Gabriel Pierin, do Centro de Memória
O Santos venceu pela primeira vez o Torneio de Paris em 9 de junho de 1960, uma quinta-feira à noite. Com o trio Pelé, Coutinho e Pepe no auge, os santistas jogaram para um público de 40 mil pessoas que lotou o Parc des Princes e viu o Racing de Paris ser goleado por 4 a 1.
O Torneio de Paris era um dos principais eventos de pré-temporada da época. Formado com equipes de prestígio internacional, na sua edição de 1960 participaram o Santos, os franceses Stade de Reims e Racing Paris, e o CSKA Sofia, da Bulgária.
Na partida de estreia, dia 7, o Alvinegro enfrentou o Stade de Reims no Parc des Princes, em Paris. Campeã francês em 1959/60, vice-campeão europeu na temporada 1958/59 e base da Seleção da França que chegou à semifinal da Copa de 1958, o Stade contava com grandes jogadores em seu elenco, como o goleiro Dominique Colonna, o defensor Robert Jonquet e os atacantes Jean Vincent, Raymond Kopa e Roger Piantoni.
Sem dar bola para o currículo do adversário, o Santos começou avassalador. Coutinho abriu o marcador com um minuto de jogo. O segundo gol, aos cinco, foi uma obra-prima. A pintura começou com um chute de Pelé na trave. Dorval recuperou a bola na linha de fundo e tocou para Mengálvio, que tentou o drible e foi bloqueado. A bola encontrou Pelé e mais cinco defensores à sua frente. O Rei driblou um a um e tocou na saída do goleiro, para aplausos dos torcedores.
Com 2 a 0 atrás no placar, o Stade de Reims foi pra cima. Aos oito minutos o time francês diminuiu com Piantonini, mas a comemoração durou pouco. Coutinho voltou a marcar dois minutos depois. Nos acréscimos da primeira etapa, Piantonini fez outro e o Stade encostou novamente no marcador.
As equipes voltaram para o segundo tempo com a mesma disposição. Para a alegria da torcida francesa, o artilheiro Piantonini fez o terceiro e empatou o jogo. O estádio Parc des Princes foi à loucura e a pressão dos 40 mil torcedores sobre os santistas aumentou. A euforia durou até os 19 minutos, quando Coutinho desempatou. Pepe marcou mais um aos 38 minutos, fechando o marcador em 5 a 3.
Na noite de quinta-feira, 9 de junho, 40 mil torcedores lotaram o Parc des Princes para assistir à final entre Santos e Racing, que vencera o CSKA na semifinal por 2 a 0.
O Santos jogou a decisão com Laércio, Calvet (depois Getúlio), Mauro e Zé Carlos; Formiga e Zito; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe (Tite). O Racing apresentou Tailander, Tibari (Guillot), Lelong, e Marche; Marcel e Herbin; Grillet, Tocna, Ujlaki, Senac e Heutte.
A iniciativa do jogo partiu da equipe de Paris. Laércio, muito exigido nos primeiros minutos, chegou a receber atendimento médico depois de um choque com um atacante francês. A paralisação foi providencial. O time do Racing esfriou e o Santos, finalmente, entrou no jogo.
Aos 23 minutos Coutinho abriu a contagem. O atacante arriscou um chute de longa distância e a bola encontrou o ângulo direito. Pouco depois, começou a chover na Cidade Luz, dificultando a troca de passes. O Racing se recuperou do gol e voltou a ameaçar a meta santista. O africano Topka perdeu oportunidades e Laércio seguia fazendo grandes defesas.
Mais técnico, o Santos conseguiu manter a vantagem no primeiro tempo. Após o intervalo, o time voltou com mais disposição. Pelé tabelou com Coutinho e marcou aos nove minutos, ampliando a vantagem santista. Aos 15, Getúlio entrou no lugar de Calvet.
Aos 21 minutos a jogada seguia em ritmo lento pela esquerda quando Pelé jogou a bola entre as pernas do marcador, arrancou, esticou na esquerda para Pepe chutar forte e rasteiro no canto do goleiro Tailander.
Perdendo de 3 a 0, o Racing foi pra cima. Aos 28 minutos, Getúlio cometeu falta em Guillot. O mesmo francês fez a cobrança e Ujlaki desviou de cabeça, diminuindo o placar.
Aos 43 minutos Coutinho voltou a marcar. Dessa vez foi o centroavante que acelerou uma jogada depois de dar um drible na intermediária, passou a Pelé e recebeu na área, para enfiar o pé direito na bola, entre três marcadores, e fazer o quarto e último gol do Santos. Depois de brilhar na sua primeira excursão na Europa, em 1959, o Alvinegro Praiano voltava a triunfar no velho continente conquistando o prestigiado Torneio de Paris.
O Santos jogava o fino e para muitos já era o melhor do mundo, título que oficialmente só obteria no ano seguinte. O detalhe é que Coutinho, artilheiro do time no Torneio de Paris, com cinco gols, só completaria 17 anos dois dias depois da final. Pelé tinha apenas 19 anos e Pepe, o veterano do trio atacante, 25.