Quando o Santos deu o troco

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Estatísticas por Guilherme Guarche
Sempre foi complicado jogar contra a Ferroviária no Estádio Dr. Adhemar de Barros, o popular Fonte Luminosa. Em 32 vezes que o Santos jogou lá contra o aguerrido time local, venceu 11, perdeu 12 e empatou nove, marcando 41 gols e sofrendo 40. Portanto, o jogo deste domingo, às 19 horas, se reveste de enorme equilíbrio histórico.
Somadas todas as partidas entre Santos e Ferroviária pelo Campeonato Paulista, a situação se torna bem mais favorável ao Alvinegro Praiano, pois em 72 duelos venceu 38 (52,77%), empatou 19 (26,40%) e perdeu 15 (20,83%); fez 129 gols e deixou passar 74.
Além dos jogos pelo Campeonato Paulista, Santos e Ferroviária só se enfrentaram mais duas vezes, em amistosos jogados no Estádio da Fonte Luminosa e vencidos pelo Peixe: 5 a 2 em 7 de setembro de 1954 e 3 a 0 em 4 de julho de 2010.
A goleada no Santos de Pelé. E o troco
Em 1960, como nos anos anteriores, o Santos seguia favorito para conquistar mais um título do Campeonato Paulista, quando, após vencer o Palmeiras, no Parque Antártica, por 3 a 1, e empatar com o São Paulo, na Vila Belmiro, por um gol, a tabela lhe coube a forte Ferroviária de Dudu, Faustino e Bazzani, em Araraquara.
Era um domingo, 4 de setembro, e cerca de 12.500 torcedores tomaram a Fonte Luminosa para ver o duelo tão esperado na região. O Santos jogaria com sua defesa completa e no ataque perfilariam Dorval, Ney, Pagão (depois Sormani), Pelé e Tite. Enfim, um timaço.
Treinada por José Carlos Bauer, ex craque do são Paulo e da Seleção Brasileira, a Ferroviária fazia ótima campanha no campeonato e seu forte era o ataque, formado naquele domingo por Faustino, Dudu, Baiano, Bazzani e Beni.
Para encurtar a história, a defesa do time do Interior parou o ataque santista, enquanto os atacantes da Ferroviária pintaram e bordaram com a defesa do Santos. Ao final do primeiro tempo, a Ferroviária já vencia por 2 a 0, gols do zagueiro Antoninho aos dois minutos e de Faustino aos 45. Na segunda etapa, Baiano marcou aos 19 e Faustino aos 32, completando a impressionante goleada de 4 a 0.
O resultado diminuiu para dois pontos a diferença do Santos na liderança da competição. Em segundo lugar, surpreendentemente, aparecia a própria Ferroviária. Mas, é bom lembrar, o campeonato e ainda estava na primeira fase. A Ferroviária ainda teria de jogar na Vila Belmiro.
Até ali os dois times só tinham se enfrentado oito vezes. Em sua maior contagem, o Santos vencera duas vezes por 5 a 2. Aqueles 4 a 0, portanto, passavam a ser a partida de maior diferença de gols entre as equipes. Isso incomodava os santistas. E o Santos, como se sabe, era como um organismo vivo, com emoções, entre as quais a vingança era uma das mais apuradas.
Na segunda fase, como foi dito, foi a vez da Ferroviária visitar o Santos. O duelo ocorreu em uma quarta-feira, 7 de dezembro. Era a antepenúltima rodada e o Alvinegro mantinha a liderança, perseguido pela Portuguesa de Desportos. A Vila recebeu 15.458 espectadores. Ferroviária entrou em campo com todos os seus principais jogadores. Lula escalou o Santos com Laércio, Dalmo, Mauro e Zé Carlos; Calvet e Zito; Sormani, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.
O Santos vinha de 10 vitórias consecutivas pelo Paulista. O time estava embalado e ainda havia a lembrança da goleada sofrida na Fonte Luminosa. O torcedor santista experiente já sabia o que ia acontecer… No primeiro tempo, Pelé, duas vezes, e Coutinho já construíram um 3 a 0 que parecia definitivo. Na segunda etapa, Pepe e Pelé definiram os 5 a 0 que passaram a ser, a partir dali, a maior goleada do duelo.
No jogo seguinte, com dois jogadores expulsos, o Santos perdeu para o São Paulo, no Morumbi, por 2 a 1. Mas na última rodada, completo, venceu o Palmeiras, na Vila Belmiro, por 2 a 1, diante de 27.400 pessoas, e conquistou o seu quinto título paulista. A Ferroviária terminou em sexto lugar, à frente do São Paulo e com o mesmo número de vitórias do Palmeiras, o quarto colocado.
Artilheiros santistas do duelo no Campeonato Paulista
1 – Pelé, 23 gols.
2 – Pepe, 9 gols.
3 – Giovanni, 7 gols.
Primeira partida
Ferroviária 2 x 5 Santos
7 de setembro de 1954, feriado, terça-feira
Estádio da Fonte Luminosa, Araraquara
Amistoso
Ferroviária: Ferro, Pierri e Tato, Dirceu, Tiana e Izan (Helcias); Paulinho, Harvey (Monte), Jandir (Cardoso), Zé Amaro e Nélson (Boquita). Técnico: Armando Renganeschi.
Santos: Manga, Hélvio e Ivan; Zito (Ananias), Formiga (Pascoal) e Urubatão; Del Vecchio, Nicácio (Antoninho), Hugo (Joel), Valter e Tite. Técnico: Lula.
Gols do Santos: Nicácio, Formiga, Hugo, Pascoal e Joel (primerio gol de Formiga pelo Santos).
Gols da Ferroviária: Nelson e Monte.
Árbitro: Severino Dalassio.
Renda: Cr$ 40.000,00.
Última partida
Santos 1 x 0 Ferroviária
19 de janeiro de 2019, quinta-feira
Estádio Urbano Caldeira, Vila Belmiro, Santos
Campeonato Paulista
Santos: Vanderlei, Victor Ferraz, Luiz Felipe, Gustavo Henrique e Orinho; Alison, Diego Pituca (Copete), Carlos Sánchez e Jean Mota (Yuri); Yuri Alberto (Arthur Gomes) e Felippe Cardoso. Técnico: Jorge Sampaoli.
Ferroviária: Tadeu, Diogo Mateus, Elton, Rayan (Rodrigão) e Julinho (Arthur Henrique); PH, Tony, Maurinho, Fellipe Mateus e Felipe Ferreira (Uilliam); Lúcio Flávio. Técnico: Vinicius Munhoz. Árbitro :Vinicius Gonçalves Dias Araújo.
Gol do Santos: Jean Mota.
Renda: 252.135,00.
Público: 8.616 pessoas.
Árbitro :Vinicius Gonçalves Dias Araújo.
(Nesse dia o Santos anunciou a contratação do venezuelano Soteldo e do colombiano Felipe Aguilar).

Pular para o conteúdo