Gabriel Pierin, do Centro de Memória
Há 51 anos, em 31 de agosto de 1969, um domingo, o Maracanã bateu o recorde oficial de público no Brasil quando 183 341 pessoas pagaram ingresso para ver a Seleção Brasileira, com seis titulares do Santos, vencer o Paraguai por 1 a 0, em jogo decisivo das Eliminatórias da Copa de 1970, no México.
Apesar das goleadas e da campanha invicta da Seleção nas Eliminatórias, ninguém podia prever com certeza a sorte dos brasileiros naquele duelo. O Paraguai só experimentara uma derrota, justamente contra o Brasil, e tinha apenas dois pontos a menos na tabela. Um fracasso da Seleção, jogando em casa, forçaria o jogo extra e poderia tirar o sonho brasileiro do Tri.
O jogo começou com cautela. Os meio-campistas Gérson e Piazza começaram mais recuados, deixando o trabalho de armação para Pelé. Confiantes, os paraguaios avançaram para o campo brasileiro e foram os primeiros a levar perigo.
Aos 11 minutos, Gimenez cruzou pelo alto, Felix saiu mal e não cortou o centro, mas Rildo conseguiu afastar a bola. Três minutos depois, Tostão fez boa jogada e tocou para Pelé na entrada da área emendar um chute poderoso, defendido por Oscar Aguillera.
O Paraguai quase abriu a contagem aos 15 minutos. Djalma Dias saiu livre com a bola dominada, mas acabou entregando para Gimenez. De frente para o gol, o atacante teve tempo de escolher o canto, mas Felix, em puro reflexo, defendeu com o pé.
Os brasileiros foram superiores durante o primeiro tempo, mas faltou objetividade. Pelé ainda teve duas oportunidades de marcar, mas foi desarmado antes do chute.
O gol que valeu a classificação
No segundo tempo, o Brasil voltou melhor. Rildo e Piazza, mais adiantados, passaram a servir o ponta Edu. Tostão, jogando mais recuado no meio-campo, liberou o avanço de Jairzinho e deu mais liberdade a Pelé no ataque.
O único gol do jogo, aos 23 minutos, teve ampla participação dos santistas. A jogada começou quando Djalma Dias cortou, de cabeça, um cruzamento do paraguaio Rojas. A bola caiu com Rildo, que avançou pela esquerda e passou para Edu. Este driblou um marcador, invadiu a área e mandou uma bomba que o goleiro Aguillera não conseguiu segurar. Pelé acompanhava o lance e chutou com raiva e de bico, estufando as redes e provocando o maior urro de gol do Maracanã.
Batizada de “As Feras do Saldanha”, em alusão ao técnico do time, o jornalista João Saldanha, aquela inesquecível Seleção Brasileira teve nove santistas convocados. Além dos seis titulares, foram chamados o goleiro Cláudio, o médio-volante Clodoaldo e o ponta-direita Manoel Maria – o que fez daquele esquadrão, na verdade, “As Feras do Santos”.
Antes, a Seleção Brasileira só tinha jogado uma Copa com seis titulares de um mesmo time. Isso ocorreu em 1950, no Brasil, nas vitórias sobre México (4 a 0), Iugoslávia (2 a 0) e Suécia (7 a 1), quando o Escrete atuou com seis jogadores do Vasco. Porém, como se sabe, em 50 a Seleção acabou derrotada na final, ao contrário da Copa de 1970, quando a vitória garantiu ao futebol brasileiro a posse definitiva da Taça Jules Rimet.
Maracanã, o maior do mundo
O futebol sul-americano recebia os maiores públicos nos jogos pelo mundo. Pelas Eliminatórias da Copa, o futebol brasileiro ficou com as duas primeiras colocações nas competições, ambas no Maracanã. Contra o Paraguai, o recorde de 183 341. Em segundo lugar, o jogo do Brasil com a Venezuela levou 122 841 pessoas para o estádio.
Mais de um recorde em um único dia
Com seis titulares na Seleção, o Santos também entrou para a história como o único time a ter mais de 50% dos titulares em seis jogos consecutivos do Escrete em uma Copa do Mundo. Ou seja, em todos os confrontos daquelas Eliminatórias o Alvinegro manteve 54,54% dos titulares do time que, com vitórias em todos os jogos, garantiu a vaga do Brasil na fase final da Copa do México.
Aqui é necessária uma informação: as Eliminatórias, ao contrário do que muitos pensam, não são uma competição isolada, mas sim parte integrante da Copa. A maior diferença é que as Eliminatórias consistem em jogos de ida e volta, entre os países participantes, enquanto a fase final da Copa é jogada – com exceção da de 2002, dividida entre Coréia do Sul e Japão – em uma única sede.
Assim, o feito dos seis santistas tem de ser incluído nos recordes dos Mundiais de futebol. Eram eles o lateral-direito Carlos Alberto Torres, à época com 25 anos; o zagueiro-central Djalma Dias, com 30; o quarto-zagueiro Joel Carmargo, com 22; o lateral-esquerdo Rildo, com 27 e os atacantes Pelé, com 28, e Edu, com 20 anos.