Recorde de gols em uma partida

Guilherme Guarche do Centro de Memória
Na manhã daquele distante domingo, 22 de novembro de 1964, a Gazeta Esportiva foi o jornal mais vendido nas bancas de jornais em todo o Estado de São Paulo. A manchete “Saci da Vila marcou oito gols” estampada na primeira página do jornal mostrava que Pelé superou Fried depois de 35 anos.
Esse recorde no Brasil de oito gols em uma só partida durou até 1976, quando Dario, o Dadá Maravilha, marcou 10 gols na vitória por 14 a 0 do Sport Recife sobre o Santo Amaro.
Antes, o recorde do Rei já tinha sido igualado por Jorge Mendonça, que marcou oito gols na goleada de 8 a 0 do Náutico contra o mesmo Santo Amaro.
Os oito gols marcados por Pelé aconteceram na chuvosa tarde de sábado, dia 21, em partida válida pelo Campeonato Paulista quando o Santos triturou o Botafogo de Ribeirão Preto, por 11 a 0.
Além de Pelé, também marcaram na goleada os atacantes Pepe, Coutinho e Toninho Guerreiro. O detalhe é que nem o inédito gol olímpico de Pepe recebeu o merecido destaque da imprensa, que enalteceu apenas os oito gols do Rei.
Antes dessa goleada na Vila Belmiro, o time santista tinha sofrido um revés diante do Guarani de Campinas, e foi derrotado pelo placar de 5 a 1. Para enfrentar o Botafogo, o técnico Luiz Alonso Perez, o Lula, fez algumas alterações na equipe.
Sem Zito, machucado, o meio de campo ficou com Lima e Mengálvio. No ataque saiu o ponta-direita Peixinho e entrou Toninho Guerreiro. O time entrou em campo com Gylmar, Ismael, Modesto, Haroldo e Geraldino; Lima e Mengálvio; Toninho, Coutinho, Pelé e Pepe.
Havia a necessidade da vitória, até porque no primeiro turno, em Ribeirão Preto, contra esse mesmo Botafogo, o Peixe tinha perdido por 2 a 0 e sofrido provocações do adversário.
E foi o que aconteceu no Estádio Urbano Caldeira, o “Pantera da Mogiana” pagou caro por ter ousado desafiar o time do Alvinegro que o goleou impiedosamente diante de 9 437 felizes torcedores que estiveram presentes no Estádio Urbano Caldeira, naquela fria tarde primaveril.
Osvaldo Brandão, técnico do Botafogo, depois dessa partida foi dirigir o time do Corinthians e duas semanas depois foi novamente derrotado pelo time comandado por Pelé, no Estádio do Pacaembu, quando o Santos venceu por 7 a 4, com quatro gols de Pelé e três de Coutinho.
No ano de 1964 o Santos venceu o Campeonato Paulista pela oitava vez ao bater a Portuguesa de Desportos, na Vila Belmiro, por 3 a 2, em 16 de dezembro. O Botafogo ficou na décima posição entre 16 participantes.
Araken reconhece a genialidade de Pelé
O santista Araken Patusca já tinha marcado sete gols em uma partida oficial. Isso ocorreu em 3 de maio de 1927, na mesma Vila Belmiro, dia em que o Santos goleou o tradicional Ypiranga por 12 a 1, com sete gols de Araken, dois de Feitiço e outros de Hugo. Camarão e Evangelista.
Ao saber que Pelé havia superado a sua marca, o gentleman Araken Patusca, escreveu emocionado a sincera carta ao camisa 10 do time do qual ele foi de seus maiores expoentes:
Pelé, você me suplantou. Você me venceu. Você marcou 8 tentos numa partida oficial de campeonato. Eu marquei 7. Meus olhos se turvaram. Eram lágrimas que os umedeciam, e que traduziam não a amargura pela perda de um recorde de 37 anos, mas que eram, e isso sim, o testemunho de uma recordação.
Pelé – naquela mesma cidade, Santos, a minha cidade. Naquela mesma cancha, Vila Belmiro, ante a mesma torcida vibrante do Campeão da Técnica e da Disciplina, com aquela mesma camisa, que seria a de número 10 se numerada fosse, eu, em 1927, conseguia 7 tentos em jogos de campeonato.
Dois anos depois, em 1929 fui alcançado no recorde pelo mestre da época, Arthur Friendenreich. Durante 37 anos fui o recordista, acompanhado em 35 anos pelo grande Arthur Friendenreich. Pelé – você sucede na tabela de artilheiros recordistas, não a este pequeno Araken Patusca, mas ao rei do passado – Arthur Friendenreich.
Ao longo da carreira, Pelé não superaria apenas o lendário Araken Patusca ou o fenomenal Arthur Friedenreich. Com 1091 gols em 1116 partidas oficiais, se tornaria o maior artilheiro do futebol, além de ser o jogador mais vitorioso do mundo.

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