[:pb]
Por Guilherme Guarche, Centro de Memória
Laércio José Milani, veio ao mundo em um domingo, dia 1º de março de 1931, na paulista Indaiatuba, que fica a 90 km da capital e apenas 25 km de Campinas. Filho de Humberto Milani e Clofas Mosca Milani teve sete irmãos e desde menino sonhava em se tornar um goleiro de uma grande equipe profissional.
Laércio começou jogando numa equipe amadora em sua cidade de nome Guanabara FC. E ainda bem jovem aos 15 anos, foi defender as cores do EC Primavera e lá seu desempenho na meta do time atraia muitos torcedores que gostavam de vê-lo atuar.
E foi em um amistoso realizado diante da Portuguesa Santista, que dirigentes do time da lusa praiana viram que o jovem goleiro tinha um futuro promissor pela frente e o levaram para Ulrico Mursa.
Vasco da Gama e Palmeiras, em 1953 mostraram interesse em tê-lo em suas equipes, mas o clube da Baixada Santista segurou ao máximo que pode o seu goleiro.
No entanto, um ano e meio depois, pressionado pelas dívidas, o time da colônia portuguesa cedeu e assim Laércio no mês de agosto de 1954 foi finalmente apresentado aos torcedores do time do Parque Antártica.
O Palmeiras queria tornar forte sua defensiva e ofereceu uma alta soma em dinheiro e também o passe de Laércio pelo eficiente zagueiro santista Francisco Ferreira de Aguiar, o Chico Formiga ao time da Vila Belmiro que aceitou a oferta.
Na Vila Belmiro a confirmação e a consagração no arco santista
Quando chegou ao Santos, em 1957, ele teve que disputar posição com Agenor Gomes, um ídolo da gente santista, o popular Manga, goleiro titular absoluto que trazia no currículo os títulos de goleiro campeão nos anos de 1955 e 1956.
Manga continuaria jogando no título Paulista de 1958, mas o jovem arqueiro de Indaiatuba começaria a se firmar na equipe praiana a partir de 1959.
Nos seis iniciais jogos da primeira excursão do Santos à Europa, em maio de 1959, ele se machucou e perdeu a posição para Carlos Pierin, o Lalá.
Titular da equipe tricampeã paulista em 1960/61/62, ele foi para a reserva com a chegada de Gylmar, e a partir de 1966 ainda teve a concorrência do jovem Cláudio, mas estava sempre preparado para retomar a posição.
O grande tabu mantido
E sua grande atuação na meta do time da Vila Belmiro aconteceu em um domingo, 27 de março de 1966 , em um Pacaembu com 43 603 espectadores em sua grande maioria de torcedores do Corinthians que estavam desesperados por uma vitória do time da capital que amargava na época o famoso “Tabu” já que o time deles não vencia o Santos desde o ano de 1957 e era motivo de gozação por parte dos torcedores do Peixe.
O Santos formou na tarde daquele domingo escalado por Lula com Laércio, Carlos Alberto, Oberdan, Haroldo e Zé Carlos; Zito e Mengálvio; Dorval (Lima), Coutinho, Toninho e Edu (Joel Camargo).
O Peixe teve dois jogadores expulsos na etapa complementar e aos 40 minutos o time adversário teve uma penalidade máxima a seu favor e que caso o gol fosse marcado o time da capital sairia de campo vencedor já que a partida estava empatada até aquele momento. O gaúcho Flávio, encarregado da cobrança, correu pra bola e chutou forte, mas Laércio caiu no canto certo e fez a defesa rebatendo a bola que caiu nos pés do artilheiro Flávio que pressionado, chutou por cima do travessão.
Laércio tornou-se o responsável daquele empate sem gols e manteve o “Tabu” para desespero dos jogadores e dos torcedores do time da capital e por falta de datas, todos o Santos, o Corinthians, o Vasco da Gama e o Botafogo foram declarados campeões do Torneio Rio-São Paulo daquele ano.
Entre os anos de 1957 e 1969 ele vestiu a camisa de goleiro do Santos em 337 jogos, e é o terceiro goleiro que mais vezes defendeu a meta santista ficando atrás apenas de Manga e Fábio Costa.
Títulos conquistados no Santos:
1958 – Campeonato Paulista
1959 – Torneio Rio-São Paulo
1960 – Campeonato Paulista
1961 – Campeonato Paulista e Campeonato Brasileiro
1962 – Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro, Taça Libertadores e Mundial Interclubes
1963 – Campeonato Brasileiro, Taça Libertadores, Mundial Interclubes e Torneio Rio-São Paulo
1964 – Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro e Torneio Rio-São Paulo
1965 – Campeonato Paulista e Campeonato Brasileiro
1966 – Torneio Rio-São Paulo
1967 – Campeonato Paulista
1968 – Campeonato Brasileiro, Recopa Sul-Americana, Recopa Mundial e Campeonato Paulista
1969 – Campeonato Paulista
Após encerrar a carreira Laércio trabalhou no cartório de seu irmão, em sua cidade natal e veio a falecer, vítima de câncer na próstata, no dia 29 de agosto de 1985, aos 54 anos.
O ex-dirigente santista, Adilson Durante, que em 1984 era vice-presidente de Patrimônio do Alvinegro conta uma bonita passagem envolvendo o goleiro Laércio.
“Numa tarde calorosa, eu estava passando no bairro do Gonzaga, e encontrei o nosso querido Laércio sentado em um banquinho, muito cabisbaixo. Eu então perguntei: o que você tem Laércio? Ele respondeu: estou muito magoado com o Santos, eu sou campeão do mundo e o meu nome não consta na placa perto do elevador. Fui ver a placa e procurei o nome mais curto José Macia, coloquei um hífen – e consegui com o saudoso Ângelo Bartoloto colocar o nome dele na placa. Hoje aparece bem mais claro que os outros nomes, porque foi reparado mais de 20 anos depois. Dois dias depois, o também ex-goleiro, Carlos Pierin, o Lalá, levou Laércio para ver a placa e o mesmo chorou copiosamente e disse: Enfim repararam esse erro. Após uma semana Laércio veio a falecer, sem mágoa do SANTOS.”
[:]