[:pb]Gabriel Pierin, do Centro de Memória
Nas análises preliminares do Paulista de 2015 os “especialistas” não levaram em conta o fato de o Santos ter chegado à final nas seis competições anteriores e nem devem ter analisado muito bem o potencial técnico do Alvinegro Praiano, pois o colocaram como a “quarta força” do estado.
Uma equipe que podia não ter uma defesa excepcional, mas exibia, do meio de campo para a frente, jogadores como Renato, Elano, Geuvânio, Robinho, Gabriel Barbosa, Ricardo Oliveira e Lucas Lima, jamais poderia ser descartada na disputa do título regional. Naquele ano, a propósito, Ricardo Oliveira e Lucas Lima se colocariam entre os melhores do País, a ponto de serem chamados para a Seleção Brasileira que jogava as Eliminatórias para a Copa do Mundo.
Bem, a verdade não tardou. Ela veio em um domingo, 3 de maio de 2015, em que o Santos bateu o Palmeiras em uma Vila Belmiro em festa e chegou ao seu 21º título estadual. Vale a pena rever a história…
Mesmo sem alguns jogadores, como Aranha, Arouca, Edu Dracena e Leandro Damião, o Santos estreou muito bem no Paulista de 2015, com novas caras e o mesmo entusiasmo de sempre. Dois golaços de Geuvânio, e um mais bonito ainda do estreante Chiquinho, construíram os 3 a 0 diante do mesmo Ituano que tinha batido o Santos na final do Paulista do ano anterior.
O time que estreou tinha Vladimir, Victor Ferraz, Gustavo Henrique, David Braz e Chiquinho; Alison, Renato e Lucas Lima; Geuvânio (depois Ricardo Oliveira), Robinho (Lucas Crispim) e Thiago Ribeiro (Elano). O técnico era Enderson Moreira, que antes da fase final do campeonato seria substituído pelo interino Marcelo Fernandes.
Quem torcia contra o Peixe, teve de engolir. O Santos ganhava todas em casa e, no máximo, empatava fora. Fora de casa venceu o Botafogo por 3 a 0, o Marília por 4 a 1, o São Bento por 1 a 0. Nos clássicos, venceu Palmeiras e Portuguesa (ainda respeitamos a Portuguesa como time grande) e empatou com São Paulo e Corinthians.
Sua única derrota na fase de classificação ocorreu em Campinas, diante da Ponte Preta, por 3 a 1. Terminou na liderança folgada do seu grupo, com 34 pontos, 16 a mais do que o segundo colocado, o XV de Piracicaba – adversário que lhe coube nas quartas de final, em jogo único.
Venceu o XV, na Vila, por 3 a 0, em outras daquelas exibições temperadas por uma insaciável fome de gol; na semifinal, seguindo o roteiro dos anos anteriores, passou novamente pelo São Paulo, também na Vila, dessa vez por 2 a 1. Na final, enfrentaria o Palmeiras, que eliminara o Corinthians na disputa de pênaltis.
Uma final pendular
Os que chamam o campeonato estadual de “Paulistinha” devem ter se espantado com o enorme público presente à arena palmeirense. Nada menos do que 39.479 pagantes proporcionaram arrecadação superior a quatro milhões de reais, recordes de público e renda do novo estádio.
Melhor, o Palmeiras fez 1 a 0 no primeiro tempo, com Leandro Pereira, aos 29 minutos. E continuava melhor no segundo quando, aos 15 minutos, Dudu teve um pênalti para selar a sorte da partida e encaminhar o título. Após um lançamento longo, Leandro Pereira se enroscou com o novato zagueiro Paulo Ricardo e foi ao chão. O árbitro Vinicius Furlan deu pênalti e expulsou o santista.
Uma vantagem de dois gols, diante de sua torcida, e mais meia hora de jogo contra um adversário com um jogador a menos poderia dar ao Palmeiras o que se chama de meio título. Mas o goleiro Vladimir mostrou determinação, bateu as luvas e encarou o palmeirense. O chute saiu forte, mas alto demais, raspou no ângulo direito do travessão e foi embora. O Santos segurou a derrota mínima e passou a decisão para a Vila Belmiro.
Na Vila, Marcelo Fernandes escalou o Alvinegro com Vladimir, Victor Ferraz, Werley (depois Gustavo Henrique), David Braz e Chiquinho; Valencia (Leandrinho), Renato e Lucas Lima; Geuvânio, Robinho (Cicinho) e Ricardo Oliveira.
Do lado palmeirense, o técnico Oswaldo de Oliveira, o mesmo que havia perdido o título de 2014 na final contra o Ituano, formou o time com Fernando Prass, Lucas, Victor Ramos, Vitor Hugo e Zé Roberto; Gabriel (Amaral) e Robinho (Cleiton Xavier); Rafael Marques, Valdivia (Jackson) e Dudu; Leandro Pereira.
A arbitragem, a cargo de Guilherme Ceretta de Lima, teria como auxiliares Emerson Augusto de Carvalho e Alex Ang Ribeiro. O Urbano Caldeira recebeu 14 662 espectadores, com renda de R$ 1 555 280,00. Como se esperava, foi a bola rolar e só um time buscou a vitória.
Mas o primeiro gol só veio aos 29 minutos. Valencia chutou para a área e Robinho, com a categoria, visão e tranquilidade dos craques, só tocou de lado, de primeira, para a entrada de David Braz e o chute para o gol vazio.
Aos 43 minutos houve um bate-rebate na intermediária palmeirense, Ricardo Oliveira ganhou a dividida, partiu livre e em um autêntico tutorial para centroavantes, adormeceu com a coxa esquerda e bateu de direita, rasteiro, na saída de Fernando Prass.
Antes do final do primeiro tempo, Duda e Geuvânio foram expulsos. O palmeirense, um tanto descontrolado desde que perdera o pênalti no primeiro jogo da decisão, deu uma cotovelada no santista, que revidou. A ausência de ambos não alterou muito o andamento da segunda etapa, mas, percebia-se, o visitante forçava para tentar ao menos um gol e levar a disputa para os pênaltis.
No geral o Santos era melhor e definiria o título se elevasse a vantagem para 3 a 0, já que podia perder por um gol de diferença, porém o sistema defensivo cochilou aos 19 minutos e permitiu o lançamento de Valdívia para o lateral-direito Lucas, que fechou para a pequena área e, mesmo chutando fraco, conseguiu vazar Vladimir.
Como se um jogo fosse exatamente o oposto do outro, Victor Ramos foi expulso e, assim como o adversário na primeira partida, o Santos teve um jogador a mais para buscar o gol redentor nos minutos finais, mas ele não veio, levando a decisão para a disputa dos tiros direitos da marca do pênalti.
Nos pênaltis, como em 1973
O único título que o Santos havia conquistado em uma disputa de pênaltis fora o Paulista de 1973, dividido com a Portuguesa. Mas naquele 3 de maio de 2015, na Vila, nenhuma lembrança negativa nublou a certeza dos jogadores e da torcida. Sentia-se que era impossível perder aquela decisão.
0 a 1 – Cleiton Xavier bateu no canto esquerdo, Vladimir caiu no direito.
1 a 1 – David Braz bateu forte, de chapa, no canto esquerdo. Fernando Prass acertou o canto, mas a bola subiu um pouco acima de suas mãos.
1 a 1 – Rafael Marques bateu no canto direito, rasteiro, mas Vladimir se jogou na hora certa e espalmou.
2 a 1 – Gustavo Henrique chutou rasteiro, no canto direito. A bola não foi muito forte e nem muito no canto. Prazz caiu no canto certo, mas a bola passou sob o seu braço.
2 a 1 – Jackson tentou buscar o canto esquerdo, alto, mas a bola bateu no travessão e voltou para o campo.
3 a 1 – Victor Ferraz bate no meio, mas Prass já estava pulando para o canto direito.
3 a 2 – Leandro Pereira chuta na esquerda, Vladimir acerta o canto, mas não toca na bola.
4 a 2 – O canhoto Lucas Lima bate no canto esquerdo, rasteiro. Prass pula na direção certa, mas não consegue impedir o gol e o título santistas. Nas comemorações, Lucas Lima disse que aquele fora o gol mais importante de sua carreira. E continua sendo.
Estatísticas de um campeão
O Santos foi campeão com maior número de pontos ganhos (43, contra 38 do Palmeiras), mais vitórias (13 contra 12), mais gols feitos (36 a 28) e maior saldo de gols (21 a 14). Para completar, ainda teve o artilheiro do campeonato – Ricardo Oliveira, com 11 gols.
Com o resultado, o Alvinegro Praiano chegava ao seu 21º título paulista e a sete finais consecutivas no Paulistão. No ano seguinte, como se sabe, o Santos alcançaria mais uma final e mais um título, completando sete taças em 11 anos (2006/07/10/11/12/15/16), na segunda maior hegemonia de uma equipe no Campeonato Paulista. A maior foi a do próprio Santos na década de 1960, quando conquistou oito títulos em dez anos.[:]