Manga, um dos melhores goleiros do Santos

Guilherme Guarche, do Centro de Memória

Agenor Gomes, apelidado de Manga, nasceu em um domingo, 26 de maio de 1929 e foi o goleiro que mais vezes vestiu a camisa nº 1 do Santos em sua centenária história. A cidade de Serra, na região metropolitana de Espírito Santo, foi o berço natal do goleiro santista.

Além do fenomenal Manga, o clube praiano já teve em sua defesa debaixo das traves, outros arqueiros afrodescendentes que os torcedores não esquecem como Veludo, Barbosinha, Aguinaldo, Aranha e Edinho.

Com 401 partidas disputadas no período de 1951 a 1959, ele é o goleiro recordista de participações em jogos do Alvinegro Praiano, seguido por Fábio Costa (345), Laércio (337) e Gylmar (331).

Manga, no início da carreira, curiosamente jogava como centroavante nas categorias de base do Caxias Esporte Clube, time de sua terra natal. No campeonato local foi o artilheiro da equipe, mas sofreu grave contusão e ficou afastado por três meses dos gramados.

Quando voltou ao time perdeu a posição. Quis o destino, porém, que o goleiro titular não comparecesse em um dos treinamentos, e que o técnico decidiu improvisar Manga no gol por ter uma boa estatura. “É pegar ou largar”, disse o técnico, e a partir dali Manga se aprimorou na posição a ponto de se tornar um dos melhores do país.

Origem do apelido

Foi um colega de infância, apelidado de “Macumba”, seu companheiro no time do Caxias, que começou a chamá-lo de Manga por entender que ele tinha a cabeça no formato desta suculenta fruta vinda da Ásia.

No final do ano de 1949, aos 20 anos, foi levado para testes no quadro de Aspirantes do Flamengo. No entanto, na Gávea, enfrentou forte concorrência e acabou emprestado para o Bonsucesso. No clube rubro-anil fez prevalecer sua categoria e personalidade, já que não permanecia estático dentro da área, comportando-se como se fosse um líbero.

No Santos, bi paulista em 1955/56

O renomado técnico Aymoré Moreira, que em sua juventude atuou como goleiro, nasceu em Miracema, no Rio de Janeiro, em 24 de abril de 1912, exatos 10 dias após a fundação do Santos.

Aymoré, que depois seria treinador na campanha vitoriosa da Seleção Brasileira no Mundial no Chile, em 1962, trabalhou no comando técnico do Alvinegro Praiano no período de 1951/52, dirigindo o clube em 59 oportunidades, tendo vencido 29, empatado 12 e perdido 18 partidas.

Foi ele quem indicou Manga para a diretoria contratar e o goleiro acabou deixando o futebol carioca e veio para o Alvinegro Praiano em 1951, fazendo sua primeira apresentação no arco santista ao entrar no lugar de Leonídio que estava lesionado.

Sua estreia ocorreu no dia 30 de setembro de 1951, um domingo, na Vila Belmiro, em partida válida pelo Campeonato Paulista. O Santos perdeu para a Portuguesa de Desportos, por 2 a 0, e Aymoré Moreira mandou a campo um time formado Manga, Hélvio e Sarno; Nenê, Olavo e Pascoal; Tite, Antoninho, Odair, Nando e Brandãozinho.

Devido à sua eficiência e ao seu comportamento simples, humilde e discreto, Manga angariou muitas amizades no elenco do clube praiano e paulatinamente ganhou a confiança dos torcedores. Recebeu a alcunha de “Espantalho Santista”, pois os adversários viam nele um defensor ferrenho, que os espantava e afugentava da grande área.

No começo de 1954 foi emprestado ao Bahia, mesmo tendo grande prestígio na Vila Belmiro. Na volta, meses depois, recuperou sua condição de titular. Na sua ausência quem o substituiu foi Reginaldo da Costa, o Barbosinha, que ganhou esse apelido pela semelhança com outro famoso goleiro, o Barbosa, que defendeu a Seleção Brasileira durante o Campeonato Mundial disputado no Brasil, em 1950.

Na volta à Vila Belmiro, Manga reencontrou seu grande amigo, Urubatão Calvo Nunes, com quem tinha jogado no Bonsucesso no começo da década. Na campanha do Campeonato Paulista de 1955, vencido pelo Peixe após amargar 20 anos na fila, Manga foi um dos expoentes da equipe comandada pelo técnico Luiz Alonso Perez, o Lula.

No concorrido campeonato, o Alvinegro Praiano disputou 26 partidas, e Manga esteve presente em 19 delas. Contundido, ficou fora de quatro partidas na reta final, mas voltou ao time na última rodada, que decidia a competição e que deu ao Santos o seu tão almejado segundo título estadual.

No jogo derradeiro, em 15 de janeiro de 1956, um domingo quente de verão em Santos, o Santos levantou a taça vencendo o Taubaté por 2 a 1, com gols de Álvaro e Pepe, atuando com Manga, Hélvio e Feijó; Ramiro, Formiga e Urubatão; Tite, Álvaro, Del Vecchio, Negri e Pepe. Começava a nascer ali um time praticamente imbatível, que nos anos seguintes se tornaria a melhor equipe de futebol todos os tempos.

Com a camisa do Santos, Manga conquistou os paulistas de 1955, 1956 e 1958. Em 1956 ganhou o Torneio Internacional da Federação Paulista de Futebol e a Taça dos Invictos; em 1959 ganhou o Torneio Mário Echandi e o Pentagonal do México e em 1952 o Torneio Início da FPF.

A despedida de um campeão

Com a chegada dos guardiães Lalá e Laércio, a concorrência no time se tornou acirrada. Aos 30 anos e o recorde ainda vigente de 401 jogos como goleiro do Santos, Manga sentiu que era a hora de buscar novos rumos em sua vida.

Sua partida de despedida ocorreu em 16 de dezembro de 1959, uma quarta-feira, na Vila Belmiro, pelo Campeonato Paulista, quando o Santos empatou com o Botafogo de Ribeirão Preto por 2 a 2, gols de Pepe e Sormani. Naquele dia o técnico Lula escalou a equipe com Manga, Pavão e Mourão; Feijó, Formiga e Zito; Dorval, Jair Rosa Pinto, Aguinaldo, Sormani e Pepe.

O professor Agenor Gomes

Depois que abandonou o futebol, passou a exercer, com sucesso, a função de técnico. Seu melhor momento nessa nova etapa foi uma histórica conquista em 1964, quando comandou a Portuguesa Santista de volta à divisão principal do futebol paulista, obtida com uma célebre vitória de 1 a 0 sobre a Ponte Preta, no estádio Moisés Lucarelli, em Campinas, com gol de Samarone.

Treinou também as equipes da Ferroviária (campeã da Segunda Divisão, em 1966), São Carlos Clube, Santo André, Grêmio São-carlense, Rio Branco e Grêmio Maringá, ambas do Paraná, Araçatuba e novamente o Grêmio São-carlense, em 1988. No ano em que trabalhou pelo Santo André, 1967, seu nome entrou para a história do Ramalhão por ter sido o primeiro ano do clube.

Na cidade de São Carlos (SP) é considerado o melhor técnico de futebol que já treinou o time, pois participou da subida do São Carlos para a Segunda Divisão. Voltou ao Alvinegro mais famoso do mudo no começo da década de 1980, para treinar as equipes de base.

Sua derradeira ocupação profissional foi como arrendatário de uma cantina que fornecia refeições e lanches aos trabalhadores portuários, no cais do porto de Santos.

O adeus do guerreiro

Aos 74 anos, de insuficiência renal crônica e edema pulmonar, Manga morreu na madrugada da sexta-feira do Natal de 2003. Descansava para sempre o grande guerreiro capixaba que aprendera a amar como poucos o clube da Vila Belmiro.

Sua paixão era verdadeira, tanto que um dia disse confidenciou ao filho: “Olha, Marquinhos, quando abrirem o meu coração, com certeza vão encontrar uma baleia”.

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