Além da paixão pela prática esportiva, há um fio condutor na história dessas pessoas que fizeram parte do futebol em Santos, desde a introdução do esporte na cidade até a fundação do Santos FC e das equipes que se seguiram a ele, seja pelo grau de parentesco ou pela participação em outras entidades e atividades esportivas. E, se quisermos ir mais além, essas pessoas que construíram o Santos FC estavam unidas pelos feitos dos seus antepassados. Não podemos desconsiderar que a população de Santos era pequena naquela época (aproximadamente 90 mil pessoas), mas deixar de atribuir a esses fatores é deixar ao acaso e o presente texto desmente essa hipótese.
Podemos confrontar o parentesco de qualquer um desses personagens, mas tomemos como exemplo o abnegado Agnello Cícero de Oliveira, presidente do Santos FC nos primeiros tempos do clube (1914 a 1917), responsável por conduzir a compra do terreno e a construção da Praça de Esportes, futuro estádio de Vila Belmiro. À frente do Santos FC em três oportunidades, ainda presidiu o clube durante a transição para a profissionalização do futebol (1932-1933).
Agnello era irmão de Ricardo Pinto de Oliveira, jogador do primeiro quadro do time do Santos FC em 1913, além de diretor do clube. Ricardo era primo e esposo de Ismênia da Silveira Pinto de Oliveira, figura benquista na Cidade, pela participação nos círculos sociais, religiosos, esportivos e assistenciais. Ismênia era irmã de Arnaldo e Oswaldo Silveira, jogadores de destaque do Santos FC. Arnaldo fez parte do selecionado nacional, vencedor da taça “Roca”, na primeira disputa desta competição, travada em Buenos Aires, em 1914. Portanto, Ricardo era, além de companheiro de equipe, cunhado e primo de Arnaldo e Oswaldo. Em 1918, outros dois irmãos de Agnello e Ricardo, Randolfo e Américo Pinto de Oliveira ingressariam no quadro santista. Virgílio Pinto de Oliveira, o Bilú, outro dos irmãos Pinto de Oliveira, também fez parte da equipe de 1918, mas foi como técnico que se consagrou: Bilú foi o primeiro treinador Campeão Paulista pelo Santos FC, em 1935.
A única irmã do clã, Iraídes Ricardina de Oliveira Ratto, a dona “Didi”, foi a primeira costureira do clube. Foi ela quem fez os primeiros uniformes do time praiano em seus jogos iniciais. Dona Didi foi também a responsável pela confecção da primeira bandeira do clube. Ela era casada com Francisco José Ribeiro Ratto, mais conhecido como Nhonhô Ratto. O marido de dona Didi foi de grande importância para o Santos FC. Era ele quem dirigia um burrico atrelado a um pesado rolo compressor para o nivelamento do primeiro campo do clube, na Villa Macuco.
Por outro lado, Arnaldo e Oswaldo Silveira, Iraídes, Agnello Cícero, Randolfo, Virgílio, Américo e Ricardo Pinto de Oliveira eram sobrinhos do primeiro presidente do Santos FC, Sizino Patusca; assim, também primos dos futebolistas Ary, Ararê e do consagrado Araken Patusca. A única filha de Sizino, Aracy Patusca, foi casada com o também jogador Siriri. Ele, ao lado do irmão Camarão e do cunhado Araken formaram o inesquecível ataque dos 100 gols em um único campeonato.
Como se não bastasse, seriam primos de Francisco Martins dos Santos, jogador do Santos FC na década de 1920 e importante historiador da cidade, filho de Valentina Guiomar Patusca Martins dos Santos e Américo Martins dos Santos. Além de Francisco, eram pais de Alzira Martins Lichti, figura renomada na área da Educação da região e que, entre outras atividades, foi fundadora do Clube Feminino Santista, onde montou e participou da primeira equipe de bola-ao-cesto feminino de Santos. Organizou também a primeira torcida uniformizada feminina do Santos Futebol Clube. Alzira era casada com o diplomata Armando Lichti, presidente do Santos F.C. no biênio 1922/1923.
Na medida em que o clube se desenvolvia, novos rapazes formavam o quadro de sócios. Jovens, pois em sua maioria eram estudantes e empregados no comércio, solteiros e com idades entre 15 e 24 anos (66%). Isso demonstra a força de um esporte que avançava rapidamente. Nos anos 1910 o futebol ia se transformando em esporte mais popular.
O Santos Futebol Clube tem, entre suas diversas conquistas, a formação de um clube democrático, sem preconceitos de idade, gênero e raça.