Guilherme Guarche, do Centro de Memória
Desde os seus primórdios, o Santos manteve sempre uma conduta digna no que tange a assuntos preconceituosos, racistas ou xenófobos.
As cores alvinegras do clube abrigam jogadores brancos e pretos que enchem de orgulhos sua imensa torcida. Uma prova da liberdade sobre qualquer tipo de discriminação em relação aos jogadores negros no elenco – o que não era bem aceitável pela sociedade da época – é que em suas primeiras formações o time já tinha jogadores negros, como Anacleto Ferramenta, Milton e Esmeraldo.
Defensor da igualdade racial no esporte a diretoria santista se posicionou fortemente na defesa de seus atletas, dentro ou fora das quatro linhas, ao protestar enviando um ofício à APEA expondo e não aceitando que seus jogadores fossem ofendidos por pessoas mal intencionadas e discriminatórias.
Quis o destino que no transcorrer de sua existência o time santista teve a defendê-lo vários e notáveis jogadores afrodescendentes que tornaram o clube conhecido mundo afora craques começando pelo Rei do Futebol Pelé.
Segue abaixo o protesto da direção santista no acontecido do dia 2 de setembro de 1917, em partida contra a AA Palmeiras na Vila Belmiro, na defesa de seu atleta Jarbas, que nesse dia não participou da partida e apenas assistia ao jogo ao lado de outros torcedores santistas:
Ilmo. Sr. Presidente a Associação Paulista de Sports Athléticos
Somos forçados a dirigirmo-nos a essa Associação para verberarmos o procedimento incorreto em o nosso campo que teve o sr. Francisco Laraya representante do “Correio Paulistano”, por ocasião do match hoje disputado com a A.A. Palmeiras, procedimento esse que tocou as raias da brutalidade, já provocando sócios deste club, já ofendendo os jogadores nossos, dando assim o público testemunho de falta de cortesia e urbanidade, tão necessárias a cavalheiros que se prezam, máximo tratando-se de representante de um jornal tão conceituado como é o “Correio Paulistano”.
O modo porque se conduziu o sr. Laraya, foi de tal forma lamentável, que necessário se torna o corretivo severo apesar dos fatos que se desenrolaram nessa capital quando jogamos com o Palmeiras, onde até bichas soltaram no campo da Floresta, além de pesados insultos, tudo fizemos nos esforçamos para que em represália não se dessem aqui fatos daquela natureza, mesmo assim dois espectadores e que não eram sócios, pretenderam soltar algumas bichas, tendo sido contrariados em seu intento pelo diretor esportivo, e postos para fora de campo, como pudera essa digna Associação verificar ouvindo seu representante sr. Vasco Corte Real, que disse ter ciência. o sr. Laraya chegou a dirigir-se ao nosso player Manoel Jarbas Cid de Godoy, chamando-o de ‘negro”, provocando igualmente com o dr. João Carvalhal Filho, corretor Jonas Pacheco e muitos outros tal a exaltação de que se achava possuído no momento o “Santos Football Club” podemos permitir essa digna Associação portar-se cavalheirescamente com os seus hóspedes, chegado mesmo a acompanha-los à gare da Estrada de Ferro, por ocasião de seu embarque para essa capital vistoriando-os. E, disso, essa diretoria poderá ter a certeza ouvindo-se seu digno representante no match disputado e os dignos associados do Palmeiras. As explosões pela vitória alcançada pelo Santos, não passaram de aclamações de seus sócios e torcedores ao time vitorioso e ao de seu digno competidor. Sem mais apresentamos nossos protestos de distintas considerações.