Ter sido um dos integrantes e dono da camisa oito do Ataque do Século é uma honra que Mengálvio ostenta com orgulho. O meio-campista era responsável pela marcação e armação de jogada ao lado de seu companheiro José Ely Miranda, o Zito.
Suas atuações discretas, porém eficientes, davam maior liberdade aos colegas de ataque que confiavam em seu desempenho quando defendia a intermediária do Peixe. Pelé o definiu como “um jogador de grande habilidade, inteligente e dinâmico”.
Filho do maestro e funcionário público Antônio Libano Figueiró e de Maria Florisbela Figueiró, Mengálvio nasceu em Laguna, litoral de Santa Catarina, no dia 17 de outubro de 1938, uma segunda-feira. Mengálvio Figueiró tem acrescido na certidão de batismo o nome Pedro.
Antônio Figueiró, devido aos inúmeros compromissos como responsável pela banda principal de Laguna, só registrou Mengálvio no dia 17 de dezembro. Quinto filho do casal que teve onze herdeiros – sete mulheres e quatro homens – Mengálvio seguiu a carreira futebolística, assim como seus irmãos.
Seu pai não gostava de futebol e se dedicou de corpo e alma à regência a banda, enquanto Mengálvio apareceu para o futebol nos quadros amadores do Barriga Verde Futebol Clube de sua cidade natal.
Mengálvio era um dos destaques do time do batalhão onde prestava o serviço militar, época em que foi indicado por um tenente para o Clube Esportivo Aimoré de São Leopoldo (RS).
No ano de 1957, a equipe que defendia apresentou uma participação elogiável no Campeonato Gaúcho e o futebol mostrado pelo garoto alto e esguio, de 18 anos, se destacou sendo elogiado pela imprensa de Porto Alegre.
No ano posterior, Mengálvio já fazia parte da Seleção Brasileira que disputou o Pan-Americano da Costa Rica. O atleta foi encaminhado ao Santos pelo empresário Arnaldo Figueiredo, que levou em conta os comentários entusiasmados do comentarista esportivo Pedro Luiz na cobertura do Torneio Pan-Americano.
Os dirigentes do Santos, informados da existência do jogador que ia conquistando o seu espaço no futebol gaúcho, foram rápidos e entraram em contato com o empresário Arnaldo Figueredo. Outros times da Capital Paulista também mostravam interesse na jovem promessa do Sul, mas o Santos foi mais rápido e contratou o meio-campista. Mengálvio teve o aval do seu conterrâneo Raul Donazar Calvet que o indicou ao técnico Luiz Alonso Perez, o Lula, que aprovou a contratação do craque.
Sua contratação tinha como objetivo principal substituir o veterano Jair Rosa Pinto. Era uma enorme responsabilidade, mas isso não o assustou e ele cumpriu à risca a função com muitos méritos.
Mengálvio foi apresentado aos torcedores na Vila Belmiro em março de 1960 e fez sua primeira apresentação no empate em 2 a 2 com a Portuguesa de Desportos, no dia 19 de abril de 1960, no Estádio do Pacaembu, pelo Torneio Rio-São Paulo.
O meio-campista entrou no lugar de Ney Blanco. O Santos jogou com Laércio, Feijó, Mauro e Zé Carlos; Calvet (Formiga) e Zito; Dorval, Ney Blanco (Mengálvio), Coutinho, Pelé e Pepe. Os gols santistas foram de Ney Blanco e Zito.
Nessa partida nascia também aquele que é conhecido pelo como “O Ataque dos Sonhos”, pois além dele tinha também Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Os cinco craques jogariam juntos em 97 partidas, conquistando 68 vitórias, empatando 11 e perdendo 18 partidas; marcando 314 gols e sofrendo 155, com uma média assombrosa de 3,23 gols marcados por partida. A última vez em que atuaram juntos ocorreu em 9 de janeiro de 1966, na Costa do Marfim, na goleada de 7 a 1 sobre a equipe do Stade Clube Abdjan.
Apelidado pelos companheiros de “Pluto”, uma referência ao simpático personagem canino das histórias em quadrinhos da Disney, Mengálvio foi reserva do excelente Didi no Mundial do Chile em 1962. Dono de um futebol clássico e elegante, Mengálvio conquistou a Copa do Mundo de 1962 e a Copa Rocca em 1963.
Com 1,79m e 68 quilos ele era conhecido como um falso lento. A bem da verdade, ele mantinha o mesmo ritmo sem oscilações durante toda a partida.
Naquela máquina de jogar futebol que era o time santista nos anos 1960, Mengálvio jogava mais recuado, exercendo o papel de um médio-volante, um guardião da zaga. Era ele que liberava o seu colega Zito que apoiava com mais frequência o ataque.
O craque era um tipo sossegado e bem tranquilo, segundo seu colega de ataque José Macia, o Pepe, contou em seu livro “Bombas da Alegria”. Após a conquista do Mundial do Chile, em 1962, o presidente da República do Brasil, João Goulart recebeu a delegação brasileira em banquete na Granja do Torto, em Brasília e o meio-campista Mengálvio apertou a mão do presidente e deixou com um ele um bilhete solicitando que seu irmão que fora aprovado em um concurso público fosse chamado para trabalhar e realmente isso posteriormente aconteceu.
Em 1968, Mengálvio foi emprestado ao Grêmio, e no seu retorno ao Santos foi em emprestado ao time do Milionários da Colômbia e lá ganhou o Torneio Finalización.
A última vez em que vestiu a camisa do Alvinegro Praiano foi no dia 18 de maio de 1969, no empate em 1 a 1 contra a equipe do São Bento, no Estádio Humberto Reali, em Sorocaba. Nesse jogo, o tento santista foi de autoria de Jonas Eduardo Américo, o Edu.
O técnico Antônio Fernandes, o Antoninho comandou a equipe nessa partida pelo Campeonato Paulista com a seguinte formação: Cláudio, Oberdan, Ramos Delgado, Djalma Dias e Rildo; Clodoaldo e Léo Oliveira (Mengálvio); Manoel Maria (Douglas), Toninho Guerreiro, Edu e Abel.
Pelo Alvinegro Praiano, Mengálvio jogou entre os anos de 1960 a 1969 em 369 partidas marcando 27 gols. Na Seleção Brasileira esteve em campo em 9 partidas.
Títulos conquistados no Santos:
1960 – Campeonato Paulista
1961 – Campeonato Paulista e Campeonato Brasileiro
1962 – Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro, Taça Libertadores e Mundial Interclubes
1963 – Campeonato Brasileiro, Taça Libertadores, Mundial Interclubes e Torneio Rio-São Paulo
1964 – Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro e Torneio Rio-São Paulo
1965 – Campeonato Paulista e Campeonato Brasileiro
1966 – Torneio Rio-São Paulo
1967 – Campeonato Paulista
1968 – Campeonato Paulista e Recopa Sul-Americana
1969 – Campeonato Paulista
Até hoje, Mengálvio reclama a autoria de um dos gols da vitória sobre o Milan, na segunda partida decisiva disputada no Maracanã, em 14 de novembro de 1963. Naquele confronto, o Santos terminou o primeiro tempo perdendo por 2 a 0. Na segunda etapa, o quadro praiano conseguiu uma virada espetacular e venceu por 4 a 2.
O gol de empate, que em vários registros aparece o crédito do gol para Almir Albuquerque, teria sido marcado por Mengálvio de cabeça, inclusive com seus companheiros confirmando o feito em jornais e revistas esportivas da época.
Quando deixou o futebol profissional em 1969, Mengálvio trabalhou como supervisor de uma rede de cinemas no litoral paulista. Posteriormente também exerceu atividades na Cooperativa dos Ex-Atletas Profissionais de São Paulo.
Nos dias atuais, o tranquilo catarinense Mengálvio que é viúvo de dona Claudina de Moraes tem três filhos e curte sua merecida aposentadoria residindo em São Vicente.