sabia que o Léo era meu parente, quem me contou foi a mãe dele, em Campos, Depois disso nos tornamos grandes amigos. 

 O som do violão por ele tocado silenciou para sempre. 

Após travar uma longa luta contra o câncer de pulmão, Tite faleceu numa madrugada de quinta-feira, 26 de agosto de 2004, aos 74 anos. Seu corpo foi velado no Salão de Mármore do Santos e depois cremado no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos.  

O Peixe em reconhecimento ao grande craque que defendeu brilhantemente suas cores decretou três dias de luto e ordenou um minuto de silêncio na partida seguinte à sua morte. 

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