Por Pedro Mendes, do Memorial das Conquistas 

A inesquecível campanha vitoriosa do Brasileirão de 2004, que se deu com a vitória sobre o Vasco por 2 a 1 no Estádio Benedito Teixeira, em São José do Rio Preto, foi o oitavo título nacional para o Alvinegro Praiano, a primeira e única no sistema de pontos corridos. 

Conquista marcada pelos vários episódios superados pela equipe santista desde o início do campeonato, como os erros de arbitragem, que se somaram no decorrer da competição, a punição rigorosa do STJD (Supremo Tribunal de Justiça Desportiva), que obrigou o Peixe jogar longe da Vila Belmiro durante parte do campeonato e o sequestro da mãe de Robinho, principal jogador do elenco que ficou fora por seis jogos até voltar justamente na última e decisiva rodada. 

O ano de 2004 começou com várias mudanças em relação ao elenco do ano anterior, no qual o Peixe foi vice-campeão brasileiro e da Taça Libertadores. O técnico Leão. campeão em 2002, foi demitido após oscilações da equipe e Vanderlei Luxemburgo assumiu o time em maio.  

A CAMPANHA 

O Peixe teve dificuldade no início da competição com a troca de treinador e chegou a figurar na vigésima posição, uma acima da zona de rebaixamento, já que naquele ano o campeonato teve 24 equipes. 

Na sequência, o Santos encaixou uma sequência de vitórias que colocaram o time na disputa pelo título: Vitória, em Salvador (2 a 1), Internacional, na Vila Belmiro (3 a 0), Guarani, no Pacaembu (2 a 1), Corinthians, no Pacaembu (3 a 2), Ponte Preta, em Campinas (4 a 0), São Paulo, na Vila Belmiro (2 a 1) e Flamengo, na Vila Belmiro (2 a 0). 

Mesmo após alguns deslizes ao longo do ano, a equipe se fechou e manteve a busca pela liderança, que veio só na penúltima rodada, após vitória fora de casa em cima do São Caetano por 3 a 0 e tropeço do Atlético Paranaense enfrentando o Vasco, justamente o adversário do Santos na última rodada. A equipe paranaense, Campeã Brasileira em 2001 foi o grande adversário direto do Peixe na disputa pelo título.  

O JOGO DECISIVO 

O Peixe chegou na 46ª rodada com 85 pontos, um a mais que o segundo, portanto um empate na última rodada levava o Santos à oitava conquista. 

O local escolhido para a decisão foi o Estádio Benedito Teixeira, o Teixeirão, em São José do Rio Preto, que foi a casa santista durante parte da competição devido as condições estabelecidas pelo STJD, na qual foi proibido de mandar seus jogos na Vila Belmiro e em qualquer estádio a menos de 150 quilômetros de sua sede. 

Naquele domingo de sol, no calor de dezembro, o Teixeirão foi tomado por um público de 36 426 pagantes que prepararam uma linda festa, fazendo a temperatura que já era alta virar um verdadeiro caldeirão. 

Luxemburgo escalou o Santos com Mauro, Flávio, Ávalos, Leonardo e Léo; Fabinho, Preto Casagrande, Ricardinho e Elano (Marcinho); Robinho (Basílio) e Deivid (Willian). 

A volta de Robinho após ficar seis partidas, afastado por conta do sequestro de sua mãe na região da Baixada Santista, trouxe ainda mais esperança para a torcida. 

Logo no início da partida, Ricardinho tratou de acalmar a torcida ao colocar o Peixe na frente após cobrança magistral de falta, sem chances para o goleiro cruzmaltino. Ainda no primeiro tempo, Preto Casagrande encontrou Elano sozinho na área, que de cabeça ampliou a vantagem. 

No início da segunda etapa, Robinho penetrou livre, driblou o goleiro e fez 3 a 0, mas o árbitro Leonardo Gaciba anulou mais um gol legítimo santista no campeonato. 

Logo na sequência, aos 16 minutos, o Vasco diminuiu com belo gol de Marco Brito, mas ficou nisso, vitória santista e oitavo título nacional para o Alvinegro Praiano. 

FEITOS DA CONQUISTA 

Com o título de 2004, o Alvinegro Praiano conquistou dois campeonatos e um vice em três anos. Bateu o recorde de gols no Campeonato Brasileiro, marca ainda não alcançada, com 103 tentos. Vanderlei Luxemburgo se tornou cinco vezes campeão nacional, igualando a proeza de Luís Alonso Perez, o Lula, pentacampeão pelo Santos de 1961 a 1965. 

CONTRA TUDO E CONTRA TODOS 

Com 89 pontos ganhos e 27 vitórias, o Peixe superou punições extracampo, falhas da arbitragem que o prejudicaram no decorrer da competição e episódios tristes como o do sequestro da mãe de Robinho. Uma conquista que ficará para sempre reconhecida pela raça e resiliência da equipe, que mesmo após 46 dramáticos capítulos, teve um final feliz para a apaixonada Nação Santista.