Por Gabriel Santana, do Centro de Memória
Em julho de 1930 foi disputada a primeira edição da Copa do Mundo, no Uruguai. A Seleção da França, uma das 13 participantes, foi eliminada na primeira fase após vencer o México por 4 a 1 e perder para Argentina e Chile, em jogos duríssimos, por 1 a 0. De volta para a Europa, os franceses passaram pela cidade de Santos e receberam um convite para enfrentar o Alvinegro Praiano na Vila Belmiro.
Marcada para o dia 30 de julho, a partida causou enorme expectativa na cidade, pois uma forte seleção que acabara de disputar o Mundial, duelaria com o time santista. O jornal “Folha da Manhã” descreveu a excitação que antecedeu o jogo:
“Ao meio-dia, segundo informações colhidas nas docas, já se sabia que o vapor que conduzia o selecionado da França chegaria atrasado. Nem por isso deixou de reinar o mesmo entusiasmo em toda a cidade. São 15 horas e os bondes já trafegam carregados com destino à Vila Belmiro.”
Às 16 horas e 40 minutos, em plena quarta-feira, iniciou-se o confronto, com o campo de Vila Belmiro totalmente lotado. O Santos tinha um ataque fenomenal, com Omar, Camarão, Feitiço, Mario Seixas e Evangelista. Tinha também um goleiro espetacular, Athié Jorge Cury. Não houvesse a briga entre dirigentes cariocas e paulistas e, no mínimo, Athié e Feitiço estariam na Seleção Brasileira que jogou a Copa no Uruguai.
Os franceses, que tinham visto a Seleção Brasileira golear a fraca Bolívia e perder para a Iugoslávia por 2 a 1, resultados que a eliminaram logo na primeira fase da Copa, achavam que encontrariam no Santos um adversário limitado, mas logo perceberam o erro. Comandado pelo artilheiro Feitiço, a verdade é que o Peixe não tomou conhecimento da seleção europeia.
Aos 30 minutos de jogo, Feitiço abriu o marcador, após receber lindo passe de Omar. Três minutos depois o mesmo Feitiço ampliou, dessa vez com passe açucarado de Camarão.
No início do segundo tempo, a França tentou uma reação e fez o gol de honra, com Delfour, aos 12 minutos. Dois minutos depois, porém, Mário Seixas marcou seu primeiro gol no jogo, após assistência de Evangelista. Aos 17 minutos, Feitiço marcou o seu terceiro na partida, com mais um passe de Omar, dessa vez, de cabeça.
Após uma sequência de ataques, o Peixe fez o quinto, por intermédio de Mário Seixas, ao aproveitar rebote da zaga. Para finalizar a goleada, Feitiço, o grande nome do jogo, assinalou o sexto do Santos e o seu quarto gol na partida, de cabeça, aos 35 minutos.
A equipe responsável por essa histórica goleada de 6 a 1 na Seleção da França contou com Athié, Aristides e Meira; Osvaldo, Roberto e Alfredo; Omar, Camarão, Feitiço, Mario Seixas e Evangelista. O técnico era Ramon Platero.
O Selecionado Francês, com os mesmos titulares que jogaram a Copa, formou com Thepot, Mattler (Capelle) e Andoire; Laurent, Delmer e Chantrel; Liberati, Pinel, Maschinot, Delfour e Villaplane. Técnico: Raoul Caudron.
Seleção Brasileira?
Incrédulos com a acachapante derrota, os franceses não acreditavam que haviam enfrentado o Santos.
“Isso é uma desonestidade! Os senhores nos convidam para enfrentar o Santos e colocam à nossa frente a Seleção do Brasil”, protestou o chefe da delegação francesa.
Foi necessário que o presidente santista, Guilherme Gonçalves, levasse os franceses à sede do clube, na Rua Itororó, 27, para mostrar as fichas com as fotos dos jogadores do Alvinegro Praiano.
Aquela goleada compensou, em parte, a decepção causada pela Seleção Brasileira na primeira Copa do Mundo e é considerada um dos grandes feitos internacionais da fase amadora do futebol brasileiro.
O Alçapão
No mesmo ano de 1930 o campo do Santos recebeu do jornalista Antônio Guenaga, de “A Tribuna”, a alcunha de “Alçapão”, devido aos expressivos resultados obtidos pelo Alvinegro em seus domínios. Naquele ano o Santos jogou 25 vezes em seu estádio e não soube o que é derrota, obtendo 21 vitórias e quatro empates. O time/seleção marcou 88 gols e sofreu apenas 30.