O primeiro gol do Rei a gente nunca esquece  

Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória  

O então prefeito da progressista Santo André, a “Terra-Mãe dos Paulistas”, convidou o time do Santos para uma partida de caráter amistosa contra a equipe local do Corinthians FC. E foi no feriado nacional no dia 7 de setembro de 1956, no período vespertino de uma sexta-feira, que o time santista jogou no Estádio Américo Guazzelli (hoje demolido) e venceu pelo placar de 7 a 1.

O técnico Luiz Alonso Perez, o Lula, mandou a campo a seguinte formação: Manga; Hélvio e Ivan (depois Cássio); Ramiro (Fioti), Urubatão e Zito (Feijó); Alfredinho (Dorval), Álvaro (Raimundinho), Del Vecchio (Pelé), Jair Rosa Pinto e Tite.                                                                

O Corinthians, que tem o apelido de Galo Preto da Vila Alzira, também chamado carinhosamente pelos seus adeptos de Corintinha jogou com Antoninho (depois Zaluar); Bugre e Chicão (Itamar); Mendes, Zico e Chanca; Vilmar, Cica, Teleco (Baiano), Rubens e Dore. O árbitro foi Emilio Ramos. A vitória deu ao Santos o troféu Independência, o primeiro ganho pelo Rei Pelé.               

A partida, disputada com portões abertos, debaixo de uma temperatura elevada, foi dominada o tempo todo pelo time santista que impôs seu ritmo de jogo não deixando o “Galo da Vila Alzira” participar do jogo, sendo um mero espectador.

Coube ao ponta-direita Alfredo Sampaio Filho, o Alfredinho lambreta, que ingressou no time do Alvinegro no ano anterior, veloz atacante nascido na cidade de Cascavel, no Ceará, marcar o primeiro gol da goleada aos 33 minutos da etapa inicial.  

O mineiro de Belo Horizonte, Emmanuelle Del Vecchio, artilheiro do paulista de 1955 com 22 gols, anotou o segundo tento ampliando o placar para 2 a 0. O craque nascido no Guarujá Álvaro José Rodrigues Valente fez o terceiro gol aos 36’ e novamente Alfredinho marcou o quarto aos 44 minutos, fechando o placar na primeira etapa, antevendo uma possível goleada na etapa complementar.  

Já na fase derradeira, o artilheiro Del Vecchio voltaria a assinalar aos 16 minutos o quinto tento praiano. Foi quando o técnico Lula decidiu dar uma chance ao garoto que veio de Bauru indicado por Waldemar de Brito e que vinha se destacando nos treinamentos com os profissionais na Vila Belmiro.  

O garoto, apelidado de “Gasolina”, fez sua estreia jogando com desenvoltura não se intimidando com os zagueiros adversários que deram pouca atenção ao jovem atacante franzino do Santos.

E, aos 34 minutos, o novato jogador do Peixe dominou a bola e a mandou para o fundo das redes, marcando aquele que seria o primeiro dos seus 1091 marcados somente com a camisa do Alvinegro.  

O arqueiro do Corintinha, Zaluar Torres Rodrigues, muito orgulhoso por ter sido o primeiro goleiro a levar um gol do Rei Pelé, mandou confeccionar um cartão de visitas com a inscrição: Zaluar – Gol do Rei Pelé – 001. Zaluar faleceu aos 69 anos, em outubro de 1995.  

Antônio Schank, que na súmula tem seu nome anotado como Chanca, falecido recentemente, descreveu anos depois de maneira diferente do goleiro Zaluar como foi a jogada do gol santista: “No lance do gol, o Hélvio do Santos tirou de cabeça, a bola sobrou no meio-campo, dei o combate no Pelé, mas tomei o drible. Ele passou pelo Zico, pelo Dati, nosso defensor, e tocou na saída do Zaluar”.   

O gol de honra do time da casa foi marcado por Vilmar aos 39 e, aos 44 minutos, o experiente Jair Rosa Pinto, o veterano craque nascido em Quatis, no Rio de Janeiro, definiu o placar de 7 a 1 para o seu time.  

Mudaria alguma coisa se ao invés de Pelé, o seu apelido tivesse vingado como Telé, maneira errônea pela qual o conservador jornal paulistano “O Estado de São Paulo” grafou o nome do futuro Rei do Futebol?

Quando fez sua primeira apresentação com a camisa branca com o nº 15 às costas, Pelé era um garoto com 15 anos, 10 meses e 15 dias de vida, os jogadores experientes do time o chamavam de “Gasolina”, pois ele era um jovem dotado de uma rapidez impressionante.  

Pelé havia chegado ao Santos vindo de Bauru, no dia 23 de julho de 1956, um dia de domingo. E debutou na equipe principal na partida de nº 1449 do time para no futuro não muito distante escreveria com letras douradas nas páginas de todos os jornais mundo afora.  

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