Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Com participação de Gabriel Santana e Guilherme Guarche
Um verdadeiro choque de dois mundos, um tira-teima entre o melhor time sul-americano e o melhor europeu, entre o Rei Pelé e o pretendente Eusébio. Assim pode ser definida a final do Torneio de Paris de 1961, entre Santos e Benfica, jogada no Parc des Princes, em Paris, em 15 de junho de 1961.
Para se ter uma real dimensão da importância desse confronto, basta lembrar que apenas duas semanas atrás o Benfica tinha sido campeão europeu pela primeira vez – façanha que repetiria no ano seguinte –, ao bater o Barcelona, em Berna, Suíça, por 3 a 2. Além de melhor time da Europa, naquela noite contra o temido Santos o técnico húngaro Béla Guttmann faria estrear o moçambicano Eusébio, que já vinha para o time de Lisboa com a fama de ser um atacante excepcional.
Jogado por quatro equipes, com duas rodadas duplas, o Torneio de Paris convidava credenciadas equipes estrangeiras para se bater contra grandes times da França. Na estreia, diante de 40 mil pessoas, em jogo eletrizante, o Santos vencera o Racing, da França, por 5 a 4, e o Benfica passara pelo Anderlecht, da Bélgica, por 3 a 2.
Na disputa pelo terceiro lugar, o Anderlecht derrotou o Racing por 5 a 2. Restava, então, a grande final, colocando frente a frente o melhor time da Europa e aquele que, mesmo sem ter ainda o título da Copa Libertadores, era reconhecido como o melhor exemplo da excelência do futebol sul-americano.
O técnico Lula escalou o time com uma formação que incluía o ataque mágico: Laércio, Mauro e Décio Brito; Getúlio, Brandão e Lima; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Bélla Guttmann armou o Benfica com Barroca, Mário João, Germano e Ângelo (depois Mendes); Neto e Cruz; José Augusto, Santana (Eusébio), Águas, Coluna e Cavem.
Em partida espetacular, símbolo do futebol-arte que reinou entre os maiores times do mundo nos anos 60, o Santos chegou a fazer 4 a 0, mas Eusébio entrou no lugar de Santana e realmente incendiou o jogo. O ágil moçambicano, então com apenas 19 anos, marcou três gols e sofreu um pênalti que poderia dar o empate è equipe portuguesa. Mas a penalidade não foi convertida e na sequência o Santos chegou ao quinto gol, marcando mais um antes do apito final do árbitro Pierre Achinte.
Pepe, que já tinha feito dois gols contra o Racing, fez mais dois contra o Benfica. Pelé marcou outros dois, Coutinho e Lima completaram a goleada de 6 a 3. Diante do resultado inapelável, os jornais portugueses deram destaque ao fato de Eusébio ter marcado três gols, um a mais que Pelé. Triste consolo.
O Benfica continuaria reinando na Europa e seria bicampeão europeu no ano seguinte, batendo o Real Madrid por 5 a 3. O time também se tornaria a base da Seleção Portuguesa terceira colocada no Mundial de 1966, na Inglaterra. Porém, a grande equipe de Portugal, que chegou a cinco finais da Liga dos Campeões da Europa na década de 60, jamais teria o prazer de vencer o Santos. Em oito duelos, o máximo que conseguiu foram dois empates.
Todos os confrontos entre Santos e Benfica
23/07/1957 – Santos 3 x 2 Benfica – Vila Belmiro – Amistoso
15/06/1961 – Santos 6 x 3 Benfica – Paris, França – Torneio de Paris
19/09/1962 – Santos 3 x 2 Benfica – Maracanã – Mundial Interclubes
11/10/1962 – Santos 5 x 2 Benfica – Lisboa – Mundial Interclubes
21/08/1966 – Santos 4 x 0 Benfica – New York, Estados Unidos – Torneio de New York
18/08/1968 – Santos 4 x 2 Benfica – Buenos Aires, Argentina – Pentagonal de Buenos Aires
01/09/1968 – Santos 3 x 3 Benfica – New York, Estados Unidos – Amistoso
08/10/2016 – Santos 1 x 1 Benfica – Vila Belmiro – Amistoso