Miro Caiçara, técnico da Sociedade Esportiva Barreiros, um dos melhores times amadores da Baixada Santista, em meados dos anos da década de 1960, foi quem anteviu que aquele esforçado jovem que atuava com desenvoltura no meio de campo de sua equipe, em jogos na várzea de Santos um dia haveria de se tornar um excelente jogador de futebol.
A visão profética do competente treinador do popular Galo do bairro chinês se concretizaria num futuro não muito distante, pois o menino que ele tanto admirava jogando com cadência ao lado de outra jovem promessa do seu time de nome Clodoaldo Tavares Santana se tornou uma realidade.
Filho de Juvenal Ferraz de Vasconcelos e de dona Angelina Souza de Negreiros, Walter Ferraz de Negreiros nascido em uma terça-feira, 6 de agosto de 1946, em Santos, a terra da Caridade e da Liberdade, a bela cidade praiana que tem seu nome projetado mundo afora pelo seu clube ícone, o Santos Futebol Clube.
Sua ida para treinar na base do Campeão da Técnica e da Disciplina, se deu por uma indicação do diretor do Alvinegro, Augusto da Silva Saraiva que o viu jogando na equipe do Barreiros e se encantou com o futebol do jovem armador que o encaminhou ao treinador Ernesto Marques, o mesmo técnico que em 1965 já tinha levado Clodoaldo para o time juvenil do Peixe.
No entanto, ele não foi o primeiro da família a vestir a camisa do time de Vila Belmiro, o pai Juvenal Negreiros e o tio Fábio Ferraz de Vasconcelos também defenderam o clube santista, o primeiro como atacante e o segundo como goleiro em meados dos anos de 1930.
Seu estilo de jogar cadenciado com muita categoria no controle da bola chamou a atenção do técnico Antônio Fernandes, o Antoninho, que procurava alguém para substituir o excepcional Mengálvio, cujo desempenho dentro das quatro linhas futebol já não mais produzia como vinha produzindo nos anos anteriores na meia cancha santista ao lado do seu companheiro Zito.
Antoninho decidiu então dar uma chance ao jovem de 20 anos vindo das categorias de base e o lançou na equipe principal, em uma partida do Campeonato Brasileiro de 1967, em 3 de maio de 1967, uma quarta-feira chuvosa em partida válida pelo Campeonato Brasileiro, no histórico estádio do Pacaembu, em São Paulo.
Quis o destino que Negreiros entrasse nesse jogo no lugar daquele que ao seu lado formaria nos anos seguintes uma das melhores duplas de meio de campo do time santista, seu grande amigo Clodoaldo Tavares Santana, o sempre querido Corró.
O adversário do Alvinegro nessa sua estreia foi o Ferroviário/PR que foi vencido pelo placar de 3 a 0, com gols de Cecconi que marcou contra a favor do Santos e Pelé e Toninho Guerreiro. A equipe praiana escalada por Antônio Fernandes, o Antoninho formou com: Cláudio; Carlos Alberto, Orlando, Joel Camargo e Rildo; Clodoaldo (Negreiros) e Buglê (Lima); Toninho, Ismael, Pelé e Abel (Pepe).
Em seu primeiro ano como profissional, ele atuou em nove partidas e marcou um gol. No ano seguinte, 1968, se firmou na equipe e ajudou o Santos a conquistar o Octogonal do Chile, o Campeonato Paulista e o Brasileiro, a Recopa Sul-Americana e a Recopa Mundial e o Pentagonal de Buenos Aires.
O título conquistado no Chile no início desse ano e que marcou muito sua carreira, pois, durante o torneio veio a falecer o dirigente Nicolau Moran Villar, por quem Negreiros tinha muito respeito. Em homenagem ao dirigente santista o torneio passou a se chamar Nicolau Moran Villar.
O Santos ganhou o Octogonal jogando sete partidas, vencendo seis e perdendo uma, marcando 22 gols. Desse total, quatro foram marcados por Negreiros, que nesse ano jogou 52 partidas e assinalou oito gols. Nicolau Moran foi um dirigente pelo qual Negreiros nutria uma admiração além de um respeito muito grande pelo diretor que também era um de seus grandes amigos no clube.
No ano seguinte ele foi bicampeão paulista. Nessa temporada jogou 51 partidas e marcou três gols, já em 1970 jogou apenas seis partidas e não marcou nenhum gol.
Foi emprestado ao Grêmio para disputar o Campeonato Gaúcho. Mas, por ter sentido problemas de adaptação devido ao clima frio do Sul, voltou à Vila Belmiro após o término do campeonato.
No início do ano de 1971 submeteu-se a uma delicada operação no joelho direito. Jogou apenas três partidas no ano, sem marcar gols, repetindo esses números em 1972.
Sua última apresentação no time santista foi no dia 15 de janeiro de 1972, na derrota diante do Palmeiras por 4 a 0, no Parque Antártica em jogo amistoso. A equipe dirigida por Mauro Ramos de Oliveira formou Cejas; Carlos Alberto, Paulo, Oberdan e Zé Carlos; Léo Oliveira e Negreiros; Jáder (Nenê), Edu, Pelé e Ferreira.
O árbitro desse jogo de despedida do craque do Alvinegro foi Renato de Oliveira Braga, com quem Negreiros dividiria anos depois os comentários em um programa na TV COM comandado pelo jornalista Paulo Alberto.
Ao todo, entre os anos de 1967 e 1972, o meio-campista vestiu a camisa do Alvinegro praiano em 123 partidas e marcou 12 gols.
Titulos mais importantes ganhos no Santos
Campeão Paulista nos anos de 1967/68/69
Campeão Brasileiro no ano de 1968
Recopa Sul-Americana em 1968
Recopa Mundial em 1968
Quando deixou o clube foi negociado com o Coritiba, no Estado do Paraná seu futebol deslanchou e ele se tornou um dos grandes ídolos da torcida do “Coxa Branca” que agora é apenas “Coxa”.
Pela equipe Auriverde paranaense ele conquistou os campeonatos estaduais de 1971/72/73 e 1974, além da “Fita Azul” em 1972 e o do Torneio do Povo em 1973. Sua passagem vitoriosa no futebol paranaense se encerrou em 1974 deixando saudosos os torcedores do time do Alto da Glória.
Dando sequência a carreira jogou pelo Comercial de Campo Grande/MS, onde se despediu do futebol profissional aos 28 anos. Após se aposentar do mundo da bola, jogou no time de estrelas do Milionários, um grupo de jogadores veteranos. Também jogou partidas de showball, uma espécie de futebol society que foi sucesso nos anos de 1970.
Técnico e cronista esportivo
Quando morava em Londrina/PR tentou a carreira de técnico. Comandou também o time do Boa Vista, de São João da Boa Vista (SP) e foi o Coordenador de Futebol do Londrina em 2007. No ano posterior dirigiu a equipe do Roma, pela qual disputou a Série C do Campeonato Brasileiro.
Foi campeão do primeiro Campeonato Nacional de Showball disputado no Guarujá (SP).
Foi o responsável por uma escolinha de futebol na cidade de Cubatão, na Baixada Santista, e a última equipe na qual exerceu a função de treinador foi a do São Vicente (ex-Feitiço AC). Durante alguns anos trabalhou como comentarista esportivo no Programa Radar Esportivo da TV Com Santos.
Residindo na Rua José Clemente Pereira, no tranquilo bairro do Campo Grande, em Santos, Nego como é carinhosamente chamado pelos amigos mais íntimos costuma fazer caminhadas pela orla praiana ao lado de sua esposa Dona Sônia que lhe deu o filho Marcelo que tem dois netos muito queridos pelo avós corujas de nomes Enzo e Layssa.