Memorial das Conquistas: 20 anos de histórias

Raul Estevan, do Memorial das Conquistas

O Memorial das Conquistas completa, nesta sexta-feira, 20 anos de existência. São, além de tudo, vinte anos de histórias construídas. Fundado em 17 de novembro de 2003, o museu do Santos Futebol Clube já abriu as portas para mais de um milhão de apaixonados e curiosos.

Endereçado na Rua Princesa Isabel, formou-se na lembrança de muitos em uma época que, hoje, já é ontem. Seus troféus e adornos aumentaram com o tempo; e com eles, as pessoas — são elas, junto às memórias, que vão ficando no passado, mas nunca esquecidas.

TUDO TEM SUA PRIMEIRA VEZ

Por dia, são feitas oito visitas, de terça à domingo. Por semana, quarenta e oito. Por mês, cento e noventa e dois. No total, em duas décadas, pode-se estimar que foram feitas mais de quarenta mil. Porém, em algum momento, houve uma primeira.

É comum no futebol escutar que Pelé fez primeiro. E fez mesmo. Gols, dribles, chutes e mais uma série de coisas que hoje são normais. Para as visitas à sua casa, não poderia ser diferente. Reunido de diversos ídolos da história santista, o Rei, na inauguração do museu, fez o que só ele poderia fazer — e fazia de melhor: encantou a todos.

Tinha 63 anos de idade. Com tantas primaveras e experiência, já sabia que muitos seguiriam seus passos — de novo. Os que vieram depois tentaram (e tentam) seu melhor. Entretanto, uma visita ao nível Pelé, só Pelé.

Dava-se um pontapé inicial grande. Das mais de quarenta mil visitas, cada visitante que por ali passou não se esquece de nada. São mais de um milhão de pessoas. Um milhão de histórias, e cada uma merece ser contada.

O CAMINHO PARA CASA

Em algum momento desse ano, um visitante vinha de Minas Gerais para conhecer a Vila Belmiro. Como todos, trazia seu amor pelo clube. Trocava, por um momento, sua casa pela nossa. Entretanto, esse torcedor era diferente: vinha de muito longe, a pé, sem nada além de sua paixão e roupas velhas na mala. Não sabia o que aconteceria depois de realizar seu sonho, e para ele pouco importava. “Se Deus me levar amanhã, eu estou feliz”, dizia enquanto entrava pelo portão 15.

Dentro das quatro paredes do Memorial das Conquistas, encontrava um novo mundo. Já com seus quarenta anos, redescobria o significado tão óbvio de felicidade. Abarrotado pela alegria de estar de frente ao seu amor mais sincero, caía em lágrimas. De novo, e de novo.

Deixava para trás, em outro Estado, uma vida; e buscava, no local do dia a dia de tantos, seu sonho. Ele não pretendia voltar mais para sua terra. Encontrava, ali no Estádio Urbano Caldeira, tudo que precisava.

Sua memória se perde em meio a tantas outras, mas seu choro derramado pela Rua Princesa Isabel não evapora. Seu sentimento é imortal, assim como todo seu amor. O homem que parece o mais simples, ao entrar pelas portas de nossa casa, sempre revela algo. “Sou santista de alma, porque o coração morre. E eu sou santista para sempre.”

O Memorial das Conquistas é o local onde, da porta para dentro, pessoas são felizes. Um clube como o Santos precisa e merece ter um espaço como esse, destino de milhões de visitantes. Completando vinte anos, sabemos muito pouco de cada história que já passou por lá. Resta-nos, um de cada vez, construir a nossa.

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