Mauro Ramos de Oliveira, o zagueiro laureado até pelo sobrenome

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Pequenos ramos de oliveira entrelaçados formavam a coroa que adornava a fronte dos campeões olímpicos gregos. Nenhum sobrenome seria mais apropriado para o maior zagueiro-central do futebol brasileiro.
Nascido em Poços de Caldas, Minas Gerais, em 30 de agosto de 1930, Mauro Ramos de Oliveira jogou no Santos de 1960 a 1967, período em que ganhou 17 títulos oficiais, mais de dois por ano, e deixou a imagem de um zagueiro que se aproximava da perfeição.
O domínio da bola, a cabeçada, o desarme limpo, a saída de jogo segura, a liderança do sistema defensivo santista, Mauro tinha tudo isso e por esses motivos era o capitão do time.
Sua técnica requintada, o porte atlético de 1,81 e 75 quilos e a elegância ao se vestir lhe deram o apelido de Martha Rocha, em alusão à primeira miss Brasil, mas quando precisava, como na final do Mundial Interclubes de 1963, contra o Milan, Mauro não se deixava intimidar.
Em 1962, em um intervalo inferior a quatro meses ele ergueu dois troféus de campeão mundial – um pela Seleção Brasileira, outro pelo Santos. No mesmo ano, pelo esquadrão de Vila Belmiro, levantou ainda as taças de campeão paulista, brasileiro e sul-americano (Copa Libertadores). Nenhum outro capitão ganhou tantos títulos em tão pouco tempo.
Canta-se em prosa e verso, com todo a justiça, o ataque formado por Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, mas muitos se esquecem de que aquele time lendário também tinha uma defesa espetacular, com Gylmar, Lima, Mauro, Calvet e Dalmo.
Aos 29 anos, 5 milhões!
Depois de iniciar carreira em sua cidade natal, onde defendeu equipes como o Cascudinho, Caxias, RAF e a Associação Atlética Caldense, em 1947 Mauro também atuou no Vargem Grande do Sul e no Sanjoanense de São João da Boa Vista, e em 1948 foi contratado pelo São Paulo.
No Morumbi ganhou quatro títulos paulistas, mas em 1960, após operar os meniscos, sentiu que o técnico Vicente Feola não confiava mais no seu futebol e aceitou a transferência para o Santos, que desembolsou cinco milhões de cruzeiros, uma pequena fortuna, para tê-lo em seu elenco.
Sua estreia no Alvinegro Praiano ocorreu em 27 de março de 1960, no empate sem gols diante do Palmeiras, no Pacaembu, pelo Torneio Rio-São Paulo. Naquele domingo o técnico Lula escalou o Santos com Lalá, Getúlio, Mauro e Zé Carlos; Formiga e Zito; Dorval, Mario, Ney, Coutinho (depois Tite) e Pepe.
Alguns dias depois estreou o quarto-zagueiro Calvet, vindo do Grêmio, e Mauro e ele formaram a dupla de zaga mais afinada e bem sucedida do futebol brasileiro. Mauro disputou 354 partidas com a camisa do Santos, marcando um gol. Além de bicampeão da Libertadores e Mundial em 1962/63, ele é um dos raros pentacampeões brasileiros legítimos, pois conquistou o título, consecutivamente, em 1961, 62, 63, 64 e 65.
Depois do Santos, Mauro defendeu o Toluca, do México, entre 1967 e 1968. Em seguida iniciou carreira de técnico no Deportivo Oro, também mexicano. Voltou ao Santos para substituir o técnico Antonio Fernandes, o Antoninho. Orientou o time em 78 partidas em 1971 e 1972, obtendo 39 vitórias, 24 empates e 15 derrotas.
Deixou o futebol após treinar o Club Jalisco, do México, de fevereiro de 1973 a março de 1974. Voltou para a vida pacata de sua Poços de Caldas, onde passou a se dedicar ao comércio. Em uma de suas últimas entrevistas, para o livro Time dos Sonhos (Editora Códex, 2003), falou sobre a experiência de jogar naquele Santos:
Jogar no Santos representou para mim o maior prêmio que um atleta poderia receber em sua carreira. Agradeço a Deus por ter jogado naquele time.
Mauro Ramos de Oliveira, o zagueiro que era laureado até pelo seu sobrenome, faleceu em 18 de setembro de 2002, aos 72 anos, em sua Poços de Caldas, vítima de câncer no estômago.

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