Só pelo Santos Pelé marcou 361 gols no Exterior

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Colaboração de Guilherme Guarche
Aos 18 anos, dois meses e 12 dias Pelé marcou seus primeiros gols pelo Santos no Exterior. Seis meses antes já tinha marcado seis gols na Copa da Suécia, mas com a camisa do Santos, fora do País, aqueles dois da vitória de 3 a 0 sobre o Sport Boys, em 4 de janeiro de 1959, foram os primeiros.
Os deuses do futebol sorriam para o Menino Rei naquele início de ano. Duas semanas antes tinha sido campeão paulista e artilheiro do campeonato estadual com a marca inalcançável de 58 gols. Maior revelação da Copa da Suécia, Pelé atraiu naquele domingo ao Estádio Nacional de Lima, um público de 37.041 espectadores. Todos queriam ver o jovem ídolo e o grande time brasileiro contra o campeão peruano de 1958.
Melhor todo o tempo, o Santos venceu por 3 a 0, com dois gols de Pelé e um de Pepe, e ainda gastou os últimos minutos tocando a bola de pé em pé, para o aplauso dos presentes. O time escalado pelo técnico Lula formou com Manga (depois Laércio), Hélvio e Dalmo; Getúlio, Ramiro (Urubatão) e Zito; Dorval, Álvaro (Afonsinho), Pagão (Guerra), Pelé e Pepe. Na arbitragem, Friedrich Ander.
Ao final da partida, sorridente como sempre, Pelé se surpreendeu com o número de fãs que tinha no Peru e com o gosto dos peruanos pelo futebol técnico e bem jogado do Santos. Naquela primeira excursão internacional que fazia com o Alvinegro Praiano pela América Latina, o futuro craque do século faria 14 jogos em um mês e meio e marcaria 23 gols, média de 1,6 gols por partida.
De 23 de maio a 5 de julho daquele ano o Santos viajaria pela primeira vez à Europa e Pelé, ainda com 18 anos, faria 22 jogos em um mês e 12 dias, marcando 38 gols. Ou seja, o time jogou uma partida a cada 1,9 dias e Pelé, mesmo obedecendo a esse roteiro estafante para qualquer mortal, alcançou a média de 1,7 gols por partida.
Percebam que na América Latina ou na Europa, enfrentando adversários de níveis diversos, muitos deles campeões locais, Pelé manteve a mesma média de gols por partida. Esses números iriam se repetir durante excursões seguidas do Santos até o final dos anos 60.
Só era “amistoso” para quem não jogava
Antes do advento do Campeonato Mundial Interclubes, em 1960, e mesmo bem depois dessa data, a medição de forças entre os principais times do mundo se dava por torneios tradicionais ou por concorridos desafios, hoje resumidos pelos desconhecedores da história como, simplesmente, “amistosos”.
Chamar Barcelona e Santos, no Camp Nou, em que o Santos goleou por 5 a 1, com dois gols de Pelé; Real Madrid e Santos, no Santiago Bernabeu, com derrota santista por 5 a 3 e um gol de Pelé; e Santos 7, Internazionale 1, em Valencia, com mais quatro gols de Pelé, de “amistosos”, é arredondar negligentemente a história do futebol. Eram esses jogos que definiam as forças do esporte mundial em 1959.
Enquanto vestiu a sagrada camisa alvinegra, Pelé marcou gols em todos os campeões mundiais de sua época, com exceção do Estudiantes, com quem o Santos só se defrontou uma vez, e com o Ajax, com quem nunca jogou. Dos campeões, a Internazionale, bicampeã mundial em 1964 e 1965, foi o time que mais sofreu gols do Rei: nada menos do que uma dezena.
Cerca de 40% dos gols de Pelé em campos estrangeiros foram marcados em duas dezenas de torneios, alguns de prestígio internacional. Várias dessas partidas, além das já citadas, estão imortalizadas nos melhores e fidedignos registros do futebol, tais como:
Goleada de 6 a 3 sobre o Benfica, bicampeão europeu, na final do Torneio de Paris de 1961, com dois gols de Pelé.
Vitórias no Torneio Itália de 1961 sobre a Juventus (2 a 0, diante de 60 mil pessoas, com um gol de Pelé), Roma (5 a 0, com 80 mil espectadores e um gol de Pelé) e Internazionale (4 a 1, com 110 mil espectadores e mais um gol de Pelé).
Goleada de 6 a 4 sobre a Seleção da Tchecoslováquia, vice-campeã mundial, pelo Torneio Hexagonal do Chile de 1965, com três gols de Pelé, dois deles considerados “de placa”. Ainda hoje jornalistas chilenos consideram essa partida e melhor já jogada no País.
Goleada de 4 a 0 sobre o Independiente, da Argentina, campeão da Copa Libertadores de 1964, na final do Torneio de Caracas de 1965. Dois gols de Pelé.
Goleada de 4 a 0 sobre o Benfica, no Torneio de Nova York de 1966, com um golaço de Pelé. O Benfica era a base da Seleção Portuguesa que um mês antes tinha vencido o Brasil por 3 a 1 na Copa da Inglaterra e terminado a competição em terceiro lugar.
Esses, e outros mais, cuja exposição poderia tornar esse artigo cansativo, como a estrondosa goleada sobre o Racing por 8 a 3, no início de 1962, em Buenos Aires, na única vez em que um campeão argentino foi goleado em seu país. Partida em que Pelé fez um gol e criou incontáveis oportunidades para si e para seus companheiros. Enfim…
Em 351 jogos, média superior a um gol por jogo
Para resumir, o incomparável Pelé, enfrentando zagueiros, arbitragens e, às vezes, torcidas hostis, jogando dia sim, dia não, sob todos os rigores do clima de todos os continentes, batendo-se contra alguns dos melhores times e melhores jogadores do mundo nos estádios destes, fez 353 partidas pelo Santos no Exterior e nelas marcou 361 gols, com média superior a um gol por jogo. Fora do Brasil comemorou duas Libertadores, um título Mundial, uma Recopa Mundial e inúmeros torneios importantes. Dá pra comparar?
Uma curiosidade: o Benfica, de Portugal, foi o time que mais vezes chegou a uma final da Liga dos Campeões da Europa na década de 1960: nada menos do que cinco, levantando a taça europeia em 1961 e 1962.
Pois bem. Nesse período o Santos, com Pelé, enfrentou o Benfica cinco vezes fora do Brasil: uma em Paris, uma em Lisboa, uma em Buenos Aires e duas em Nova York. Pois nesses jogos o Santos de Pelé não perdeu em nenhuma oportunidade e obteve quatro vitórias e um empate contra o grande europeu e Pelé marcou cinco gols, média de um por jogo. A partida em que o Rei marcou mais vezes foi justamente a única “oficial”: foram três gols na final do Mundial Interclubes de 1962, em que o Santos goleou o poderoso adversário, em Lisboa, por 5 a 2.

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