Poucos clubes brasileiros tem a primazia de terem jogado no dia de Natal e também no primeiro dia do Ano-Novo. E o Santos FC tem essa honra pois jogou no dia 25 de dezembro de 1946 e empatou com o Ferroviário FC em 2 a 2 no Estádio Getúlio Vargas em Fortaleza e jogou no dia 01 de janeiro de 1947 novamente diante do Ferroviário e venceu por 4 a 0.
Essas partidas aconteceram quando o time foi aclamado como o “Campeão do Norte”. O Peixe realizou em território brasileiro, a sua mais longa excursão que se possa imaginar. Foi no período de 27 de novembro de 1946 a 07 de fevereiro de 1947, no qual a delegação santista esteve viajando pelo Norte/Nordeste brasileiro.
Foi esta a primeira vez em que o clube viajou de avião saindo de São Paulo indo para Recife a bordo da Transcontinental, retornando também de via área de Belém a São Paulo pela Aerovias Brasil.
Essa longa excursão foi autorizada pelo presidente Athié Jorge Coury que incumbiu a Acácio de Paula Leite Sampaio, vice-presidente de Administração e Patrimônio como chefe da delegação e como seu técnico o saudoso Abel Picabéa.
O time praiano jogou em cinco estados: Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão e Pará jogando 15 partidas vencendo 12 e empatando 03 marcando 52 e sofrendo 17 gols. Participaram da viagem os seguintes jogadores: Artigas, Expedito, Nenê, Dacunto, Castanheira, Pirombá, Canhoto, Caxambu, Adolfrises, Rui, Dinho, Alfredo, Ayala, Zeferino, Maracaí, Antoninho, Leonaldo e os goleiros Osny e Zezinho.
Essa longa e exaustiva viagem aos estados do Norte/Nordeste motivou o brilhante jornalista De Vaney a publicar a Revista do Santos Football Club da qual extraímos o texto abaixo, que relata a chegada da delegação a cidade de Santos:
“Foi um delírio, quando a multidão sentiu que os componentes da embaixada já de regresso, iam se aproximando.
Atroaram foguetes. Ribombaram morteiros. A frente, explodindo com fragor os seus motores, vinham os motociclistas do Santos Moto Clube, capitaneado por Luiz Bezzi, campeão brasileiro.
Desde o “Cruzeiro” no além Cubatão, o ônibus que conduzia os gloriosos caravanistas vinha escoltado por muitas dezenas de automóveis. E a entrada da cidade o povo formou alas para que entre alas passasse a invicta comitiva.
A medida que a delegação – em cuja esteira – mais e mais se avolumava o número de automóveis, motociclistas e bicicletas, – ia se aproximando, mais aumentava a multidão que a caravana tinha que atravessar.
Em frente ao “Diário” deteve-se a comitiva para saudá-lo. E para o reinício da marcha, foi necessário romper com energia a massa popular. Seguiu-se a visita ao “Termômetro Esportivo”.
A praça Rui Barbosa, a rua João Pessoa, a rua Martim Afonso, faziam lembrar as noites de Carnaval. A delegação parou defronte a “A Tribuna”, para homenageá-la. Retomou a caminhada, desta feita rumo à sede. Então, o delírio atingiu o auge.
Tombaram confetes numa chuva colorida. Os aplausos compuseram a música do entusiasmo. E foi nos braços da multidão, que os da embaixada da vitória deram entrada na sede do grêmio que tanto tinham sabido honrar.
Todo o acesso das duas escadarias foi feito em meio daquela multidão que não se cansava de aplaudir e de vivar os heróis da inesquecível jornada, sob cujas cabeças caiam pétalas de rosas, símbolos da imperecível admiração do público, da cidade, dos afeiçoados do Santos F.C., aos que formaram a brilhante delegação.
A recepção que foi tributada aos magníficos representantes do Santos F.C., só poderia ter sido de fato, o que foi – uma apoteose. Uma apoteose digna do final de uma campanha, que até hoje nem um clube brasileiro conseguira realizar”.
Guilherme Guarche – Coordenador do Centro de Memória e Estatística