Sansão chega ao capítulo 310

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Estatísticas por Guilherme Guarche
Times clássicos, Santos e São Paulo duelam há 89 anos. Desde a primeira partida, quando empataram por 2 a 2 no Campeonato Paulista de 1930, já se enfrentaram 309 vezes. Na soma geral dos confrontos, a vantagem é são-paulina, mas desde o início deste terceiro milênio o Santos mantém um saldo positivo respeitável. Na Vila Belmiro, onde voltam a se encontrar neste sábado, às 17 horas, pela 33ª rodada do Campeonato Brasileiro, quem tem dado a bola é o Santos.
Vinte e quatro Sansões válidos pelo Campeonato Brasileiro foram realizados no Urbano Caldeira, com 12 vitórias do Alvinegro Praiano, seis empates e seis derrotas; 35 gols a favor e 25 contra.
Desde o início deste milênio, ou século, como se queira, os rivais já jogaram 64 vezes, com 31 vitórias santistas, 11 empates e 22 derrotas; 101 gols marcados e 78 sofridos. Isso quer dizer, grosso modo, que a cada duas partidas o Santos costuma vencer uma.
No geral, computados os 309 jogos entre ambos, o Santos venceu 104, empatou 72 e perdeu 133; marcou 444 gols e sofreu 512. Em todos os 68 confrontos pelo Brasileiro ocorreram 25 vitórias santistas, 14 empates e 29 derrotas, com 87 gols a favor e 86 contra.
Ricardinho cumpriu a promessa
No Brasileiro de 2004 o Santos tentava cumprir a meta do técnico Vanderlei Luxemburgo de vencer sete jogos seguidos para entrar na luta pelo título, quando, em um sábado, 10 de julho, recebeu o São Paulo na Vila Belmiro. O adversário, treinado por Cuca, tinha como destaque o goleiro Rogério Ceni e naquela partida apresentava o volante César Sampaio, que voltava ao Brasil depois de dois anos no futebol japonês.
Cinco vitórias consecutivas já tinham sido obtidas pelo Alvinegro Praiano, que naquela partida contra o São Paulo, assistida por 14.698 torcedores, entrou em campo com Tápia, Paulo César (Flávio), Domingos, André Luis e Léo; Bóvio (Marcinho), Preto Casagrande (Basílio), Ricardinho e Elano; Robinho e Deivid.
O São Paulo formou com Rogério Ceni, Gabriel, Fabão, Lugano e Fábio Santos; Alê (Ramalho), Renan, César Sampaio e Danilo; Grafite (Márcio) e Velber (Flávio). A arbitragem foi de Luís Vicentim Cansian.
Antes de começar a partida, Bruno, o filho pequeno de Ricardinho, entrou com o pai em campo e disse algo em seu ouvido antes de sair do gramado. Iniciado o confronto, os ataques se revezavam e Danilo, aos 24 minutos, abriu o marcador para o visitante.
Mas a iniciativa continuava com o Santos e aos 32 minutos Robinho escapou pela direita e serviu Deivid, livre, na pequena área, que só empurrou para as redes.
Na segunda etapa, Fabão acabou expulso por levar o segundo cartão amarelo após entrada violenta em Basílio, mas mesmo com um jogador a mais, para angústia dos torcedores, o Santos não conseguia furar a defesa adversária.
Aos 45 minutos um novo ataque santista foi parado com falta a dois metros da risca da grande área, à direita da meia-lua. O canhoto Ricardinho se colocou para a cobrança. Por um instante a respiração no Urbano Caldeira parou. Ninguém tinha dúvida de que aquela era a última chance de vitória.
Então, como se pegasse a bola com as mãos e a arremessasse por sobre a barreira são-paulina, o meia usou o lado de dentro do pé para alcançar o ângulo esquerdo alto da meta de Rogério Ceni, a quem só restou ajoelhar, como se rezasse para a bola tomar outro rumo.
O jogo terminou logo em seguida e na entrevista coletiva Ricardinho revelou que o pequeno Bruno, santista recém-convertido, havia lhe pedido que fizesse um gol. A cobrança de falta era sua última chance de cumprir a promessa ao filho.
O Santos conseguiu sua sétima vitória seguida na partida seguinte, contra o Flamengo, na Vila Belmiro. O time seguiu firme rumo ao título, finalmente conquistado no último jogo, uma vitória por 2 a 1 sobre o Vasco, em São José do Rio Preto. Coincidentemente (se é que elas existem no futebol), o derradeiro gol do Santos no campeonato também foi de uma falta cobrada com maestria por Ricardinho do mesmo local e do mesmo jeito usado na partida contra o São Paulo naquele sábado de angústia e glória na Vila Belmiro.
Artilheiros santistas do confronto
Pelé, Paulinho McLaren, Diego Ribas e Copete, com quatro gols.
Na primeira partida, duelo entre Feitiço e Friedenreich
A primeira partida entre Santos e São Paulo, em 11 de maio de 1930, na Vila Belmiro, pelo Campeonato Paulista daquele ano, reuniu dois dos melhores jogadores da fase amadora do futebol brasileiro: pelo Santos, o centroavante Feitiço, e pelo São Paulo, na época chamado de São Paulo da Floresta, o afamado Friedenreich.
Outra curiosidade da partida é que Siriri, após problemas com a direção do Santos, jogou pelo time da Capital, enquanto seu irmão, Camarão, continuava defendendo o Peixe.
Escalado pelo técnico Ramon Platero, o Santos entrou em campo com Athiê, Aristides e Meira; Roberto, Júlio e Alfredo; Omar, Camarão, Feitiço, Strauss e Evangelista.
O São Paulo, treinado por Rubens Salles, jogou com Nestor, Clodô e Barthô; Milton, Bino e Boock; Luizinho, Siriri, Friedenreich, Mario Seixas e Scott. A arbitragem ficou a cargo de Victório Sylvestre.
Em jogo equilibrado, todos os quatro gols saíram no segundo tempo. Luizinho abriu o marcador para o São Paulo aos 8 minutos; Camarão empatou aos 15, Friedenreich colocou novamente o time da Capital na frente aos 40 minutos e em cima da hora, aos 45 minutos, o artilheiro Feitiço deixou sua marca e impediu a derrota do Alvinegro.

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