Santos vence o Boca e conquista o Bi da Libertadores

Gabriel Pierin, do Centro de Memória

La Bombonera estava repleta. Os torcedores do Boca Juniors tinham um bom motivo para lotar o estádio e acreditar no título inédito. No primeiro jogo da decisão da Taça Libertadores de 1963 o Santos vencia por 3 a 0 com dois gols de Coutinho e um de Lima, mas nos minutos finais, Sanfilippo marcou duas vezes e a vitória foi ofuscada. Mais do que isso, a vantagem santista parecia possível de ser revertida com o Boca jogando em casa, uma semana depois.

O Santos, atual campeão da Taça Libertadores, obteve a vaga direta na fase semifinal quando enfrentou o rival brasileiro Botafogo, líder isolado do seu grupo. Os times formaram a base da Seleção na Copa do Mundo disputada naquele ano e o elenco carioca era o vice-campeão brasileiro, atrás do Peixe. O Alvinegro da Vila Belmiro só conseguiu um empate jogando no Pacaembu, mas no jogo de volta despachou o Botafogo por 4 a 0, em pleno Maracanã.  

Por sua vez, o Boca era o atual campeão argentino e era sua primeira participação no torneio sul-americano. Para chegar à final, o time portenho terminou na liderança do grupo e na semifinal passou com duas vitórias pelo temido Peñarol, campeão uruguaio. A derrota por 3 a 2 na primeira partida da final contra o Santos era mais um ingrediente poderoso no caldeirão que se formou para a partida de volta.

Na quarta-feira, 11 de setembro, o Santos entrava no estádio do Boca aos gritos de uma multidão enfurecida de 85 mil fanáticos e novo recorde de renda para partidas de futebol na América (120 000 dólares). A pressão era grande e o gramado estava péssimo. O time da Técnica e da Disciplina precisaria muito mais do que isso para superar as adversidades.

Sem Mengálvio, o técnico Lula trouxe Lima para o meio e colocou Dalmo na lateral-direita, fazendo entrar Geraldino na esquerda. O time ficou com Gylmar, Dalmo, Mauro, Calvet e Geraldino; Lima e Zito; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. O Boca foi escalado por Aristóbolo Deambrosi com Errea, Magdalena, Orlando Peçanha e Simeone; Rattin e Silveira; Grillo, Menéndez, Rojas, Sanfilippo e González.

Precisando da vitória, o time da casa se lançou ao ataque. Gylmar, em grande fase, fez uma série de defesas nos primeiros minutos de jogo. O Santos reagiu e Pelé só não marcou porque foi parado com violência pelo adversário. O árbitro francês Marcel Albert Bois controlou a animosidade, advertindo o jogador. O primeiro tempo terminou assim: o Santos controlando o jogo e o Boca procurando vencer a qualquer custo.

Segundo tempo de grandes emoções

Logo no minuto inicial da etapa complementar, o atacante Grillo cruzou na área. Gylmar e Mauro se atrapalharam ao tentar interceptar a bola e ela sobrou para Sanfilippo cabecear para o fundo do gol.

O estádio veio abaixo. A vitória do Boca forçaria a terceira partida. Ao Santos até o empate interessava. Sem se abater com a pressão da torcida, o Alvinegro respondeu rápido ao gol. A alegria dos argentinos durou pouco.

Três minutos depois, Dorval interceptou um tiro de meta mal cobrado por Errea e tocou para Pelé, que imediatamente vislumbrou Coutinho entrando entre os zagueiros. O centroavante bateu seco, rasteiro, no canto. O Santos empatava a partida e assumia o controle do jogo.

Com Mauro seguro na defesa, Lima em uma atuação brilhante na cobertura e os laterais Dalmo e Geraldino recebendo o apoio dos pontas Dorval e Pepe que seguravam as investidas de Grillo e Gonzalez, sobrou para a dupla de ataque Coutinho e Pelé infernizar a defesa adversária.

Aos 37 minutos, deslocado pela ponta esquerda, Coutinho seguiu com a bola, cortou para o meio e serviu Pelé, na entrada da área. O Rei cercado por três adversários, jogou a bola entre as penas de Orlando e tocou na saída de Errea, marcando o segundo gol do Santos. Por um momento o estádio emudeceu. Pelé foi abraçado pelos companheiros de equipe e recebeu aplausos de todo o estádio, até da implacável torcida adversária, que se rendia ao talento do Rei do Futebol.

O Santos era mais uma vez campeão da América. A vitória classificou o Peixe para disputar o título mundial com o Milan, o campeão europeu, em uma decisão que ficaria marcada por uma das viradas mais espetaculares do Alvinegro Praiano. 

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