Laércio, herói aos 35 anos

Odir Cunha e Guilherme Guarche, do Centro de Memória
O discreto e aplicado Láercio José Milani, nascido em Indaiatuba, São Paulo, em 1º de março de 1931, e falecido em Santos, em 29 de agosto de 1985, aos 54 anos, foi um dos grandes goleiros do Santos Futebol Clube. Chegou à Vila Belmiro em 1957, aos 26 anos, como parte do pagamento do passe de Chico Formiga ao Palmeiras, e jogou até 1969.
Durante 12 anos serviu ao Santos com lealdade. Defendeu a meta do Alvinegro Praiano por 337 vezes, o que o coloca atrás apenas de Manga e Fábio Costa como os goleiros que mais atuaram pelo Santos. Antes, já havia jogado seis anos na Portuguesa Santista e três no Palmeiras.
Reserva ou titular, Laércio estava sempre motivado para vestir a sagrada camisa alvinegra. A história o premiou em 23 de maio de 1959, quando fez parte do primeiro jogo do Santos na Europa, um empate de 3 a 3 com a Seleção B da Bulgária.
Titular da equipe tricampeã paulista em 1960/61/62, ele foi para a reserva com a chegada de Gylmar, e a partir de 1966 ainda teve a concorrência do jovem Cláudio, mas estava sempre preparado para retomar a posição. Tanto, que o seu grande jogo no Santos veio em 27 de março de 1966, quando já tinha 35 anos.
O grande tabu mantido
Vivia-se a época em que o tabu com o Corinthians já tinha se espalhado além do Campeonato Paulista. A verdade é que àquela altura o alvinegro da capital não conseguia mais derrotar o Santos por nenhuma competição. Porém, uma grande oportunidade surgiu para o rival justamente naquele domingo, em que os dois times se enfrentaram pela última rodada do Torneio Rio-São Paulo, diante de 43.603 pessoas, no Pacaembu, e o Santos estava sem Pelé, machucado.
As duas equipes poderiam alcançar o título com uma vitória e por isso o jogo estava bem disputado. Mas, aos 34 minutos, Coutinho deu uma cabeçada em um adversário e foi expulso. Mengálvio reclamou e também foi expulso pelo árbitro Ethel Rodrigues. Com dois jogadores a menos, o Santos se fechou na defesa, mas Zito cometeu pênalti em Garrincha aos 43 minutos e o artilheiro Flávio se preparou para cobrar.
Um gol do adversário e só por um milagre o Santos reagiria. Mas Laércio saltou no canto direito para defender e a partir dali o time todo se motivou, cada jogador correu, lutou e jogou por dois. No final, o empate de 0 a 0, combinado com a vitória, à noite, do Botafogo sobre o Vasco, deixou os quatro alvinegros empatados na primeira colocação e, por falta de datas, todos foram declarados campeões.
Assim, dos seus cinco títulos do Torneio Rio-São Paulo, este de 1966 deve ser creditado, com toda justiça, ao goleiro Laércio, que depois de pegar o pênalti ainda fechou o gol. Sem contar que o grande tabu foi mantido.

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