Para sempre, Menino da Vila

Raul Estevan, do Memorial das Conquistas

Em um formato inédito para o Santos, a Recopa Sul-Americana de 2012 foi conquistada em dois jogos, em 22 de agosto e 26 de setembro daquele mesmo ano. Vencido por 2 a 0, no segundo e decisivo jogo, mais uma vez, uma estrela brilhou.

Disputada entre o então campeão da Copa Libertadores e o campeão da Copa Sul-Americana, Universidade do Chile, a taça foi levantada pela primeira vez por mãos santistas. Por outro lado, seria a última levantada pelo Príncipe da Vila.

O torneio da Recopa já havia sido disputado pela equipe santista em um formato diferente e com vitória alvinegra. Entretanto, esse título havia sido conquistado ainda na Era Pelé, e o Peixe buscava levantar novamente o troféu de campeão dos campeões. Com nova cara, o título veio numa quarta-feira, em solo paulista, no mesmo local em que havia vencido sua terceira Libertadores no ano anterior.

Após empatar com o time chileno em uma noite fria em Santiago por 0 a 0, o Alvinegro Praiano buscou a vitória no Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu. Tão famoso por ser palco de grandes momentos, o local novamente ficou pequeno para o show. À época, o futebol que ficou conhecido como arte tinha seus museus favoritos, e seu grande artista entregava uma de suas últimas obras.

Neymar, o Menino da Vila que conquistou os olhares e a atenção de todos, surgiu excêntrico, como um raio que caía em um mesmo lugar. Para o Santos, não seria a primeira vez — e nem a última. O garoto de apenas 20 anos era protagonista, de novo, de um título.  Subiu à sua galeria acompanhado de Rafael, Bruno Peres, Bruno Rodrigo, Durval, Léo, Adriano, Arouca, Felipe Anderson, Patito Rodríguez, André e o técnico Muricy Ramalho. Mas desta vez, algo era diferente: o garoto já tão laureado subia em campo, pela primeira e última vez, para vencer um torneio com a faixa de capitão.

Como a noite paulista era bonita, pedia um bom futebol. Por sorte dos 22.388 pagantes presentes, o Peixe sabia entregá-lo como nenhum outro. Em um primeiro tempo de começo lento, o embalo logo veio. Aos 27 minutos, o capitão tabelava com André na entrada da área e, em um chute sem chances para o goleiro chileno, o placar era aberto em favor santista.

Mas o show apenas começava. O time de artistas era moderno; e não trabalhava exatamente com quadros. Léo, dava canetas. Neymar, chapéus. Mas é fato que, anos depois, o que fica na memória dos bons apreciadores são pinturas. No segundo tempo, bastou um cruzamento na área para definir o segundo gol e o campeão. De meio-campista para zagueiro, Felipe Anderson levanta a bola e Bruno Rodrigo marca o seu.

Ao fim do jogo, uma festa diferente se instaurava. De maneira inédita, o príncipe santista foi o primeiro a levantar o troféu que, após mais de vinte edições de torneio, se juntaria às outras taças na Vila Belmiro.

 Neymar, em seu sexto título pelo Alvinegro Praiano, não sabia que seria uma última vez — afinal, o amanhã é sempre incerto. O livro não se fecha, e as páginas em branco ficam a serem escritas. Mesmo transformado em homem e pronto para novos horizontes, o menino sempre terá a sua casa para guardar suas memórias. E a história, escrita dia após dia, segue para ser contada.

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