Pepe, o primeiro do Ataque dos Sonhos

Raul Estevan, do Memorial das Conquistas

Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe: por muito tempo ouvirão falar de nosso Ataque dos Sonhos. E dos cinco, um havia de ser o primeiro. Nascido no dia 25 de fevereiro de 1935, Pepe é o mais velho de nossos maiores.

Aquele ano foi especial para o time santista. Era ano da conquista do primeiro título paulista de nossa história e nascimento de dois grandes ídolos. Pepe, por acaso do destino, acabou sendo o mais velho dos dois. E grande acaso, porque no dia seguinte de seu nascimento, Dorval, seu futuro companheiro de ataque, vinha à Terra. Por um dia.

O Canhão da Vila também foi o primeiro dos cinco a vir a ser jogador do Santos. Mas por partes, e com calma — antes de ganhar fama por seu chute e vestir o Manto Sagrado, José Macia foi também um pequeno garoto com grandes ambições. Iniciou sua paixão com a bola no pé ainda em casa, na presença de seus irmãos. E aos nove já jogava nos clubes varzeanos de São Vicente, sua cidade natal.

Em 1951, chegava ao gramado da Vila Belmiro para uma peneira. De início, seu pai estava contrariado do caminho do filho, pois achava que não traria sucesso. Convencido por todos de que o garoto tinha talento, logo cedeu ao rumo inevitável do futuro craque. Pepe esbanjou sua técnica no teste e deixou sua marca-registrada: o canhão de perna esquerda.

Era um garoto apaixonado pelo esporte. De manhã jogava na Vila Belmiro e de tarde ia à cidade vizinha jogar na várzea. Pepe vivia o futebol. Gostava de jogar de boné, hábito que logo foi cortado por seu técnico no time infantil da base santista. Tinha também o costume de anotar e escrever em um caderno tudo sobre seus jogos, deixando eterno registro em tinta de seus feitos. E haja tinta para o ponta-esquerda. 

José Macia estreou no profissional do Alvinegro Praiano somente em 1954. O ano seguinte foi de glória, e ainda em janeiro de 1956 o Canhão da Vila conquistava o seu primeiro Campeonato Paulista em cima do Taubaté. Não imaginava à época que, anos depois, se tornaria o maior campeão do torneio. Fazia, na ocasião, vinte anos desde a conquista do último título, e o torcedor ansiava por esse momento. Já com muita estrela, o jovem Pepe de apenas 20 anos desfilou em campo para marcar o gol do time que se consagraria bicampeão paulista naquela noite.

Hoje completa 89 anos, e sempre com seu bom humor guarda e carrega todas suas brilhantes histórias com frescor na memória. Pepe segue sendo exemplo de juventude, graça e, até mesmo depois de 89 primaveras, muito conhecimento de futebol. Afinal, após o termino de sua carreira enquanto jogador, ainda decidiu que tinha mais a vencer no esporte; enquanto técnico, o Canhão da Vila foi o terceiro que mais treinou a equipe santista na história, guiando o time até a conquista do Campeonato Paulista de 73, último título de Pelé.

Ao lado do Rei pôde anotar 405 gols em 750 jogos, o que o torna o segundo maior artilheiro da história do Santos. Sempre com seu senso de humor afiado, Pepe costuma dizer que nenhum humano marcou mais gols pelo Alvinegro Praiano do que ele. ‘Pelé era um ET’, explica. Façamos melhor, então: com 405 gols marcados, o Canhão da Vila é o maior artilheiro humano do Santos. O filho de imigrantes espanhóis conquistou tudo pelo Peixe. No total, são 25 títulos oficiais, sendo 11 estaduais, 6 Brasileiros, 2 Libertadores e 2 Mundiais enquanto jogador. 

Repleta de lendas, a história santista orgulha a todos nós e, com muitos motivos, causa inveja a todas que nunca serão. Temos a sorte de torcer para essa camisa. Em meio a tudo isso, mais sortudos ainda de podermos ver certas figuras entrarem em campo com ela. Parabéns, Pepe! Por tudo, nós que o agradecemos. 

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