Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória
Dois dias antes, com um Maracanã lotado por mais de 100 mil pessoas, o Santos perdera para o Botafogo por 3 a 1, no jogo de volta da final da Taça Brasil de 1962. Naquela terça-feira à noite, 2 de abril de 1963, os dois times voltaram a campo para a decisão da Taça que dava ao vencedor o título de campeão brasileiro.
O estádio recebeu 70.324 torcedores para ver o duelo dos dois melhores times do mundo, aqueles que, juntos, congregavam quase todos os titulares da Seleção Brasileira bicampeã na Copa do Chile, nove meses antes. Intitulado “o jogo do século” pela crônica esportiva brasileira, aquele encontro entraria para a história.
O técnico Luiz Alonzo Peres, o popular Lula, escalou o Santos com Gylmar, Mauro e Dalmo; Lima, Zito e Calvet; Dorval, Mengálvio, Coutinho (depois Tite), Pelé e Pepe. O treinador Marinho Rodrigues, do Botafogo, pôs em campo Manga, Rildo (depois Joel), Zé Maria, Nilton Santos (Jadir) e Ivan; Ayrton e Édison; Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. A arbitragem foi de Eunápio de Queiroz.
Ou seja, oito titulares e quatro reservas da equipe brasileira campeã no Chile foram para o jogo. Mas era um jogo em que prevalecia a técnica e o fair play, bem diferente do que costumam ser as partidas decisivas de hoje. Com admirável equilíbrio técnico nos primeiros minutos, o primeiro gol só surgiu aos 24 minutos, após jogada individual de Dorval sobre o lendário Nilton Santos. Pepe, aos 39 minutos, ampliou para 2 a 0.
Na segunda etapa, Coutinho fez o terceiro aos 9 minutos, Pelé ampliou aos 30 e selou o marcador aos 35, em uma exibição de gala do Alvinegro Praiano. O jornalista Ney Bianchi, da revista Fatos @ Fotos, definiu a partida como “O maior jogo do mundo”.
Realmente. Nos rankings da época o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha eram declarados os dois melhores times do mundo. Eduardo Gonçalves de Andrade, o genial Tostão, que formou na Seleção Brasileira tricampeão mundial no México, em 1970, e hoje é um conceituado cronista
esportivo, já se expressou assim sobre esse memorável encontro de alvinegros:
Os dois maiores times que eu vi no futebol brasileiro foram o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha. Eu era menino, já estava no juvenil, vi um Santos contra o Botafogo no Maracanã, que coisa espetacular! Pelé, Garrincha e outros craques inesquecíveis. Talvez fosse melhor do que é hoje Real Madrid e Barcelona. No mínimo, no mesmo nível. Imagina. O mundo hoje para pra ver Real Madrid e Barcelona. Todo mundo diz “que espetáculo”, e tinha aqui no Brasil o Santos e Botafogo no mesmo nível, espetacular. Eu lembro de um gol em que Pelé e Coutinho chegam trocando passes numa tabela, o Manga sai na entrada da área, aí tem o toque por cima dele . Emocionante lembrar disso. Esses duelos Santos e Botafogo estavam acima de todos.
Sobre este jogo dos 5 a 0, há outro detalhe que mestre Tostão não citou: o Santos vinha de uma derrota recente para o mesmo adversário, no mesmo estádio, com torcida totalmente contra. E voltou, triunfante, para vencer indiscutivelmente a partida mais importante, porque era decisiva. O Santos sempre teve na sua alma a coragem, a capacidade de se reinventar.