Nicolas Godoi, do Memorial das Conquistas
A campanha
O pontapé inicial da era mais vitoriosa do Santos ocorreu no dia 29 de março de 1956. A goleada por 5 a 2 sobre o Newell ‘s Old Boys da Argentina garantiu a conquista do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, seu primeiro triunfo internacional.
A equipe santista vinha embalada pela conquista do Campeonato Paulista de 1955, e ao lado de outras quatro equipes paulistas (Corinthians, Palmeiras, Portuguesa e São Paulo), se classificou para a disputa do torneio, além do Nacional-URU, e as equipes argentinas Boca Juniors e Newell ‘s.
As polêmicas começaram antes mesmo da bola rolar, visto que os times cariocas pediram o adiamento da competição. A principal alegação era que os próprios seriam mais prejudicados por conta das convocações para a Seleção Brasileira; os clubes paulistas queriam que o torneio acontecesse na data marcada. A Confederação Brasileira de Desportos teve que intervir e deu ganho de causa para os paulistas.
O regulamento da competição previa que os times brasileiros enfrentassem apenas as equipes estrangeiras; as duas melhores campanhas disputariam uma final. O Santos teve a Vila Belmiro como palco das três partidas da primeira fase e, sem dificuldades, atropelou todos os adversários: 4 a 2 contra o Newell’s, 3 a 2 de virada contra o Boca e 5 a 0 contra o tricampeão uruguaio Nacional; os resultados credenciaram o Alvinegro Praiano a jogar a final.
A grande final foi realizada no Pacaembu, e o time estrangeiro melhor colocado foi o Newell’s; com um primeiro tempo avassalador, o Peixe abriu 3 a 0, com gols de Pagão, Pepe e Vasconcelos, praticamente liquidando o título; no segundo tempo, a equipe santista não parou e logo no começo, de pênalti, Pagão fez o quarto gol; os argentinos descontaram duas vezes, porém Del Vecchio marcou o quinto e assegurou a conquista santista. Pagão garantiu a artilharia do campeonato e Pepe a vice-artilharia.
Pepe, com ainda 21 anos, teve grande protagonismo no título, já demonstrava que se tornaria um grande ídolo. Fez sua estreia com a camisa do Peixe aos 14 anos, tornando-se o jogador mais jovem a vestir o Manto Sagrado, mais tarde foi peça fundamental do chamado “Ataque dos Sonhos” , marcando de vez seu nome na história do clube, e com 405 gols segue até hoje como o segundo maior artilheiro do clube, atrás apenas de Pelé.
O simbolismo
O título forçou a imprensa a olhar o Santos de outra forma, pois mesmo sem ser uma equipe da capital, aquela geração já se mostrava com o potencial de ser o melhor time do futebol nacional e não apenas um fenômeno regional. Jornais da época classificaram o Alvinegro Praiano como uma verdadeira academia de futebol, jogadores daquele time formariam a base da Seleção Brasileira que vinha em crise depois dos fracassos da Copa do Mundo de 1954 e do Sul-Americano de 1956.
Dois anos antes, em 1954, o Peixe fez sua primeira partida fora do Brasil contra o Gymnasia y Esgrima na Argentina, dando início à internacionalização do clube, portanto a conquista também possui um valor histórico, pois na época era inimaginável uma equipe brasileira conseguir notoriedade internacional. Hoje, 70 anos depois, os quatro cantos do mundo já ouviram falar do Santos. As excursões tornaram-se uma característica marcante do clube, com 71 países visitados, o Peixe é o time que mais jogou em países diferentes na história do futebol mundial, consolidando a marca “Santos do Mundo”.
O Troféu
O troféu está exposto no Memorial das Conquistas e para muitos torcedores é a peça mais bonita do nosso acervo. O nome oficial é Doutor Lino de Matos, porém por conta de seu desenho ficou popularmente conhecida como a “Deusa Alada”, que na mitologia grega se chama Niké, classificada como a personificação da vitória, palavra que descreve perfeitamente aquela geração mágica.