Manoel Maria completa 74 anos

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Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória 

Em 29 de fevereiro de 1948, domingo de um ano bissexto, vinha ao mundo, em Belém do Pará, um menino de nome Manoel Maria Evangelista Barbosa dos Santos. Seus pais, David Natanael Barbosa dos Santos e dona Olgarina Evangelista dos Santos, residiam em Santarém, mas decidiram ir para a capital do Estado, onde o menino nasceu.

A infância de Manoel, ou Mané, foi vivida na cidade de Parintins, no Amazonas. Antes de completar 11 anos ele voltou para Belém e foi lá na capital que iniciou sua trajetória no futebol. De 1963 a 1965 jogou na equipe juvenil União Esporte. Depois, tentou seguir carreira no Remo, mas as categorias de base não eram valorizadas no clube azulino e ele voltou a morar com seus pais em Santarém.

Nessa cidade, banhada pelo rio Tapajós, destacou-se jogando na ponta-direita da equipe do São Raimundo, despertando o interesse dos clubes de Belém. Aceitou jogar na Tuna Luso Comercial, que depois passaria a se chamar Tuna Luso Brasileira. O Flamengo tentaria contratá-lo, mas o presidente do Tuna, torcedor do Fluminense, negou a transação.

Chegou ao Tuna no início de fevereiro de 1967 e já em março de 1968 estreou na Seleção Brasileira Olímpica, depois de ter sua convocação recomendada pelo presidente da Confederação Brasileira de Desportos, João Havelange.

A boa performance no Pré-Olímpico rendeu sua ida ao Santos. O Alvinegro procurava um substituto para o ponta Dorval, que deixou o time em 1967. O passe de “Mané Maria” custou 80 mil cruzeiros novos. O jovem paraense tinha 20 anos de idade e muitos sonhos a serem concretizados quando chegou à Vila Belmiro.

Sua estreia na equipe principal ocorreu na Suíça, em 15 de junho de 1968, um sábado, durante uma excursão à Europa. O time perdeu por 5 a 4 para o FC Zurich e ele entrou no lugar do ponta-direita Amauri. Nesse confronto amistoso o técnico Antoninho escalou o Santos com Gylmar, Turcão, Oberdan, Ramos Delgado e Geraldino (Elizeu); Clodoaldo e Lima; Amauri (Manoel Maria), Toninho Guerreiro, Pelé e Edu. Os gols santistas foram marcados por Toninho Guerreiro (2), Pelé e Pepe.

Então, a cada ano Mané Maria passou a ter ao menos um título para comemorar. Em 1968 foi campeão brasileiro (Taça de Prata), campeão da Recopa Sul-americana e do Torneio da Amazônia. Em 1969 foi campeão paulista. Em 1970 ganhou a Taça Cidade de São Paulo e o Torneio Hexagonal do Chile, e em 1973 foi novamente campeão paulista.

Seu futebol rápido e objetivo, com dribles insinuantes, o incluíram na lista dos 40 pré-convocados para a Copa do Mundo do México, em 1970. Sua convocação era dada como certa pela imprensa. No entanto, o técnico Zagallo preferiu chamar mais um goleiro para o lugar do ponta-direita Rogério, do Botafogo, que estava machucado. Era o fim de um sonho para o jovem ponta-direita paraense.

O grave acidente e a volta

No dia 8 de outubro de 1970, uma quinta-feira à tarde, o craque do Peixe ia da casa da noiva para o quartel onde servia o Exército, quando o carro que dirigia derrapou nos trilhos molhados da Avenida Presidente Wilson e capotou até bater em um poste e uma caminhonete. O ponta, de 22 anos, foi internado na sala Torres Homem da UTI da Santa Casa de Santos, com suspeita de fratura no crânio.

Seu estado era gravíssimo. Mané permaneceu inconsciente por 11 dias. Em duas semanas, porém, já estava fora de perigo, mas com uma recuperação lenta, sem previsão de retorno ao futebol. Sua noiva, Léa, hoje sua dedicada companheira, esteve ao seu lado dia e noite, enquanto ele esteve internado.

Sua volta aos gramados ocorreu no ano seguinte, mais precisamente em 25 de agosto de 1971, uma quarta-feira, em partida amistosa contra o Boca Juniors, em Caracas, vencida pelo Santos por 3 a 0. Nenê, Pelé e Laírton marcaram os tentos praianos. Nessa partida o Santos foi escalado pelo técnico Mauro Ramos de Oliveira com Joel Mendes, Lima, Paulo, Oberdan e Rildo; Léo Oliveira (Orlando) e Nenê (Fito); Davi (Douglas), Laírton, Pelé (Manoel Maria) e Edu.

Sem conseguir repetir o futebol eletrizante do período anterior ao grave acidente, o craque paraense recebeu passe livre do Santos em julho de 1973. Sua última apresentação com a camisa santista ocorreu em 20 de maio de 1973, um domingo, na Vila Belmiro, na goleada sobre a Ponte Preta por 5 a 1, pelo Campeonato Paulista, resultado que deu ao Alvinegro o título do primeiro turno do campeonato.

A Portuguesa de Desportos venceu o segundo turno e o jogo decisivo entre os campeões de cada turno terminou empatado sem gols, levando a decisão aos pênaltis que, por sua vez, se tornaram inconclusivos devido a um erro na contagem do árbitro Armando Marques. Assim, os dois times foram declarados campeões paulistas de 1973, sendo esse o último título de Manoel Maria pelo Santos.

A partir de 1973 Mané iniciou uma autêntica peregrinação por várias equipes, do Brasil e do Exterior: Portuguesa Santista/SP e Racing/ARG em 1973; Paysandu/PA e Colorado/PR, em 1974 e New York Cosmos, em 1975 – pelo qual atuou ao lado dos ex-jogadores santistas Nelsi e Pitico e também do Rei Pelé.

Em 1976 o ponta retornaria à Vila Belmiro, disputando mais 11 partidas com a camisa do clube pelo qual jogou, ao todo, 174 partidas e marcou 34 gols. Sua última apresentação foi na vitória de 2 a 1 sobre o XV de Jaú, em um amistoso jogado no campo do time do Interior.

O técnico Zé Duarte formou a equipe com Wilson Quiqueto, Tuca, Vicente, Bianchi e Fernando; Carlos Roberto e Aílton Lira; Manoel Maria (Claudinho), Tata (Babá), Toinzinho e Edu. Os gols santistas foram marcados por Toinzinho e Tuca.

Antes de encerrar a carreira, Manoel Maria defendeu ainda o Noroeste de Bauru e o Corinthians de Presidente Prudente, este último em 1977. A partir daí, abriu uma corretora de imóveis com seu amigo e conterrâneo Paulo Robson, ex lateral-esquerdo do Santos.

Manoel Maria também foi técnico das equipes de base do Alvinegro Praiano e orientou os jovens Robinho e Diego no início de suas carreiras. Prestou serviços como técnico do Litoral FC, um clube amador do bairro da Aparecida, em Santos, que tinha como um dos donos o Rei Pelé, com o qual mantém uma boa amizade até hoje.

No Litoral, com o seu filho, Aarão, e com Paulo Robson, prosseguiu na busca por jovens talentos. Em 2005 cedeu vários jogadores para o Jabaquara, na época treinado por Coutinho, o ex-parceiro do Rei. Em 2010 foi o gestor de uma parceria entre o Litoral e o Jabaquara, e revelou, entre outros, o atacante Geuvânio, que depois foi para o Santos.

Nessa década, trabalhou na Secretaria Municipal de Esportes de Santos, como treinador das escolinhas mantidas pela Secretaria. “Mamá”, como é chamado pelos ex-jogadores, se considera um observador de jovens promessas.

Sempre que pode, viaja ao Norte para rever os familiares e amigos e saborear as iguarias da cozinha paraense, como o pato no tucupi, a maniçoba e o tacacá.

Assim como muitos outros craques do Peixe que adotaram a cidade de Santos para a viver, o eterno Mané Maria, viúvo de dona Léa, mora no tranquilo bairro da Pompeia, nas proximidades da orla praiana. Ele é pai de Aarão, André e Felipe, e avô de David, Breno, Henrique, Isabela e Manuela.

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