Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória
O primeiro contato de Pelé com a cidade de Santos e também com o Santos ocorreu no dia 22 de julho de 1956, nesse distante domingo ensolarado, o time santista enfrentava na Vila Belmiro a equipe do São Bento de São Caetano do Sul em partida válida pelo Campeonato Paulista.
O Peixe Campeão Paulista do ano anterior venceu pelo placar de 3 a 1 com dois gols de Vasconcelos e um de Tite. O técnico do Alvinegro era Luiz Alonso Perez, o consagrado Lula que mandou a campo o seguinte time: Manga; Hélvio e Ivan; Ramiro, Formiga e Zito; Tite, Jair Rosa Pinto, Pagão, Vasconcelos e Pepe. Essa foi a partida de nº 1439 na centenária história do Alvinegro.
O garoto Edson Arantes do Nascimento então com 15 anos assistiu ao lado de seu pai Dondinho e de Waldemar de Brito o time pelo qual passaria a defender nos próximos 18 anos. Dico como era chamado no seio familiar chegou na cidade vindo da capital paulista onde pernoitara com seu pai, e depois junto com seu técnico no Baquinho desceu à Serra do Mar para treinar no Peixe.
Dona Celeste a mãe do precoce atleta não gostou muito da ideia de ver o filho primogênito deixar Bauru, cidade onde residiam e se instalar na cidade de Santos sozinho, pois a pouca idade do garoto muito a preocupava, seo Dondinho era um ex-futebolista e enfrentou na carreira muitas contusões.
Após a partida, Waldemar de Brito fez questão de levar o garoto ao vestiário santista para ser apresentado ao técnico Lula que cumprimentou a jovem promessa falando: “Então é você o garoto que o Waldemar fala maravilhas, heim?”. O garoto ficou sem jeito e conheceu também o dono da camisa 10, o polemico artilheiro Valter Vasconcelos.
Dondinho conversou com ele e pediu para que o craque problemático tomasse conta do seu filho, Vasco como era chamado pelos colegas de time, gostava da noite e tinha fama de boêmio. No entanto levou a sério o pedido de Dondinho e foi muito responsável pela estadia do garoto no clube.
Na terça feira, o garoto participou do primeiro treino ao lado de jogadores consagrados no futebol paulista e posou em uma foto ao lado de Zito, o qual ele só conhecia de reportagens esportivas. E assim foi o início de sua carreira no time que ele ajudaria a divulgar no mundo todo e pelo qual conquistou muitos e muitos títulos no transcorrer de sua vida.
O brilhante jornalista Pena de Ouro da Literatura Esportiva, Adriano Neiva da Motta e Silva, o De Vaney foi o primeiro a escrever sobre o Rei Pelé no jornal A Tribuna antevendo o nascer de uma jovem promessa no ataque santista:
Contratou o Santos um moço que promete ser um crack
“Destacou-se sobremaneira o meia-direita que formou no time dos suplentes, com um trabalho sóbrio, porém de boas qualidades técnicas”. O departamento profissional do clube entrou em entendimentos com pai do jogador, João Ramos do Nascimento, o Dondinho, e Waldemar de Brito, “o famoso jogador do passado, que é o orientador intelectual da grande promessa futebolística”, e acertou-se que o jovem Edson Arantes do Nascimento receberia seis mil cruzeiros mensais (o equivalente a dois salários mínimos da época) e ganharia uma bolsa de estudos do Santos Futebol Clube para cursar o ginásio em um colégio da cidade.
Quatro meses depois seu protetor Vasconcelos quebrou a perna em um clássico diante do São Paulo, na Vila Belmiro em partida do Campeonato Paulista. A partir desse triste episódio com a saída do artilheiro Vasconcelos, o garoto Pelé que era conhecido no elenco como Gasolina se firmou na equipe principal passando a jogar com a camisa 10, a qual tornaria conhecida em todo o mundo.
Dai em diante todos conhecem a história do Atleta do Século, do Rei do Futebol que eternizou a camisa 10 do Santos e da Seleção Brasileira.