Por Odir Cunha, do Centro de Memória
O Santos estava impossível na temporada de 1962, ano do seu cinquentenário. Ganhou as quatro competições oficiais que disputou – Paulista, Brasileiro, Libertadores e Mundial – e sempre com uma boa vantagem. A conquista mais arrasadora veio no Campeonato Paulista, vencido com três rodadas de antecedência, título que representou o primeiro tricampeonato santista.
Cerca de 50 mil pessoas compareceram ao Pacaembu naquela noite chuvosa de quarta-feira, 5 de dezembro de 1962, para ver um Sansão decisivo. Se conseguisse ao menos o empate, o Santos sairia campeão, mas o São Paulo se apegava a chances matemáticas e ao orgulho para buscar a vitória.
Determinado, o tricolor não se intimidou com a superioridade santista e foi ao ataque. Roberto Dias passou por Zito, avançou e abriu o marcador aos 14 minutos. Um minuto depois o meia Benê se infiltrou entre Mauro e Calvet e bateu na saída do goleiro Laércio para fazer 2 a 0.
Em outros tempos a vantagem de dois gols, em um clássico, poderia ser definitiva. Mas era o grande Santos que estava em campo. Aos 38 minutos, Coutinho tirou Bellini da jogada e diminuiu. Cinco minutos depois, Dorval recebeu lançamento na medida de Pelé, penetrou, chutou, Poy rebateu e o mesmo Dorval marcou o gol de empate.
No segundo tempo, logo a um minuto, Lima deu a Pelé, que esticou para Dorval penetrar e fazer 3 a 2. Agora o São Paulo teria de virar novamente o marcador para impedir a comemoração santista. Porém, aos 15 minutos Zito deu a Pelé, que tocou para Pepe e este bateu de longe, rasteiro, pegando Poy desprevenido: 4 a 2.
A diferença esfriou o entusiasmo do time da Capital. O Santos passou a tocar a bola, sem pressa. Mas aos 43 minutos Pelé recebeu na meia-lua, pela direita do ataque, e resolveu experimentar. Resultado: 5 a 2, título garantido mesmo com mais três rodadas para o final do campeonato.
Orientado por Lula, naquela noite festiva o Santos jogou com Laércio, Dalmo, Mauro e Zé Carlos; Calvet e Zito; Dorval, Lima, Coutinho, Pelé e Pepe.
Treinado por Osvaldo Brandão, o São Paulo jogou com Poy, De Sordi, Bellini e Sabino; Dias e Cido; Faustino, Benê, Prado, Jair e Agenor. O árbitro da partida foi Anacleto Pietrobom.
O Santos chegava ao seu sétimo título paulista com uma campanha irretocável de 23 vitórias, cinco empates e apenas duas derrotas. Teve ainda a defesa menos vazada, com 31 gols, e o ataque mais positivo, com 105 tentos. Pelé marcou 37 gols e foi o artilheiro da competição pela sexta vez consecutiva. Coutinho fez 32.
O São Paulo terminaria o campeonato na segunda posição, com 43 pontos, (11 a menos do que o Santos), 67 gols marcados (38 a menos do que o Santos) e 35 sofridos (quatro a mais do que o Alvinegro).
Dois meses antes do título paulista o Santos tinha se tornado o primeiro time brasileiro a se tornar campeão mundial, ao golear o Benfica, em Lisboa, pelos mesmos 5 a 2 que infligiu ao São Paulo. E por falar em goleadas, o Paulista de 1962 foi o terceiro consecutivo em que o Santos atingiu 100 gols ou mais. Foram 100 gols em 1960, 113 em 1961 e 105 em 1962.