Por Gabriel Pierin, do Centro de Memória
A última vez que Lula iniciou a equipe com a famosa linha de ataque foi em 9 de janeiro de 1966. Naquele dia, ele colocou em campo Gylmar (Cláudio), Carlos Alberto, Mauro (Oberdan), Orlando e Geraldino; Lima e Mengálvio (Zito); Dorval, Coutinho (Toninho), Pelé e Pepe (Abel). Terminara ali, no Noroeste da África, a saga da linha ofensiva que virou poesia.
A partida contra o campeão da Costa do Marfim, o Abidjan, atraiu para o Estádio Houphouet-Boigny milhares de torcedores vindos de diversas localidades do continente africano, especialmente Mali, Nigéria, Gana e Alto Volta. Os 30 mil espectadores queriam conhecer de perto o time que encantava o mundo. Eles não se decepcionaram.
O jogo foi considerado o maior espetáculo de futebol já visto na região e os brasileiros foram aplaudidos pela torcida durante todo o jogo. O momento de maior entusiasmo foi no sexto tento, quando o ponta-esquerda Pepe marcou um gol olímpico.
No primeiro tempo o Santos demonstrou toda a sua técnica ao manter o domínio da bola no campo do adversário. A tática deu resultado e os dois primeiros gols foram assinalados por Lima e Coutinho, aos 10 e 39 minutos respectivamente.
Na etapa complementar, o Peixe ampliou a contagem com Coutinho (18), Pelé (21) e Pepe aos 24 e 26 minutos. O Abidjan diminuiu com Mea (34) e Pelé deu os números finais à partida marcando o sétimo gol aos 40 minutos.
O jogo marcou o início da temporada do Santos em 1966. Da África, o elenco passou pelo Brasil e seguiu para a Argentina. Na escala, pelo aeroporto de Viracopos em Campinas, somaram ao grupo os jogadores Zé Carlos e Salomão. No dia 13, o compromisso do Alvinegro foi em Tucuman, contra o San Martin. Saindo da Argentina, o Santos partiu para uma excursão pelo El Salvador, Venezuela, Peru, novamente Argentina, e por fim, o Chile.
Uma história de gols e conquistas
O Ataque dos Sonhos se formou no dia 19 de abril de 1960, uma terça-feira, no Pacaembu, pelo Torneio Rio-São Paulo. Naquela partida contra a Portuguesa de Desportos, Ney Blanco, autor de um dos gols do empate por 2 a 2, foi substituído por Mengálvio no segundo tempo. O quinteto estava formado.
Os cinco só iriam começar uma partida um mês e meio depois, em 7 de junho de 1960, na estreia do Santos no Torneio de Paris contra o Stad Reims, da França, vice-campeão europeu de 1956 e 1959. Na noite de terça-feira, 40 mil espectadores lotaram o Parc des Princes. Coutinho, ainda com 16 anos, fez três gols, e Pelé e Pepe completaram a goleada de 5 a 3 que encantou os franceses e a crônica europeia.
O quinteto iniciou 97 partidas pelo Santos. Foram 68 vitórias e 314 gols marcados, uma média de 3,23 gols por jogo. Nos três anos em que mais atuaram, entre 1961 e 1963, fizeram 74 jogos e marcaram 254 gols. Destes, Pelé fez 118; Coutinho, 79; Pepe, 57; Dorval, 30 e Mengálvio, 11 (os cinco também atuaram, juntos, em três jogos da Seleção Brasileira).
Eles se exibiram juntos em 18 países espalhados pelas Américas do Sul e Central, Europa, África e Oriente Médio. O país em que mais jogou foi o Brasil (47 vezes), seguido por França (9) e Itália (8). No Brasil estão os três estádios em que mais se apresentou: Pacaembu (17 jogos), Vila Belmiro (10) e Maracanã (9).
No seu auge, entre 1961 e 1963, esse ataque santista foi o grande responsável pela sequência de nove títulos oficiais consecutivos: Paulista e Brasileiro de 1961; Paulista, Brasileiro, Libertadores e Mundial de 1962; Torneio Rio-São Paulo, Brasileiro e Libertadores de 1963.