“Lama, lama e lama”: os desafios de Zacarias, “herói discreto” do Peixe até as oitavas da Copinha

O Santos FC garantiu sua classificação às oitavas de final da Copa São Paulo de Futebol Júnior literalmente sujando seu uniforme. Além de vencer o Figueirense por 3 a 1, neste sábado (13), os Meninos da Vila tiveram que superar a grande quantidade de lama no Estádio Dr. Jorge Ismael de Biasi devido a mais uma das fortes chuvas que têm caído na cidade de Novo Horizonte. Após o apito final, comemoração e descanso para os atletas. Já para Zacarias, roupeiro da equipe, trabalho dobrado.
José Zacarias dos Santos começa seu trabalho muito antes de a bola rolar. Nos dias de jogos, sua tarefa fica ainda mais difícil e toda a logística tem que ser precisa. Ao término da partida, quando os atletas enfim vão para o chuveiro, o roupeiro tem seu momento de maior carga de trabalho.
“No dia do jogo vou umas duas horas antes. Deixo o material todo pronto para quando eles (jogadores) chegarem já esteja tudo certo. Quando acaba a partida, tenho que recolher todo material. As vezes é difícil, principalmente agora, nessa lama que está. São muitas coisas para recolher. Depois tem que lavar as chuteiras, por para secar. Quando acabo o trabalho todo já é tarde”, explicou.

Abraçados em disputa de pênaltis, Kaio Jorge e Bruno Pelegrini, que entraram nos minutos finais da partida contra o Mirassol, se destacam em meio aos atletas que atuaram toda a partida (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/SantosFC)

Das cinco partidas que o Peixe fez na cidade de Novo Horizonte, três foram embaixo de forte chuva. Somente na vitória por 3 a 0 sobre o Aliança AFC-CE, na primeira fase, não choveu no dia da partida. No jogo deste sábado (13), contra o Figueirense, as nuvens deram uma trégua na hora do duelo, mas, horas antes, desabaram na quente e pacata cidade do interior.
“Desde quando chegamos sempre choveu. Sempre tem lama, lama e lama. Não pegamos nenhum dia sem lama no campo. Isso dá mais trabalho ainda. Fica mais difícil de tirar. Tanto na chuteira quanto no material da lavanderia, as meninas (funcionárias da lavanderia) reclamam que só vem lama. Para lavar é maior briga. Tem que lavar várias vezes para sair essa lama do uniforme de jogo e de treino”, disse Zacarias, que após as partidas e treinos entrega o material para a lavanderia do hotel que o Peixe está hospedado.
“Entrego o material para as meninas no hotel, mas cada vez está mais sujo ainda. Igual hoje (sábado), estava a maior lama. O jogo contra o Figueirense foi o pior. Choveu e parou. Quando seca a lama ela gruda mais ainda no material”, ressaltou, Zacarias, que conta com a empatia do elenco santista.
Guilherme Nunes tenta se livrar da marcação catarinense no gramado pesado de Novo Horizonte (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/SantosFC)

“O que mais prejudica a gente é que não dá para jogar direito. A bola não rolava. Com a lama o gramado fica mais pesado. O campo nos prejudicou muito, não dava pra jogar no meio. Quanto ao uniforme, coitado do Zaca. Deve dar um trabalho para limpar”, brinca o volante Guilherme Nunes.
Após todo este ritual, Zacarias ainda vai para o quarto onde guarda o material do clube e coloca as chuteiras para secar. Segundo o roupeiro, em alguns dias ele passa mais tempo na rouparia improvisada do que em seu próprio quarto.
“Acho que passo mais tempo aqui do que no outro quarto. Pego todo o material e trago para cá, depois ponho no sol. Se chove, tem que tirar tudo e esperar o sol sair de novo para por para secar”, contou o membro da comissão santista, enquanto colocava as chuteiras para secar sob o ventilador do quarto.
Apesar da árdua missão diária, Zacarias não reclama de sua importante responsabilidade. Sergipano de Pacatuba, o roupeiro se mudou para Santos em 1995 para procurar um emprego. Após trabalhar dois anos como balconista em um bar, Zaca, como é chamado carinhosamente pelos atletas, conseguiu um emprego no setor de manutenção da Vila Belmiro.
“Entrei no Santos FC dia 13 de janeiro de 1997, há 21 anos. Eu gosto muito do que faço, é o meu trabalho. Eu sou feliz sim”, disse o trabalhador de 44 anos com um olhar que parecia viajar no tempo.
Zacarias trabalha no vestiário santista em mais uma partida da Copinha 2018 (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/SantosFC)

A vitória contra a equipe catarinense foi a última do Peixe em Novo Horizonte. Agora, nas oitavas de final, o Alvinegro Praiano encara o Atlético-PR na cidade de Franca, nesta segunda-feira (15). Pronto para a mudança de sede, Zacarias torce para que a forte chuva não acompanhe a delegação santista.
“Não sei se está lama, só vou descobrir quando chegar lá. Vou torcer para que não chova como choveu aqui e que o campo esteja melhor. Mas está bom, né? Estamos ganhando. Vamos ver se nessa a gente leva o caneco”.
Fotos: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/SantosFC

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