O barbeiro que imortalizou o topete do Rei

O sorriso espontâneo e sincero continua sendo a característica maior de um dos mais famosos barbeiros do Brasil. Apesar de estar prestes a completar 80 anos em setembro deste ano, João Araújo, mais conhecido pelos amigos e clientes como “Didi”, não deixa de comparecer um dia sequer em sua acolhedora barbearia localizada em frente ao portão nº 6 do estádio Urbano Caldeira, no bairro da Vila Belmiro, em Santos.
Didi conta que começou a cortar o cabelo do Rei Pelé, cliente fiel e amigo desde o ano de 1956, quando o Rei do Futebol chegou ao Santos FC. O topete que ele, Didi, criou para o Rei, virou moda entre os jovens durante um bom período da carreira do craque santista que hoje recebe o amigo barbeiro em sua residência no Guarujá para cortar o cabelo sempre com a mesma perfeição, mantendo o mesmo topete de mais de 60 anos.
Didi nasceu na pacata e pouco conhecida cidade de Rio Pardo de Minas, região norte de Minas Gerais, no dia 20/09/1938, sendo o mais ilustre rio-pardense. Chegou a Baixada Santista em 1956, mesmo ano em que cortou o cabelo do Rei pela primeira vez e em que assistiu emocionado o time peixeiro se sagrar Bicampeão Paulista pela terceira vez em sua centenária história. Didi comemorou a conquista com a torcida que voltava do Pacaembu, numa ruidosa festa que varou a noite diante de sua barbearia na Vila Belmiro.
Didi acredita que também está próximo de atingir a marca de mil cortes no cabelo do Rei. Sorridente, lembra a primeira vez em que o garoto de apelido Gasolina entrou em sua barbearia: “Assim que Pelé chegou ao salão, ficou meio desconfiado, afinal eu também era muito novo. Ele perguntou se eu conseguia cortar o cabelo, deixando um topete. Eu respondi: “Vamos tentar!”. Se você gostar eu ganharei um cliente; se não gostar, pelo menos você terá um amigo”. É claro que o eterno Rei do Futebol aprovou e gostou do corte e do topete e, assim, teve início uma amizade que perdura por mais de seis décadas. O que muito agradou ao Rei foi o fato de saber que o amigo Didi é seu conterrâneo, já que ambos são mineiros.
Além de ter o Rei como um velho freguês, Didi também tem como clientes os jogadores Coutinho, Pepe, Mengálvio e outros craques do passado que gostam de frequentar o salão às vezes só para prosear com ele. José Macia, é um dos que mais frequentam a barbearia, grande contador de histórias sempre envolvendo os antigos colegas da máquina de jogar futebol do Santos FC, nos idos dos anos da década de 1960.
O que muitos amigos e clientes que cortam o cabelo ou fazem a barba com o profissional das tesouras, o “seo” João Araújo não sabem, é que o apelido de Didi foi dado a ele pelos jogadores do Santos FC já que os craques do Campeão da Técnica e da Disciplina achavam ele idêntico ao Valdir Pereira, o “Folha Seca”, Bicampeão Mundial com a Seleção Brasileira.
Didi, cabeleireiro exclusivo do eterno Rei Pelé, recorda que quando era um garoto ainda sem profissão definida, chegou na terra de Brás Cubas e foi pedir emprego para um espanhol, dono da barbearia à época. Depois, comprou a barbearia em 1970 e, foi cortando os cabelos dos amigos que ele aprendeu a ser um profissional conceituado e respeitado por todos os fregueses que frequentam o seu estabelecimento comercial, onde exibe nas paredes várias fotos, em sua grande maioria, cortando o cabelo do amigo Pelé.
Nos dias atuais, Didi, apesar da proximidade do estádio do Peixe, já não vai aos jogos com a mesma frequência de antes, preferindo ficar em casa e assistir as partidas do seu time do coração pela televisão: “É mais confortável”, ressalta o santista roxo. Além disso, quem viu aquele time fantástico em campo tem outra visão do que é futebol: “Posso assistir a milhares de jogos, no entanto, ao final de cada um deles, sempre fica faltando aquela magia, característica do time de Pelé e companhia”.
Só nos resta desejar do fundo do coração, ao competente e querido barbeiro Didi, muita saúde e que Deus lhe dê muitos e muitos anos de vida para sempre atender a todos com a mesma simpatia e dedicação dada ao Rei Pelé, em seu simpático ambiente de trabalho na Vila mais famosa do mundo.
Saúde Mestre Didi! O Mago das Tesouras.
TEXTO ESCRITO POR GUILHERME GOMEZ GUARCHE

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