Mago, Messias, G10 ou simplesmente Giovanni 

[:pb]Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória 

Numa sexta-feira, 4 de fevereiro de 1972, nasceu Giovanni Silva de Oliveira, filho de Eládio Pinto de Oliveira e Doracy Silva de Oliveira. A família morava em Soure, na Ilha de Marajó, mas por recomendação médica sua mãe dona Doracy foi dar à luz em Belém a capital do Estado.

Dos 15 aos 18 anos Giovanni morou em Abaetetuba, cidade paraense a 125 quilômetros de Belém, para onde seu pai foi transferido pelo Departamento de Estradas de Rodagem. Lá ele passou a jogar em pequenos clubes, como o Jaderlândia, Tok Disco e Palmeiras.

Aos 18 anos, já morando em Belém, começou a treinar nas divisões de base da equipe da Tuna Luso Brasileira e nos dois anos em que defendeu o clube marcou 50 gols e ganhou a Chuteira de Ouro da Federação Paraense de Futebol.

Em 1991 participou, sem muito destaque, da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Em 1992 jogou nas equipes do Remo e do Paysandu, sendo depois emprestado ao Grêmio São-Carlense, no Interior Paulista. O Palmeiras o convidou para fazer um teste, mas estava resfriado e foi esquecido em um hotel na capital paulista. Chateado, decidiu voltar a Belém, o que fez o alviverde desistir de contratá-lo.

Nesse momento o Santos conseguiu o seu empréstimo, depois do presidente santista Samir Abdul Hack assisti-lo jogando pela televisão e ter gostado do seu futebol cadenciado, habilidoso, técnico e com uma rara visão de jogo.

Fez sua estreia em um jogo oficial do Santos em 25 de setembro de 1994, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro, na goleada santista sobre o Clube do Remo por 4 a 1. O técnico do Alvinegro, que durante a partida o colocou no lugar de Ranielli, era Serginho Chulapa.

Em 12 de março de 1995, pelo Campeonato Paulista, ele marcou um dos gols mais bonitos no estádio Brinco de Ouro, em Campinas, na vitória do Santos sobre o Guarani por 3 a 1. Dos gols santistas, dois foram de Giovanni, mas o segundo deles, aos 40 minutos do segundo tempo, foi um golaço que levantou o público.

Começou no meio de campo e prosseguiu em uma arrancada rápida em direção ao gol adversário, ignorando os defensores adversários, que, atônitos, viram o craque passar rápido por eles e atirar na saída do goleiro Hiran.

Em agosto de 1995 ele já era considerado o grande craque do time santista e se tornara um ídolo tão festejado a ponto de alguns estudantes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo criarem uma torcida em sua homenagem denominada “Testemunhas de Giovanni”.

Em jogo de muitas emoções o craque vira o “Messias”

Uma das mais lembradas partidas do Santos aconteceu em 10 de dezembro de 1995, na semifinal do Campeonato Brasileiro. Naquele domingo, o time capitaneado por Alexandre Gallo venceu o Fluminense, no Pacaembu, por 5 a 2, numa jornada cheia de lances surreais.

Mesmo desfalcado dos titulares Jamelli e Vagner, mas com Giovanni jogando sua melhor partida com a camisa do Santos, o time – que havia sido derrotado no Maracanã por 4 a 1 – conseguiu a façanha de superar o Fluminense pela diferença de três gols, classificando-se para a final do Brasileiro, o que não ocorria desde 1983.

A vitória por 5 a 2 classificou o Santos para decidir o título com o Botafogo, que havia eliminado o Cruzeiro na outra semifinal. Estava encerrada a partida que para a maioria dos torcedores alvinegros foi a mais emocionante da história do Santos. A revista Placar deu a Giovanni a Bola de Ouro do ano.

A exibição contra o Fluminense consolida o Messias como o ídolo maior da torcida santista, que o coloca no mesmo patamar de idolatria dos grandes craques do passado. Em 1996 ele foi artilheiro do Campeonato Paulista, com 24 gols. E foi convocado seis vezes para a Seleção Brasileira. Seu prestígio rompe fronteiras. O Barcelona se interessa pelo seu futebol e é para a Espanha que ele vai desfilar toda a sua categoria.

Sua última partida com a camisa do Alvinegro mais famoso do mundo é um amistoso jogado em 20 de junho de 1996, que terminou com a vitória do Peixe sobre o Real Madrid por 2 a 0. Apenas 2.120 espectadores compareceram à Vila Belmiro para a despedida do Messias contra um dos times mais famosos do planeta.

A Caminho da Europa

O jovem tímido, aos 24 anos, tem o seu passe vendido por 10 milhões de dólares, sendo a quinta contratação mais cara do mundo à época.

No time da Catalunha, formando na equipe ao lado dos compatriotas Ronaldo e Rivaldo, conquistou o bicampeonato da Copa do Rei e do Campeonato Espanhol e também a Super Copa da Espanha em 1996, e a Supercopa Europeia e a Recopa Europeia em 1997.

Convocado pelo técnico Zagallo para disputar a Copa do Mundo da França, em 1998, começou como titular, participando da vitória sobre a Escócia, por 2 a 1. Ainda jogando no Barcelona enfrentou o Santos no estádio Camp Nou, em partida pelo Troféu Juan Gamper que terminou empatada em 2 a 2. Marcou 41 gols em sua passagem pelo time catalão.

Em 1999 se transferiu para o Olympiacos, o time mais popular da Grécia. Lá atingiu o sucesso absoluto. Foram seis temporadas no futebol grego e cinco títulos nacionais. Esses anos vitoriosos fizeram com que fosse considerado um dos maiores jogadores da Grécia, ganhando o apelido de Mago.

A volta ao Santos

A diretoria do Peixe conseguiu repatriar o seu grande ídolo em 2005, e o craque mostrou que ainda sabia muito. Sua reestreia no Peixe aconteceu em 12 de junho, em partida do Campeonato Brasileiro contra o Fluminense, na Vila Belmiro. Naquela partida o técnico Gallo escalou o Santos com Mauro, Flávio, Halisson, Ávalos e Wendell (Elton); Fabinho (Luciano Henrique), Bóvio, Zé Elias e Giovanni; Deivid e Fabiano Vieira (Danilo).

Ainda em 2005 Giovanni trouxe de Belém o jovem Paulo Henrique para treinar nas categorias de base do Santos. O menino, apelidado Ganso, se tornaria um grande craque e, ao lado de Neymar, comandaria o Santos em quatro títulos em 2010 e 2011.

Em 2006, o “Messias” jogou apenas a primeira partida do Campeonato Paulista, um empate com o São Bento, em Sorocaba, por 1 a 1. Na sequência, foi jogar novamente no exterior, agora na equipe do Al Hilal, da Arábia Saudita.

Mas desta feita não teve o mesmo sucesso anterior e ficou pouco tempo por lá. Depois se transferiu para o Ethnikos Piraeus, da Grécia, onde também não reeditou as boas atuações que tivera no Olympiacos e saiu antes mesmo do término de seu contrato.

Novamente no Brasil

Já com 35 anos, o veterano craque voltou ao Brasil no início de 2007, para jogar no Sport Club do Recife, por indicação do amigo e técnico Gallo, mas acabou dispensado duas semanas depois.

O tempo foi passando e ele ficou um ano e meio sem atuar em clube nenhum, até ir jogar pelo Mogi Morim, em 2008, contratado pelo presidente do clube e seu amigo Rivaldo, companheiro do Barcelona e da Seleção Brasileira. Sua presença foi importante, pois ao menos evitou que o Mogi fosse rebaixado para a série A-2.

Ficou sem jogar uma única partida mais ou menos por nove meses, e então, no início de 2010, acertou seu retorno ao Santos, que promoveu uma grande festa para receber seu ídolo.

Giovani abandonou o Santos, e o futebol, entristecido por não ter uma despedida como ele e os torcedores do Santos queriam. Mas não há dúvida de que deixou seu nome na história do clube, pelo qual jogou em três períodos – 1994 a 1996, 2005 e 2006, e 2010 – fez 141 partidas e marcou 73 gols.

O mais velho a jogar pelo clube

Em 8 de outubro de 2016 Giovanni participou do jogo comemorativo dos 100 anos de fundação da Vila Belmiro e também da despedida do guerreiro Léo, um empate de 1 a 1 com o Benfica. Por ter atuado nesse jogo festivo, o Messias agora é considerado o jogador com mais idade a jogar pelo Santos, com 44 anos.

Atualmente, o G10 – outra das suas designações – voltou a dividir a residência entre sua terra natal, Belém, e Santos. Lá na capital do Pará, no bairro de Souza, ele é o proprietário de uma clínica de fisioterapia e do Colégio Acrópole.

Títulos de Giovanni no Santos

Torneio de Verão – 1996Campeonato Paulista – 2006Campeonato Paulista – 2010Copa do Brasil – 2010

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