Paulista de 1958, a explosão do Santos de Pelé

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Era o ano iluminado de 1958. Iniciava-se a construção da revolucionária Brasília, surgia o Cinema Novo e a Bossa Nova, Maria Esther Bueno começava a dominar o tênis mundial, o futebol brasileiro conquistava sua primeira Copa, na Suécia, e em São Paulo um time assombroso chamado Santos, pelo qual jogava um menino mágico chamado Pelé, quebrava todos os paradigmas ao vencer o Campeonato Paulista com uma campanha escandalosa.
O título foi garantido em um domingo, 14 de dezembro de 1958, com uma goleada de 7 a 1 sobre o Guarani, em Campinas, em que Pelé marcou quatro gols. Depois, ele marcaria mais dois na última rodada, no empate de 2 a 2 com o São Paulo, atingindo a assustadora marca de 58 gols, recorde de artilharia que permanece até hoje na história dos Campeonatos Paulistas.
O time que comemorou o título em Campinas foi escalado pelo técnico Lula com Manga, Ramiro e Dalmo; Getúlio, Urubatão e Zito; Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe. Um destaque do Guarani era Friaça, veterano ponta-direita, de 34 anos, autor do único gol do Brasil na decisão da malfadada Copa de 1950, contra o Uruguai. Outro atacante do Guarani, o meia-esquerda Benê, então com 23 anos, faria sucesso no São Paulo e só não iria para a Copa de 1962 porque os médicos constataram um “sopro” no seu coração.
A goleada sobre o Guarani foi o fecho de uma campanha prodigiosa. Em 38 jogos o Santos obteve 29 vitórias, não perdeu nenhum clássico e sofreu apenas três derrotas, todas no Interior, para Noroeste, Taubaté e Ferroviária. O Alvinegro marcou 143 gols, média de 3,76 gols por jogo, teve um saldo de 103 gols e aplicou goleadas estonteantes, como 10 a 0 no Nacional, 9 a 1 no Comercial, 8 a 1 no Guarani e no Ypiranga, 7 a 1 no Juventus e no Guarani, 6 a 1 no Corinthians (com Pelé ainda chutando um pênalti na trave)…
O título, o quarto Paulista do Santos, veio depois de uma disputa renhida com o São Paulo, o campeão do ano anterior. Em 1957 o Alvinegro ficara um ponto atrás do tricolor, prejudicado pela arbitragem do inglês Johann Prubil no confronto direto – a imprensa disse que o inglês não marcou dois pênaltis a favor do Alvinegro e o jogo terminou 2 a 2. Uma vitória santista e o tricampeonato estaria a caminho.
Em 1958 o Santos só não seria campeão se perdesse para Guarani e São Paulo nas duas últimas rodadas e depois perdesse também o jogo desempate com o tricolor. Mas no primeiro tempo da partida em Campinas Pelé marcou aos 18 e 38 minutos, abrindo o caminho para o título. Logo aos três minutos da segunda etapa, Bidon, contra, fez o terceiro do Santos. Depois, Pelé marcou aos oito e Pepe aos dez, elevando a goleada para 5 a 0. Benê diminuiu aos 16, mas Dorval aos 29, e Pelé aos 34 definiram os 7 a 1 finais. Poucas vezes um campeão sacramentou sua conquista de forma tão arrasadora.
O interessante é que, mesmo assombrosa, a campanha do Santos no Paulista de 1958 não foi uma exceção. No ano seguinte, mesmo perdendo o título em uma super decisão de três jogos com o Palmeiras, o Alvinegro marcou 155 gols em 41 jogos, média de 3,78 gols por partida. E no tricampeonato paulista de 1960/61/62 chegou aos 100 gols nas três edições.
Como se sabe, o Santos prosseguiria comandando o futebol paulista até o final da década de 60, quando estabeleceu uma hegemonia inédita no campeonato estadual mais valorizado do País. De 1955 a 1969, em 15 anos de disputa, o Alvinegro Praiano foi nada menos do que 11 vezes campeão.
Há 106 anos, o primeiro título
Também em um domingo, 14 de dezembro, só que no longínquo ano de 1913, o Santos obteve uma conquista pioneira. A goleada sobre o Atlético Santista por 7 a 0, no Campo da Avenida Ana Costa, entrou para a história como o primeiro dos muitos títulos do vitorioso Alvinegro Praiano: o Campeonato Santista.
O placar foi obtido apenas no primeiro tempo, já que o adversário não retornou para o segundo. O Santos jogou com Durval Damasceno, Ernani Toledo e Pilar; José Pereira, Ambrósio e Ricardo Pinto; Adolpho Millon, Haroldo Pires Domingues, Willian Paul, Harold Cross e Arnaldo Silveira. Técnico, Urbano Caldeira.
O Atlético Santista se apresentou com Edgard, Herculano e Sócrates; Dello, J. Martins e Lauro; Álvaro, João, Odair, Norioval e Marçal. Na disputa dos segundos quadros houve empate de 1 a 1 e com esse resultado o Santos também ganhou o título santista da categoria. A esses pioneiros, nossa gratidão.

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