O jogo do Século

Guilherme Guarche, do Centro de Memória

Na noite de 2 de abril de 1963, uma distante terça-feira, o Santos sagrava-se Bicampeão Brasileiro de 1962, ao vencer no Maracanã, por 5 a 0, o poderoso time do Botafogo com gols de Pelé (2), Dorval, Pepe e Coutinho.

Nessa final, o time do técnico Luiz Alonso Perez, o Lula, entrou em campo com: Gylmar, Lima, Mauro e Dalmo; Zito e Calvet; Dorval, Mengálvio, Coutinho (Tite), Pelé e Pepe.

Os 70.324 espectadores presentes ao Estádio do Maracanã assistiram satisfeitos uma das melhores partidas entre as duas equipes. Santos e Botafogo eram os times que serviram de base à Seleção Brasileira, campeã do mundo nos anos de 1958 e 1962.

Nesse encontro entre os dois Alvinegros, além dos craques do Peixe que eram convocados constantemente, no Botafogo jogaram os selecionáveis: Nilton Santos, Garrincha, Amarildo e Zagallo que participaram da Copa do Mundo, no Chile no ano anterior.

O jogo do Século, assim denominada pela imprensa carioca, foi assistida por dois cosmonautas russos que disseram: “Pelé não é deste mundo”.

Quem ficou maravilhado também foi o poeta Guilherme de Almeida que escreveu:

Ficar durante noventa eternidades, isto é, noventa minutos, pregado, hipnotizado, diante do vídeo. Medo de ter palpite – a vergonha daqueles 3 a 1 – com baile, outro dia, por trinta e sete milhões de cruzeiros – tudo contra a gente – no Maracanã de novo – os fatores campo e torcida – o locutor contou que havia apostas humilhantes para nós – mas Gylmar disse ao repórter que: “Nunca o Santos perdeu duas vezes seguidas”- ? – aquele comentarista respondendo a uma consulta – Pelé já marcou em toda a sua carreira quatrocentos e um gols, mas nunca marcou um único nos jogos da então Taça Brasil – eles ganharam o toque – começam ganhando – mau, mau – foi dada a saída…

É agora. Religiosidade: – a gente benze-se, diz “Valha-nos Deus!”“, faz figa, dá com os nós dos dedos três pancadinhas na madeira. O gigantesco disco do Maracanã. Um samba (não quadrado, pois que é disco) bossa-nova. E a gente vai ouvindo: – Defesa espetacular de… Terceiro escanteio contra nós – o gol está pingando… Não pingou…

Quase… Arre!

De repente: “Gol de Dorval aos vinte e seis minutos do primeiro tempo: Um a zero”. “Gol de Pepe aos quarenta e um minutos do primeiro tempo: dois a zero”. “Gol de Coutinho aos nove minutos do segundo tempo: três a zero”.

A gente respira. Mas, cuidado com a virada! Olha só: quase que… Então aquele que, pelos mundos por onde tem andado e em que tem reinado, já fez quatrocentos e um gols, mas para a conquista da IV Taça Brasil, nunca havia feito um único, brincando assina a nanquim as duas últimas faixas, twist, bossa-nova, do long-play guanabarino. Assina a nanquim: “Gol de Pelé aos trinta minutos do segundo tempo: quatro a zero”. “Gol de Pelé aos trinta e cinco minutos do segundo tempo: Cinco a zero”.

Sobre o grande círculo, Zito ergue a taça que a noite carioca enche de estrelas. No vestiário, descalçando a chuteira, o Rei sorri!

Até hoje, o Santos já venceu o Campeonato Brasileiro em oito oportunidades.

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