Por: Odir Cunha
Nos tempos românticos da Taça Brasil o vencedor das regiões Norte/Nordeste do país enfrentava o vencedor das regiões Centro/Sul para a definição do campeão brasileiro. E nessa época de ouro do nosso futebol Santos e Bahia jogaram três decisões em apenas cinco anos, numa façanha jamais repetida.
Em 1959 o Bahia venceu a primeira partida, na Vila Belmiro, por 3 a 2; perdeu em Salvador por 2 a 0, e venceu a terceira, no Maracanã, por 3 a 1, aproveitando-se da ausência de Pelé, que havia operado as amígdalas, e da atuação desastrosa do árbitro Frederico Lopes, do Rio de Janeiro, que expulsou quatro jogadores do Santos e só um do campeão baiano.
Assim o Bahia se tornou, oficialmente, o primeiro campeão brasileiro e o primeiro representante do país na primeira Copa Libertadores da América, em 1960, em um pioneirismo histórico. Mas o duelo não parou por aí. Em 1961 e 1963 os times voltaram a decidir a Taça Brasil e o Santos ganhou os dois duelos: por 1 a 1 e 5 a 1 em 1961, e 6 a 0 e 2 a 0 em 1963. Esses títulos compuseram as conquistas de 1961 a 1965, no único pentacampeonato legítimo do campeonato brasileiro.
Estatísticas favoráveis
O Centro de Memória do Santos, formado pelos pesquisadores e historiadores Gabriel Pierin, Gabriel Santana e Guilherme Gomez Guarche, além deste humilde escriba, nos informa que o Santos leva uma ampla vantagem nos confrontos diretos com o Bahia, o que nos dá boas expectativas para o confronto deste sábado, às 16 horas, na Vila Belmiro.
No total, Santos e Bahia já se enfrentaram 61 vezes, com 29 vitórias santistas, 13 empates e 19 vitórias do Bahia. O Santos marcou 125 gols e sofreu 83. Só pelo Campeonato Brasileiro fizeram 45 jogos, dos quais o Santos venceu 21, empatou 9 e perdeu 15, marcando 87 gols e sofrendo 54.
Na Vila Belmiro os dois times jogaram 17 vezes, com 10 vitórias do Santos, seis do Bahia e um empate, 37 gols santistas e 21 bahianos. Em jogos na Vila apenas pelo Campeonato Brasileiro foram 15 jogos, com nove vitórias do Santos, cinco derrotas e um empate, 32 gols a favor e 17 contra.
Três decisões em cinco anos
Guilherme Gomez Guarche
Tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra que se chamava Bahia e foi essa indigesta pedra baiana, que de forma surpreendente tirou do Alvinegro da Vila Belmiro o seu primeiro título de campeão brasileiro, há quase 60 anos.
A bem da verdade cumpre esclarecer que houve por parte da diretoria do Peixe um certo tom de soberba em relação ao time da Boa Terra, já que o próprio presidente santista pensava em definir a questão em dois jogos, ainda no mês de dezembro daquele ano de 1959, tanto é que ele programou uma excursão pela América do Sul com início no começo do ano seguinte.
E deu no que deu, já que o time da terra de Castro Alves venceu o 1º Campeonato Brasileiro ganhando a primeira partida da final em plena Vila Belmiro, por 3 a 2; depois perdeu a segunda, em Salvador, por 2 a 0, e sagrou-se campeão vencendo a terceira e decisiva partida no Maracanã, por 3 a 1, decepcionando os incrédulos torcedores peixeiros.
Na III edição do Campeonato Brasileiro, em 1961, o time santista ainda sentia o sabor amargo da perda do primeiro título nacional, dois anos antes, para o mesmo Bahia, que agora surgia à sua frente em nova decisão do campeonato. Era chegada a hora de devolver com juros e correção monetária aquela triste lembrança. E foi o que realmente aconteceu…
O Peixe empatou a primeira partida pelo placar de 1 a 1, no estádio da Fonte Nova, na capital baiana, e depois goleou o Tricolor da Boa Terra, no estádio Urbano Caldeira, por 5 a 1, numa exibição de gala em que se redimia do resultado negativo em 1959. Além da vingança, o Alvinegro se sagrava pela primeira vez campeão brasileiro.
Na final da edição do V Campeonato Brasileiro (na época denominado “Taça Brasil”) do ano de 1963, novamente o Alvinegro teve que enfrentar o time do Bahia, chamado carinhosamente por sua torcida de Bahêa, e o Santos, então já mundialmente aclamado como o maior time de futebol do planeta, atropelou a equipe da terra do soteropolitano Dorival Caymmi, vencendo a primeira partida da final pela acachapante goleada de 6 a 0, no estádio do Pacaembu, no dia em que a cidade paulistana completava 410 anos de fundação e recebeu como presente a exibição irretocável do ataque mágico que teve dois gols de Pelé, dois de Pepe, um Coutinho e um de Mengálvio.
Nesse festivo dia 25 de janeiro de 1964, um sábado à tarde, “o Santos de glórias mil”, como dizia o saudoso autor e dramaturgo Plínio Marcos, foi escalado pelo técnico Luiz Alonso Perez, o Lula, com Gylmar; Ismael, Mauro e Geraldino; Haroldo e Lima; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.
Na partida de volta, que deu ao Santos o tricampeonato brasileiro, o Bahia foi vencido por 2 a 0, no antigo estádio da Fonte Nova, na bela Salvador, dominado pela autoridade de um time que encantava pela magia de seu futebol-arte comandado pelo Rei Pelé. Foi também essa a última vez em que as duas equipes se encontraram em decisões de títulos.
Primeiro jogo
Amistoso realizado em 2 de abril de 1936
Estádio da Graça, Salvador, Bahia
Santos FC 2 x 1 EC Bahia
Gols do Santos: Raul (2)
Gol do Bahia: Armandinho
Santos: Cyro, Neves e Agostinho; Dino, Ferreira e Jango; Sacy, Moran, Raul, Araken e Antenor. Técnico: Virgílio Pinto de Oliveira, o Bilú.
Bahia: Hamilton, Bubu e Tarzan; Nouca, Neizinho e Vanderlei; Oto, Armandinho (Betinho), Romeu, Tintas e Moela.
Gols do Santos: Raul (2)
Gol do Bahia: Armandinho
Com a vitória, o Santos ganhou duas taças: Taça Prefeitura Municipal e Taça Companhia Construtora Universal Ltda.
Artilheiros santistas do confronto
1 – Pelé, 15 gols.
2 – Coutinho, 8 gols.
3 – Toninho Guerreiro, 7 gols.
4 – Viola, 6 gols.
5 – Bruno Henrique, 4 gols.