Guilherme Guarche – Centro de Memória
Naquela distante quarta-feira, 23 de dezembro de 1953, quando os moradores do bairro da Casa Verde, zona norte de São Paulo, aproveitavam a proximidade da festa natalina e curtiam os primeiros dias de verão, veio ao mundo o garoto Sérgio Bernardino, um menino que desde cedo gostava de jogar futebol na rua, e já demonstrativa muita intimidade com a bola.
Aos 16 anos fez testes para treinar na equipe da Portuguesa de Desportos e foi aprovado, mas ficou pouco tempo na Lusa do Canindé. Ajudar no sustento da família era mais útil e necessário do que jogar futebol naquele momento da vida. Ele trabalhou entregando leite.
Um ano depois participou de uma peneira no bairro e foi convidado para treinar nas equipes juvenis do São Paulo. No time do Morumbi, em 1972, foi emprestado ao Marília, time do interior Paulista e retornou ao Tricolor um ano depois. Por ser canhoto, no time interiorano atuava na ponta esquerda, e só passou a jogar como centroavante depois que o técnico José Poy decidiu que tinha porte físico para a posição.
O técnico argentino acertou na decisão. Serginho, por ser forte, com 1,92m de altura, usava seu corpanzil para proteger a bola e desferir o seu fortíssimo chute de perna esquerda.
Artilheiro dos campeonatos paulistas de 1975, com 22 gols, e de 1977, com 32, ajudou o Tricolor a ser campeão paulista em 1975, 1980 e 1981 e campeão brasileiro em 1977.
Seu desempenho o tornou titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Espanha, em 1982. Naquele ano continuou no São Paulo, chegando a 242 gols marcados e se tornando o maior artilheiro do time. No ano seguinte saiu do Tricolor para o Alvinegro Praiano.
O grande responsável pela vinda de Serginho à Vila Belmiro foi o dirigente Milton Teixeira, que além dele, trouxe outros jogadores renomados para compor o time convidado para participar do Campeonato Brasileiro de 1983.
Serginho se sentiu em casa na Vila Belmiro, pois, desde a infância nunca escondeu de ninguém que seu time do coração era o Santos. Na Vila Belmiro Serginho Chulapa tornou-se um dos maiores ídolos do Santos.
Em 1983 foi artilheiro do Campeonato Paulista e depois do Brasileiro, marcando 22 gols em ambos. Sua primeira partida com o camisa do Peixe aconteceu no dia 19 de janeiro de 1983 em um amistoso diante do América Carioca, no Estádio Urbano Caldeira.
Escalado pelo técnico Chico Formiga, o Santos jogou com Ademir Maria, Toninho Oliveira, Joãozinho, Márcio Rossini e Gilberto Sorriso; Dema, Paulo Isidoro e Pita; Camargo, Serginho Chulapa e João Paulo (Toninho Vieira). Pita e João Paulo marcaram os gols da vitória por 2 a 0.
As primeiras conquistas de Serginho Chulapa no Alvinegro, ainda em 1983, foram os torneios Vencedores da América, no Uruguai, e Cidade de Pamplona, na Espanha. No mesmo ano se destacou na campanha que levou o Santos à final e à segunda colocação no Campeonato Brasileiro.
Em 1984 ele integrou o time que conquistou o Torneio Início, promovido pela Federação Paulista de Futebol, e também trouxe para a Vila Belmiro a nova Taça dos Invictos de A Gazeta Esportiva, depois que o Santos ficou 15 partidas sem perder.
Contudo, o que nenhum torcedor santista esquece até hoje é o gol que ele marcou na final do Campeonato Paulista de 1984, contra o Corinthians, no Morumbi. O gol decidiu a vitória por 1 a 0, tornou Serginho artilheiro isolado da competição, com 16 gols, e fez com que o Santos conquistasse o seu décimo quinto título paulista. O irreverente goleador não esquece a memorável vitória: “Havia mais de 100 mil pessoas no Morumbi. A importância do jogo e a torcida do Santos dividindo o estádio com a do Corinthians fizeram tudo parecer um filme. Fizemos o gol em uma jogada muito boa do Humberto com o Zé Sérgio. Eu estava bem colocado e consegui empurrar para o gol. Nosso time foi um dos melhores que o Santos já teve. Isso ficou para a história. Além disso, não iríamos perder aquele jogo nunca. O empate era nosso, mas o gol ajudou bastante.”
Somando as quatro vezes em que defendeu o Santos – em 1983/84, 1986, 1988/89 e 1990 – Chulapa atuou em 201 partidas e marcou 105 gols, tornando-se o terceiro maior artilheiro da era pós-Pelé.
Encerrou a carreira aos 40 anos. Em 1994, a convite de Pepe, então treinador santista, virou o auxiliar técnico do Santos. Ao ser demitido, o próprio Pepe sugeriu à diretoria que colocasse Serginho Chulapa em seu lugar. Este assumiu a equipe e permaneceu como técnico praticamente durante toda a temporada.
Como técnico efetivo e interino Serginho dirigiu o Santos em 72 partidas, tendo vencido 33, empatado 21 e perdido 18. Carismático e bem-humorado, sempre com um largo sorriso no rosto, hoje ele integra o grupo dos Ídolos Eternos do clube que tanto e ama e quer bem.