Por Gabriel Santana, Guilherme Guarche e Odir Cunha, do Centro de Memória
Um centroavante que começou como vendedor de jornais no Centro de Santos e virou ídolo e artilheiro do Alvinegro Praiano foi o autor do gol 3000 do time que mais gols fez na história do futebol. Odair dos Santos, apelidado desde pequeno de Odair Titica (“uma titica de gente”), marcou dois gols na vitória de 4 a 1 sobre o Nacional, em São Paulo, pelo Campeonato Paulista de 1950, e o seu segundo gol, o quarto do Santos, aos 37 minutos do segundo tempo, foi justamente o que entrou para a história naquele sábado, 16 de setembro de 1950.
O Santos estava começando a engrenar no Campeonato Paulista de 1950, após vitórias por 3 a 2 sobre o São Paulo e 5 a 2 sobre o XV de Piracicaba, ambas na Vila Belmiro. Naquele sábado, foi à capital enfrentar o Nacional Atlético Clube, agremiação de origem inglesa que até 1945 se chamava São Paulo Railway e tem seu estádio na Rua Nicolau Alayon, bairro da Água Branca, hoje em frente aos CTs de São Paulo e Palmeiras.
Com um bom time, comandado pelo meia Antoninho, “O Arquiteto da Bola”, o Santos foi escalado pelo técnico Luiz Comitante com Leonídio, Hélvio e Dinho; Nenê, Pascoal e Ivan; Alemãozinho, Antoninho, Nicácio, Odair e Pinhegas.
O Nacional, que acabaria terminando o campeonato na penúltima posição, jogou com Ivo, Mário e Gérsio; Damasceno, Carlos e Henrique; Plácido, Paulo, Paulinho, Charuto e Turelli. O árbitro da partida foi mister Harry Rowley.
Para euforia da torcida local, logo a um minuto de jogo Charuto venceu o goleiro Leonídio e abriu o marcador. Antes do final da primeira etapa, porém, Odair, aos 19, e Antoninho, aos 23, já tinham virado o marcador. No segundo tempo, Nicácio marcou o gol 2.999 do Santos aos 17 minutos, e Odair fez o de número 3000 aos 37 (para o jornal Folha de São Paulo, entretanto, o segundo gol do Santos foi marcado por Pinhegas).
Um legítimo Menino da Vila
Nascido em Santos em 7 de dezembro de 1925, Odair dos Santos foi descoberto nas “Manhãs Esportivas” promovidas pelo Alvinegro Praiano para descobrir garotos bons de bola. Rápido e com facilidade para marcar gols de cabeça, logo foi convidado para treinar no clube.
Estreou no time principal em 23 de junho de 1943, na vitória do Santos por 5 a 1 em um amistoso na Vila Belmiro contra um combinado Portuguesa Santista/Jabaquara,em que o Santos jogou com Cyro, Aníbal (Américo) e Abreu; Nenê (Ayala), Gradim e Antero; Odair, Magnones (Gabardinho), Echevarrieta, Antoninho e Ruy Gomide. Os gols santistas foram marcados por Antoninho (2), Echevarrieta (2) e Ruy Gomide.
Centroavante nato, Odair se tornaria o artilheiro máximo do Santos de 1948 a 1951. Em uma vitória de 5 a 4 sobre o Comercial da capital marcou os cinco gols santistas, e todos de cabeça! Permaneceu no Santos por nove anos, desligando-se do clube em 1º de maio de 1952 para ir para o Palmeiras.
Encerrou sua carreira no Jabaquara, ao lado de Antoninho e Nicácio, seus companheiros do Peixe. Depois trabalhou na estiva do Porto de Santos e, por dez anos, na loja de artigos esportivos de Carlos Pierin, o goleiro Lalá.
O grande artilheiro faleceu em 7 de maio de 1996, aos 70 anos, em Santos, mas deixou seu nome na história do clube. Em 225 jogos com a camisa do Santos marcou 134 gols e é o décimo quarto maior artilheiro do clube.
Detalhes
A crença popular de que os destinos no futebol são decididos por detalhes se aplica não só a Odair, mas ao Santos daquele Campeonato Paulista de 1950.
Como se sabe, o Santos de Odair e Antoninho terminou a competição em segundo lugar, a apenas um ponto ganho do Palmeiras e com as mesmas 13 vitórias do campeão. O que poucos sabem é que o campeão daquele ano representou o Estado de São Paulo na Copa Rio de 1951, a mesma que valeu ao Palmeiras o polêmico e tão contestado título mundial.
Portanto, com dois pontinhos a mais o Santos seria o campeão paulista de 1950 e representaria o Estado no torneio internacional decidido no Maracanã. O detalhe insólito é que no Campeonato Paulista de 1950 o Santos não perdeu nenhum dos seis jogos que fez contra Palmeiras, São Paulo e Corinthians, que a imprensa da capital já chamava de “trio de ferro”.
Na Vila Belmiro venceu São Paulo (3 a 2) e Corinthians (2 a 1) e empatou com o Palmeiras (1 a 1); no Pacaembu derrotou Palmeiras (4 a 2) e São Paulo (2 a 1); e no Parque São Jorge empatou com o Corinthians (2 a 2). Então, onde está o detalhe? Bem, o detalhe era então o quinto grande de São Paulo e se chama Portuguesa de Desportos.
Com um ataque poderoso, comandado por Pinga, o artilheiro do campeonato, a Portuguesa venceu o Santos por 3 a 2 no Pacaembu e goleou por surpreendentes 6 a 1 na Vila! Assim, uma única vitória sobre a Lusa, ou dois empates, e a história e o destino de Odair e do Santos em 1950 seriam ainda mais empolgantes.