O primeiro título a gente nunca esquece

Guilherme Gomez Guarche do Centro de Memória

Vencer o tradicional arquirrival é sempre motivo de comemoração por parte dos torcedores do Santos. Vencê-los dentro de seus domínios não tem preço e vindo junto com vitória a conquista do primeiro título expressivo na história do Santos, há 89 anos, é algo sempre lembrado com uma alegria contagiante.

Esse primeiro título na vida do Santos é inesquecível. A conquista aconteceu contra o Corinthians no dia 17 de novembro de 1935, jogando no Parque São Jorge, na vitória pelo placar de 2 a 0 com gols de Raul Cabral Guedes e Araken Patusca.

O time que se sagrou campeão paulista naquela data formou com Ciro; Neves e Agostinho; Ferreira, Marteletti e Jango; Saci, Mario Pereira, Raul, Araken e Junqueirinha.  

Até hoje o time Alvinegro conquistou 22 títulos paulistas e todos na época do futebol profissional no Brasil. A partida nº 574 na história do Alvinegro, a memorável façanha santista, foi no certame elaborado pela Liga Paulista de Futebol. O técnico era Virgílio Pinto de Oliveira, o popular Bilu, o Rei do Carrinho como também era conhecido na época em que jogava na defesa do time da Vila Belmiro.

Segundo entrevista do “Perigo Loiro”, Mário Pereira, caso o time santista fosse prejudicado pela arbitragem da partida, o então presidente Alvinegro, Carlos de Barros tinha dado uma ordem aos inúmeros estivadores do Porto de Santos, que viajaram levando um galão contendo gasolina em um dos vários vagões do trem da São Paulo Railway alugados especialmente para conduzir a torcida do Peixe na partida final: que colocassem fogo nas arquibancadas de madeira do estádio.

Graças a Deus não foi preciso incendiar o campo, pois o time santista venceu e conquistou o tão almejado título. O segundo quadro santista também se sagrou campeão paulista.

O ídolo maior do onze praiano era Araken Patusca, filho do primeiro presidente santista, Sizino Patusca, e irmão do artilheiro Ary Patusca. Araken jogou pelo time que aprendeu a amar, desde pequenino, exatas 197 partidas, marcando 184 gols e é o sétimo artilheiro do Peixe no ranking geral dos artilheiros praianos. Araken foi também o artilheiro santista em partidas do campeonato paulista, no ano de 1927.

A imprensa assim noticiou a inédita conquista santista:

“O feito brilhante do Santos, no campeonato da Liga Paulista, este anno encheu de justo contentamento a população esportiva da cidade. Nunca se constataram no terreno do esporte tantas e tão vivas demonstrações de enthusiasmo. Logo que os radios annunciaram a victoria final, as ruas começaram a movimentar-se, como se qualquer coisa de anormal e estranho houvesse acontecido. Em pouco tempo, a praça Ruy Barbosa, em frente ao “Café Paulista”, estava repleta de pessoas, e à medida que se aproximava a hora da chegada da delegação, o publico ia aumentando. Tomaram-se preparativos para que a recepção fosse condigna.

Duas bandas de musica esperavam os campeões. Estenderam-se cartazes na rua do Commercio, por onde deveriam passar os jogadores. De tudo se cuidou com carinho. Todos se interessavam pelo brilhantismo da chegada do alvi-negro. Não havia clubismo. Elementos de todos os gremios se faziam representar na estação da inglesa. Era uma victoria do Santos e da cidade de Santos.

Innenarravel o que se passou quando o comboio que conduzia o Santos deu entrada na “gare”. Os jogadores campeões foram como que arrancados dos carros e trazidos para a rua. aos hombros dos aficionados. Flôres cobriam os defensores do Santos. A satisfação era indisfarçavel. Abraços e mais abraços. Vivas e hurras. Contentamento geral. As bandas de musica executaram as primeiras marchas e ahi o enthusiasmo attingiu o auge. Espectaculo indescriptivel. E a multidão começou a caminhar vagarosamente, em demanda da cidade, engrossando cada vez mais, vivando sempre os campeões. Na praça Ruy Barbosa subiram ao ar muitos foguetes.

Os jogadores conduzidos nos hombros dos torcedores, e assim vieram até a redação desta folha.

Ahi fizeram uma parada e foram saudados. Os milhares de manifestantes dispersaram-se sómente depois que os jogadores deram entrada na séde do clube, onde se repetiram, com a mesma intensidade, as grandes manisfestações de enthusiasmo.

Em todo esse enthusiasmo pela victoria do Santos não se póde esquecer a figura dedicada de Virgílio Pinto de Oliveira (Bilu), a quem coube, nesta temporada, o difficil encargo de tudo prover technicamente na turma do Santos.

Foi elle quem, com acertadas medidas, óra modificando, óra incluindo novos elementos, incentivando-os e animando-os, conduziu o time do Santos à victoria final.

Dentre os elementos por elle “descobertos” destacam-se Mario Pereira, que, ainda militante no quadro juvenil, no anno passado, se tornou em curto espaço de tempo campeão paulista. Os progressos do “mignon” futebolista foram rapidos e hoje póde ser considerado um dos titulares da equipe.

São campeões paulistas de 1935, os seguintes jogadores: Cyro, Neves, Meira, Agostinho, Ferreira, A. Figueira, Marteletti, Jango, Sacy, Mario Pereira, Biruta, Delso, Raul, Araken, Sandro, Logu e Junqueirinha.

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