Santos de Pelé comemora tri brasileiro em Salvador

Por Gabriel Santana, do Centro de Memória
O ano de 1963 foi um dos melhores anos da história santista. Conquistou quatro das cinco competições que disputou (Torneio Rio-São Paulo, Taça Libertadores, Taça Brasil/ Campeonato Brasileiro de 1962 e Mundial Interclubes). Uma temporada longa e com calendário apertado, com 67 jogos e um saldo impressionante de 39 vitórias, 12 empates, 16 derrotas, 178 gols marcados e 115 sofridos.
Por falta de datas, a Taça Brasil/ Campeonato Brasileiro de 1963 só foi disputada no início de 1964, e na noite de 28 de janeiro, uma terça-feira, em Salvador, o Peixe levantou a taça do nacional pela terceira vez.
Vinte clubes, todos campeões estaduais, participaram da Taça Brasil/ Campeonato Brasileiro de 1963, competição disputada em duas etapas. Na primeira, os clubes foram divididos nos grupos Norte/Nordeste e Centro/Sul. Na segunda e decisiva, os vencedores de cada grupo enfrentaram Botafogo e Santos, pré-classificados para as semifinais. O clube carioca confrontou o Bahia, campeão baiano, e o Alvinegro de Vila Belmiro, o campeão gaúcho, Grêmio.
Na primeira partida das semifinais, no Estádio Olímpico, o Santos encontrou dificuldade apenas no primeiro tempo, empatado em 1 a 1. Na segunda etapa, o Peixe voltou bem melhor e impôs sua superioridade, marcando mais dois gols e triunfando por 3 a 1.
Coutinho marcou no primeiro e no segundo tempo, e Pelé completou o placar. Nessa partida ficou famosa uma tabelinha entre Pelé e Coutinho desde o meio de campo. Trocaram passes até a área do Grêmio sem deixar a bola cair, mas no final ela terminou nas mãos do goleiro Alberto.
No jogo da volta, no Pacaembu, outro triunfo do Alvinegro: 4 a 3, com três gols de Pelé e outro de Pepe, um golaço de falta aos seis minutos de jogo. Nessa partida o Grêmio já tinha virado para 3 a 1 aos 14 minutos do primeiro tempo, mas na segunda etapa, além de ter feito três gols, Pelé foi atuar como goleiro após a expulsão de Gylmar, no final da partida.
A decisão, na Bahia
O adversário do time santista na grande final foi o Bahia, que havia superado o forte Botafogo de Garrincha 1 a 0 em Salvador, 0 a 0 no Rio). Era a terceira vez em que Santos e Bahia se enfrentavam em uma decisão do Campeonato Brasileiro. Em 1959 o time baiano levou a melhor e em 1961 o Santos venceu. O confronto de finais estava empatado.
A primeira partida da decisão foi realizada no Pacaembu, em 25 de janeiro, um sábado, aniversário da cidade de São Paulo. Logo aos 8 minutos Pepe fez um golaço de falta. O Santos continuou dominando e aos 26 minutos, de tanto encurralar o adversário, marcou o segundo gol. Os zagueiros baianos prensaram Pelé na área, cometendo pênalti. O próprio camisa 10 cobrou e aumentou o placar.
Com a mesma intensidade do primeiro tempo, o Santos não encontrou resistência para marcar mais quatros vezes na segunda etapa. Coutinho fez o seu aos 20, Mengálvio aos 39, Pelé aos 40 e Pepe finalizou o marcador de 6 a 0 com outra penalidade máxima, aos 44 minutos.
Três dias depois, o Santos estava em Salvador para a disputa do jogo de volta. Na época, a contagem de gols não era levada em consideração, ou seja, se o Bahia vencesse por qualquer contagem provocaria uma terceira partida, a chamada “negra”.
Escalado pelo técnico Lula, o Santos foi a campo com Gylmar, Ismael, Mauro, Haroldo (Joel Camargo) e Geraldino; Lima e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. O Bahia, do técnico Geninho, formou com Nadinho, Henrique, Russo (Ivan), Hélio, Roberto, Nilsinho, Miro, Vevê, Hamilton, Mário e Biriba.
Arbitrada pelo polêmico carioca Armando Marques, a partida bateu o recorde de renda em jogos no Norte e Nordeste do País. Foram arrecadados Cr$ 21.083.300,00, para um público de 35.365 pagantes.
O Bahia iniciou pressionando e obrigou Gylmar a fazer uma defesa logo aos 5 minutos, em chute forte de Hamilton. Minutos depois, Miro realizou longo lançamento, e antes da bola chegar na área, Haroldo afastou com classe, ganhando aplausos dos espectadores. Após essa bela jogada, o zagueiro santista se contundiu, dando sua vaga ao jovem Joel Camargo.
Aos 22 minutos, em outro rápido ataque, o Bahia tentou abrir o placar com um chute de Miro, mas sem sucesso. Bem, o time baiano teve suas chances e não fez. Na primeira chance do Alvinegro, o potente ataque santista não perdoou. Aos 27 minutos, Pelé abriu a contagem em cobrança de falta.
Antes de encerrar o primeiro tempo, Pelé teve outras duas boas oportunidades, mas não concluiu a gol. Em uma dessas jogadas o lateral Russo se contundiu na tentativa de bloquear o Rei do Futebol e acabou dando lugar a Ivan.
Na segunda etapa, o Bahia voltou disposto a empatar logo no início, mas se esqueceu de combinar o arqueiro Gylmar. Com apenas dois minutos de jogo, o goleiro do Peixe fez uma linda defesa na cabeçada de Vevê, e quatro minutos depois repetiu a performance em um chute de Mário.
Aos 13 e aos 15 minutos foi a vez de o Santos atacar, mas as duas jogadas individuais de Pelé foram paradas pela defesa contrária. O Bahia tentou mais duas vezes, mas não obteve sucesso e parece ter perdido o ânimo. Aos 40 minutos, o Rei novamente apareceu e marcou o segundo tento do Santos, definindo a partida e o título da Taça Brasil/ Campeonato Brasileiro de 1962.
Com quatro vitórias em quatro jogos, 15 gols marcados e apenas quatro sofridos, o Santos levantou a taça com cem por cento de aproveitamento e engatou seu terceiro título brasileiro consecutivo. O Bahia ficou com o vice-campeonato; o Grêmio de Porto Alegre terminou em terceiro; o Botafogo em quarto; o Sport em quinto e o Atlético Mineiro em sexto.

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