Paulistão de 2011, o show na hora certa

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Nesta sexta-feira, 15 de maio, comemoramos o nono aniversário do título paulista de 2011. O Santos se dividia entre a Copa Libertadores e o Paulista e chegou à fase decisiva do Estadual desgastado, mas confiante. Ganso, 22 anos, voltava após longo tempo afastado por contusão, Elano retornara da Europa e Neymar, 19 aninhos de talento e ousadia, vivia o seu auge. Que time de São Paulo poderia segurar o Peixe?
Não se tratava, porém, de uma equipe arrasadora, que saía goleando todo mundo. Dava a impressão de estar guardando seu melhor futebol para o momento decisivo, a partir das quartas de final. Nos 19 jogos da etapa classificatória obteve 11 vitórias, cinco empates e três derrotas, nada excepcional, portanto.
Nos sete jogos iniciais o Santos fora dirigido pelo técnico Adilson Batista, que conseguiu quatro vitórias e três empates. O interino Marcelo Martelotte assumiu o posto por 10 jogos, obtendo seis vitórias, um empate e três derrotas. O experiente Muricy Ramalho o substituiu depois do time perder para o Palmeiras, na Vila Belmiro, por 1 a 0.
O Santos até que foi melhor que o Palmeiras, mas havia algum desequilíbrio entre os setores da equipe, e a defesa parecia sempre desprotegida. O defensivista Muricy veio com a intenção de fazer os jogadores marcarem atrás da linha da bola e este simples detalhe não só trouxe mais solidez ao Alvinegro, como o levaria à conquista do Paulista e da Libertadores em apenas uma semana.
Ganhou quando precisava
Mesmo mais voltado ao ataque, com jogadores de estilo ofensivo como Neymar, Zé Eduardo, Ganso, Elano, Alan Patrick e Zé Eduardo, o Santos só ganhou quatro jogos com uma diferença de três gols em todo o campeonato: 4 a 1 no Linense e 3 a 0 no Mirassol, na Portuguesa de Desportos e no Paulista. No mais, fez o suficiente para alcançar a fase final, quando tudo se decidiria.
Quarto lugar na classificação geral, nas quartas de final o Santos enfrentou a Ponte Preta, quinta colocada, em jogo único, na Vila Belmiro. O Alvinegro Praiano não criou tantas chances, mas dava para perceber que seu sistema defensivo estava mais firme.
O gol saiu aos 20 minutos, quando Neymar recebeu na entrada da área, matou com o pé direito, jogou a bola para o esquerdo e acertou uma bomba que entrou no ângulo direito do goleiro Bruno. 1 a 0, o suficiente para passar à semifinal.
Líder da competição na fase classificatória, o São Paulo tinha acumulado 44 pontos ganhos até ali, três a mais do que o Santos. Por isso teve o direito de jogar a semifinal no Morumbi, que naquele 30 de abril recebeu 44 675 pagantes, o recorde de público no campeonato.
O adversário tinha bons jogadores, como Rogério Ceni, Alex Silva, Miranda, Casemiro, Dagoberto (até os veteranos Fernandão e Rivaldo entraram na partida), mas o Santos era bem mais harmonioso e só teve de esperar as chances surgirem.
Aos 15 minutos do segundo tempo Ganso dominou pelo lado esquerdo da grande área, ergueu a cabeça e colocou a bola na medida para a testada de Elano no contrapé de Ceni. Aos 27 minutos Neymar tirou até o goleiro da jogada e recuou para Ganso chapar da entrada da área e definir a vitória e a passagem para a final.
Novo encontro com o velho rival
Clássico mais antigo de São Paulo, jogado pela primeira vez em 22 de junho de 1913 (com goleada santista por 6 a 3), Santos e Corinthians fazem o que Pelé define como “O Grande Jogo” do futebol brasileiro. Ninguém fica indiferente a este duelo que representa a maior rivalidade alvinegra do futebol. Na final do Paulista de 2011 a história se repetiu.
Ambos foram para a fase eliminatória com os mesmos 38 pontos ganhos, mas como o Santos venceu Ponte e São Paulo, e o Corinthians passou pelo Oeste, mas empatou com o Palmeiras, a quem eliminou nos pênaltis, o Alvinegro Praiano foi para a final com um ponto ganho a mais, o que fez com que pudesse jogar a segunda partida da decisão no lendário Urbano Caldeira.
O segundo maior público do campeonato – 34 547 pagantes – lotou o Pacaembu para ver o primeiro confronto da decisão. Na fase de classificação o adversário tinha vencido o Santos, naquele mesmo estádio, por 3 a 1. Treinado por Tite, o alvinegro paulistano tinha bons jogadores, como Fábio Santos, Ralf, Paulinho, Jorge Henrique, Liédson e Dentinho.
O santista sabe que em uma decisão contra o velho rival nem sempre são apenas os jogadores que decidem. Os chamados fatores extra campo já interferiram várias vezes no confronto. Naquela primeira partida, porém, o precavido Santos de Muricy não deu sopa para o azar. Segurou-se bem na defesa e ainda teve ótimas chances com Danilo e Neymar. O empate sem gols deixou a decisão para a Vila.
Melhor em tudo
Em 15 de maio a Vila Belmiro recebeu 14 322 pagantes para ver a final do Paulista, uma repetição de dois anos atrás, quando o Santos criou muitas oportunidades, mas perdeu na Vila, empatou no Pacaembu e acabou em segundo lugar. Dessa vez, porém, mais maduro, o Alvinegro Praiano era o favorito para conquistar seu décimo nono título paulista.
Sem contar com Ganso, que se machucou no primeiro jogo da final e só voltaria no mês seguinte, Muricy definiu o Santos com Rafael, Jonathan (depois Pará), Edu Dracena, Durval e Léo (Alex Sandro); Adriano, Arouca, Elano e Alan Patrick (Rodrigo Possebom); Neymar e Zé Eduardo.
Tite escalou o Corinthians com Júlio Cesar, Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos; Ralf, Paulinho (depois Cachito), Bruno César (Morais) e Jorge Henrique; Dentinho (Willian) e Liedson. Na arbitragem, Luiz Flávio de Oliveira, auxiliado por David Botelho Barbosa e Tatiane Sacilotti dos Santos Camargo.
No papel poderia haver algum equilíbrio, porém mal o jogo começou e só se viu um time no ataque. Uma chance, duas chances, até que aos 16 minutos Léo veio da esquerda para o meio, deu uma cavadinha com o pé direito para a área. Um jogador adversário tentou cortar de cabeça e a bola caiu, limpa, para Zé Eduardo, o Zé Love, à esquerda da grande área. Ele matou com a direita e já virou para o gol com a esquerda. Talvez sua intenção fosse arrematar para a meta, mas a bola saiu na paralela e encontrou Arouca, que penetrava pelo meio e tocou com o pé direito, de chapa, no contrapé do goleiro.
Arouca ainda não tinha marcado nenhum gol com a camisa do Santos e isso já era motivo de gozação entre os companheiros. Antes do jogo, porém, ele disse que tinha sonhado que faria o gol do título. Provavelmente também duvidaram dele, e por isso ele não queria que ninguém o abraçasse na comemoração do gol.
Na sequência da partida o mesmo Arouca acertou a trave em um chute de fora da área, Zé Eduardo e Alan Patrick perderam boas oportunidades e aos 42 minutos Neymar ficou sozinho diante de Júlio Cesar. Teve tempo de pensar, escolher o canto, mas tentou jogar entre as pernas do goleiro, que pensou rápido e impediu o gol. Enfim, se o primeiro tempo terminasse 3 a 0, não seria nenhuma surpresa.
Nada mudou na segunda etapa. Aos dois minutos Patrick teve um gol anulado por impedimento, o segundo gol anulado do Santos no jogo. Nesse momento a transmissão de tevê mostrou Ronaldo Macário, herói do adversário na conquista de 2009, assistindo ao jogo das tribunas, com cara de poucos amigos.
O adversário só tentava o gol em chutes de longa distância ou na famigerada bola parada. O Santos continuava melhor, mas o segundo gol não saía. Até que aos 38 minutos, em meio à fumaça de sinalizadores e à chuva fina, Zé Eduardo pegou a bola pela esquerda, segurou, esperou Neymar se colocar e lhe passou a bola.
Como se o tempo fosse cíclico e voltasse à final do Brasileiro de 2002, também entre os dois rivais, Neymar, como Robinho, carregou a bola para cima de Chicão, como Rogério. Mas Chicão não dava combate, só recuava. Então, já dentro da área, Neymar caprichou no chute seco, rápido, entre as pernas do zagueiro. Sem visão da jogada e traído pelo campo escorregadio, Júlio Cesar não conseguiu segurar a bola, que seguiu lentamente para o fundo do gol.
Neymar comemorou tirando a camisa, como se o jogo já estivesse decidido e um cartão amarelo não fizesse mal nenhum. Mas o santista da velha guarda sabe que não dá para comemorar uma vitória do Santos quando ainda faltam sete minutos para o fim, pois nesses momentos o time costuma ter uma crise de desatenção terrível.
Aos 41 minutos, Morais, que entrara no lugar de Bruno César, jogou a bola na área sem grandes pretensões, mas a maldita passou por todo mundo e enganou o goleiro Rafael. Este gol tornou os últimos momentos nervosos, mas o Santos teve tranquilidade para evitar outro cochilo.
Com seu desempenho nos confrontos finais o Santos arredondou uma campanha que acabou sendo a melhor em todos os quesitos. O time terminou com mais pontos ganhos (49 contra 43 do Corinthians), mais vitórias (14 contra 12), ataque mais positivo do campeonato (45 contra 36) e maior saldo de gols (24 contra 23).
Na seleção do campeonato o Alvinegro Praiano foi o time com mais jogadores: Edu Dracena, Léo, Elano e Neymar. Também fez o artilheiro da competição, Elano, com 11 gols, empatado com Liédson. E o craque escolhido daquele Paulistão, como não poderia deixar de ser, foi o Menino da Vila Neymar.

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