Por Pedro Mendes, do Memorial das Conquistas
Pouco mais de um ano antes da despedida de Rei Pelé da Vila Belmiro, em um 26 de agosto, o Santos venceu o Campeonato Paulista pela 13ª vez na história. Título marcado por uma verdadeira lambança da arbitragem, que fez com que a conquista acabasse dividida entre Santos e Portuguesa de Desportos.
A CAMPANHA
O torneio se dividiu em dois turnos, onde todas as 12 equipes se enfrentaram em partida única com o vencedor de cada turno garantindo seu lugar na grande decisão.
E logo na primeira parte do campeonato, o Santos garantiu sua vaga na final com uma campanha quase que impecável. Não perdeu um jogo sequer, teve a melhor defesa do primeiro turno e venceu oito das onze partidas disputadas, com destaque para a goleada por três a zero frente ao Corinthians.
No returno, o Peixe fez campanha mais discreta, não empolgou sua torcida e alcançou a quinta posição com apenas quatro triunfos em onze jogos disputados e viu a Portuguesa vencer o turno e se classificar para a finalíssima. Campanha que serviu de alerta para os craques santistas comandados pelo técnico recém promovido ao time profissional José Macia, o eterno Canhão da Vila Pepe.
A DECISÃO
A grande final da 72ª edição do Campeonato Paulista ficou para a história de forma inusitada, com um erro grotesco da arbitragem, confessado após a decisão pelo árbitro Armando Marques.
O dia 26 de agosto definitivamente foi um dia marcante para o futebol paulista. Nas arquibancadas, uma grande festa no Morumbi, 116 156 torcedores compareceram ao estádio, batendo o recorde de público que era da final do Paulista de 1971, quando o São Paulo venceu o Palmeiras na decisão e 103 887 pessoas acompanharam a partida.
Já em campo, o Peixe encarou a Lusa com Cejas, Zé Carlos, Carlos Alberto, Vicente e Turcão; Clodoaldo e Léo Oliveira; Jair da Costa (Brecha), Euzébio, Pelé e Edu.
O esquadrão santista, como é de sua característica, foi ofensivo durante todo o jogo, criou grandes oportunidades, mas a bola insistiu em não entrar. O Rei Pelé, artilheiro da competição, acertou a trave em três oportunidades e a partida terminou com um empate sem gols, levando o jogo para a prorrogação.
No tempo extra, os lusitanos incomodaram a meta santista, mas foram parados pelo goleiro Cejas, um dos maiores arqueiros da história do Peixe.
Nas penalidades, o Peixe abriu as cobranças com Zé Carlos e o chute foi defendido pelo goleiro Zecão. Do lado Luso, Isidoro chutou e Cejas fez grande defesa para manter o placar em zero a zero.
Na sequência, o experiente santista Carlos Alberto bateu com categoria no canto a abriu o marcador das penalidades. Cejas novamente se impôs, defendeu a cobrança de Calegari e colocou o Alvinegro Praiano em vantagem.
Vantagem que foi ampliada por Edu após chute forte do lado direito da meta da Lusa. Na terceira cobrança da Portuguesa, Wilsinho acertou o travessão para a comemoração do goleiro Cejas, que contagiou os companheiros e torcida, confundindo o juiz Armando Marques, que encerrou a partida e deu o Santos como campeão.
Mas, pela lógica matemática das penalidades, ainda havia chance de empate nas cobranças, erro que não foi notado por nenhuma autoridade ou dirigente.
Após perceberem o engano já era tarde, a equipe da Portuguesa havia deixado o Morumbi, e em reunião no vestiário com dirigentes da Federação Paulista e dos dois clubes, foi decidido dividir o título entre as equipes.
Decisão delicada já que o Peixe só perderia caso Pelé e Léo Oliveira, o batedor oficial santista, desperdiçassem suas cobranças e os jogadores da Lusa marcassem nas duas últimas.
No final das contas, título dividido e marcado na história do futebol pela lambança do juiz e por ter sido o último de Pelé com a camisa do Santos Futebol Clube.